sábado, 26 de novembro de 2011

A Caminho do Luxemburgo


Segunda-feira, dia dezassete de Outubro, acordei, mais uma vez tarde para a boleia. Já me tinha despedido do Sam, que tinha saído de manhã. Arranjei as cenas, e segui caminho. Meti-me no metro, sem pagar, e saí onde em Potsdam. Tinha de apanhar o 643 ou o 608 para Michendorf Abzweig Wildenbruch. Esperei, esperei, nada. Não aparecia nada naquele quadro. Perdi uma hora assim, até que resolvi ir dar uma volta pelas paragens, apenas para perceber que já tinham passado -N- autocarros que me interessavam. Mas por alguma razão não apareciam no quadro que eu estava a acompanhar. Assim, meti-me no autocarro, e saí passado p’rai três quartos de hora. Quando saí, uma senhora de alargado porte e um carrinho daqueles das compras com rodinhas chamou-me. Disse-me que se eu estava à boleia, estava a ir no sítio errado. Fui com ela, que andava à boleia entre Berlim e a terra da sua mãe à vinte anos. Caminhámos vinte minutos, entrámos por uma porta que devia ser uma saída de emergência ou algo do género da estação de serviço, e metemos mãos à obra. Ela ia para um sítio diferente do meu, por isso era na boa. E arranjou logo boleia com o primeiro carro.
               
- Toma, – disse-me, estendendo-me o seu marcador – vais precisar mais disto do que eu, porque eu já vou com este carro – porreiro. Se bem que não acredito muito em sinais. Toda a gente os usa, mas deve-se contar com os dedos das mãos as boleias que apanhei por causa de um sinal...
               
Interpelei algumas pessoas na estação de serviço, mas não me pareceu grande espingarda aquilo. Assim, fui para a saída que dava para a autoestrada. Estava lá um rapaz que ia para Munique, e um cota que ia para o norte. O rapaz safou-se em meia hora, e eu e o cota ficámos lá um bom pedaço. às tantas fui mijar, e quando voltei o cota já não lá estava. Já tinham passado mais de duas horas, e eu ainda sem sair daquele malfadado sítio, pelo que decidi voltar para a gasolineira, onde podia falar com as pessoas. E lá consegui.
               
A vantagem da boleia na Alemanha, é que um gajo até pode esperar muito, mas depois quando entra num carro vai a voar a duzentos à hora. Cago-me um bocado, para dizer a verdade. O rapaz que me levou era um porreiraço. Era cozinheiro em Bremen e tinha vindo a Berlim para encontrar uma amiga de infância com quem tinha reatado uma relação de amizade (“mas se desse algo mais, se calhar não me importava”, dizia) através da internet. Ia um bocado desiludido porque não tinha passado muito tempo com ela. Tinha ido ver uma peça de teatro onde ela participava, mas como ele, tinham ido também os pais da dama, que lhe roubaram o tempo de convivência ansiada. “Paciência, volto p’rá próxima”.
               
Andámos um bom pedaço, e cheguei a equacionar ir com ele até Bremen e depois arranjar boleia para Hamburgo, onde quem sabe poderia ficar com um amigo do meu pai. Mas ia ser um desvio, preferi seguir.
               
Quando ele me deixou não demorei muito a apanhar boleia de uns polacos. Estes deixaram-me numa estação de serviço perto de Dortmund. Mas já era tardíssimo. Eram p’rai dez e tal da noite. Se conseguisse chegar a Dortmund ia ser p’rai onze da noite ou mais tarde que isso, e não sabia se não seria chunga para o meu anfitrião. Assim, sem saber que seria de mim, decidi seguir, e acabei por apanhar uma boleia com um alemão, ciclista profissional que tinha ficado em centésimo não sei quanto na tour de france, e que me deixou fora de Liege, na Bélgica. Aí percebi logo que estava tramado. Ninguém ia para o Luxemburgo. Estudei a cena, havia ali um canto meio escondido, escrevi qualquer coisa, meti a mochila debaixo do meu sofá com a minha perna enfiada na alça, e dormir até à manhã seguinte.

quarta, dezasseis e trinta e oito, dezasseis de novembro de dois mil e onze
Furadouro, Portugal

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