terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Primeira Última


A minha última noite, o meu último dia de viagem. Amanhã a minha última viagem, o destino em mente a terra de onde parti. A Pandora tinha pouco comparado com o que aqui vai. Sinto-me zonzo, apetece-me chorar, apetece-me rir, apetece-me vomitar um bocado, estou mais nervoso do que quando parti, apetece-me correr para lá agora mesmo, apetece-me pegar na linha que separa Portugal do resto do mundo e atrelar-me a esse todo que conheci na grande parte da minha VIDA. Mas apetece-me ganhar asas leves que me permitam voar e levar comigo esse país que me puxa sem querer.

Tenho os sentimentos de nove meses todos aqui enfiados neste coraçãozito e parece que vou rebentar. Gosto destes sentimentos mas até estou meio indisposto. Estou entusiasmado com um retorno, mas também sonho com largar as roupas do corpo, a mochila das costas e caminhar para sempre. Quero embalar o mundo com o conforto de não perder o amor, e quero acalentar o segundo sem me esquecer do primeiro.

As memórias do que vivi puxam de uma cadeira aqui ao lado e olham para mim com cara de triste. Choram uma nostalgia mais vivaça que brinca no canto com brinquedos de puto, sem saber que é muito mais fácil entreter-se quando criança.

Mas acima de tudo, e apesar de toda esta tormenta de levar com tudo o que sentimos ao mesmo tempo, tenho um sorriso. Não fujo de nada, não me contrario em nada. Quero isto, quero aquilo, e até quero continuar a querer, desde que isso me faça mover a caminho de um sorriso maior. Caminho rapaz, é isso. Caminho e rebento-me agora, tendo os furacões que me agoniavam chegado a um acordo de paz e plantado um jardim na minha alma, que nem pede muita água para florir.

Tudo se passa e tudo se sente, e adoro estar aqui sentado, pronto para deslizar... daqui ali.

cinco do onze de dois mil e onze
One Malasana Hostel, Madrid

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