sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A Compra do Henry, o Bólide

Cheguei a Budapeste todo partido. Tinha feito os meus oito turnos em Birmingham e fui da Comunidade Terapêutica para a estação de autocarro por volta da meia-noite. O melhor vôo que tinha conseguido partia do aeroporto de Stansted às oito e meia da manhã, pelo que tinha de apanhar um autocarro de Birmingham à uma, estar no aeroporto às quatro, e depois anhar até à hora do vôo. Detesto este tipo de vôos, passar noites no aeroporto... e é sempre a mesma merda. Chego lá decidido a não dormir, com medo de não acordar para o avião, aguento-me na boa a ver séries, e p’rai duas horas antes do vôo começo a prepositadamente dormitar, sempre a acordar sobressaltado a cada cinco minutos convencido de que o vôo já partiu. Nunca aconteceu.
           
Entrei no avião meio torto e nem cheguei a ouvir as senhoras a dizerem para usarmos coletes amarelos e não stressar. Nunca as ouço, na verdade... como tenho um amigo que faz, ou já fez, essa parte, sinto-me um bocado mal por isso, mas a verdade é que acho que essas cenas já estão gravadas em mim... e depois há aquele argumento meio fatela de que se um avião cair... caiu. Não me lembro de ver nenhum sobrevivente a dizer “ui pá, por acaso o que me salvou foi ter saído ordeiramente pelas saídas de emergência depois de ter mandado o meu oxigéniozito da máscara que caiu!”.
           
Saí do avião ainda mais torto. “Foda-se, agora tenho de ver como é que vou ter ao caralho do parque automóvel para comprar o carro”, pensei. O Gabor já me estava a sair uma bela peça. Co-organizador do Black Sea Run, o húngaro tinha prometido que ia ter comigo e outra equipa ao parque para nos ajudar a comprar o carro. Éramos as duas únicas equipas, de treze ou catorze, que ainda não tinham carro. E vim a descobrir que a outra já o tinha comprado no dia anterior. Okay, os tugas, os últimos a comprar o carro. Os tugas e o Sam, que se entugueceu para, e ao longo, da viagem.
           
Tinha a morada do parque apontada num papel, que entreguei ao taxista. Doze euros depois, o méne deixou-me num parque que tinha uns dois mil carros. Duas horas de sono nas trombas, um mochilão às costas e o céu a armar-se em esperto. “Não me digas que vai começar a chover”. Tínhamos combinado que, no máximo dos máximos, daríamos quatrocentos euros pelo carro, já com o registo, que custava quase duzentos euros, e assim, munido desta ideia, pus-me a perscrutar a cena. Mil, setecentos, mil e tal, seiscentos, alto! Um clio por quinhentos e noventa! Estava-me a passar com aquela cena. Tínhamos visto carros privados (sem papéis) por cem euros, e o caralho do Gabor tinha-me dito que depois de os registar e tal, que o preço ficava mais ou menos o mesmo. E ali estava eu, a ver carros com aqueles preços terríveis.
           
Continuei a andar, sempre a andar, acho que vi os carros todos, e depois de alguma negociação, o carro mais barato que encontrei foi um carocha por quatrocentos e cinquenta euros. Curti o bicho, mas aquilo era apertado para quatro, quanto mais quatro com quatro malas. Troquei algumas mensagens com o João, ele a chatear-me para continuar a ver, eu frustrado por já ter visto tudo o que havia para ver. Continuei a caminhar até que vi um Suzuki Maruti branco todo giro cujo preço ainda não tinha inquirido. Perto do carro estava um gordo meio transpirado e outro gordo com cara simpática. Perguntei quanto era o carro, mas já estava tomado. Reparei que o simpático se desenrascava em inglês e comecei a falar com ele, na esperança de que traduzisse para o outro. “Black Sea?”, perguntou o transpirado. Estranhei, até que o simpático me disse que o Maruti tinha sido precisamente comprado pela outra equipa a quem faltava um bólide. Perguntei por quanto e quando o simpático perguntou ao transpirado, reparei que o gajo fez cara de “hei pá, que os chulaste tanto!” - tinha sido mais de setecentos euros!
           
- Podes dizer ao gajo que eu quero o carro mais barato possível? Todos estes carros são demasiado caros para mim... – pedi ao simpático.
- Ele diz que tem um Ford Escort por quinhentos euros... ele ligou a um amigo para o trazer – respondeu. Detesto quando fazem isto! Não tinha pedido nada e o gajo mandou logo o carro vir, deixa comigo uma pressão desnecessária.

- Ui, quinhentos euros é bués! – disse o João.
- Iá, mas tirando o carocha, onde não cabe nem um besouro, é o mais barato! Mas até curtia o carocha...
- Não pode ser, méne...
           
Continuei, em vão, à procura, e voltei aos gordos. O simpático começou a ver carros na internet, dizendo-me que o que o transpirado pedia pelo Escort era muito. Na internet havia carros privados a cem euros... a cena é que vinham sem papéis... e a outra cena é que se quiséssemos legalizar o carro ia demorar dias, e o rally começava daí a dois dias.
           
- Achas que se levasse um carro privado sem papéis me lixava? – perguntei ao simpático, que me disse que talvez não mas que não sabia se valia a pena arriscar. Talvez não? Para quem já tinha ido de carro ao Mali, o gajo estava a bater mal! É que nessa viagem acabariam por nos pedir os papéis não só em todas as fronteiras como duas ou três outras vezes só porque sim. Acabei por resistir ao fascínio de comprar um carro tão barato e esperei pelo Ford. Pá, era um carro cinzento com rebordos cor-de-laranja “por causa da neve”, uma roda sem tampão de jante e um tecto de abrir. Dei uma volta, pareceu-me razoável. “Estou a ver que sabes testar carros”, disse-me o dono do carro, só porque testei os travões. O gajo estava numa de me fazer sentir bem... agora que penso nisso, acho que até as luzes me esqueci de testar...
           
Liguei ao João, e o gajo continuava a foder-me a cabeça para encontrar outro, negociar, tirar um do cu, não sei bem que é que o rapaz queria. Ia falando com o méne, e de quinhentos euros consegui que baixasse para quatrocentos e vinte. Outra chamada ao João, que queria esperar para o dia seguinte para depois irmos lá todos e procurar melhor. “Pá, vou ter de tomar uma decisão, ficamos com este carro”, disse. Já lá estava p’rai há seis ou sete horas, e se deixássemos para o dia seguinte, sexta, corríamos o risco de vir o fim-de-semana, atrasarem-se os papéis e perdermos a partida. Ainda consegui baixar mais vinte euros e apertei a mão ao homem. “O quê, quatrocentos euros?”, dir-me-ia o Gabor, na noite seguinte, “Isso não é nada! O vosso carro é o mais barato de todos!” exclamava, para nosso contentamento. “Oh yeah, o carro comprado mais tardiamente e o mais barato de todos”, sorríamos. Na verdade, era mais barato do que qualquer um daqueles dois mil que lá estavam.

Tínhamos um carro.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Daqui Ali - Comunicação Social e Ligações "Interessantes"

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  •  Fugas [Público] - 24 de Maio 2013

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