quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Halong Bay

No dia 31 de Julho, segunda-feira, fui para Halong Bay. O preço foi fixe comparado com o que esperava. O Martin tinha-me dito que pagara oitenta e tal dolares, o que é uma grande batelada para o meu orçamento. Mas parece que é daquelas maravilhas naturais, por isso decidi ir. Assim, fiquei agradevelmente surpreendido quando vi que os preços andavam à volta dos 35-40 dolares. Se calhar ele foi num barco diferente, ou então teve o azar/amadorismo de só perguntar o preço num sítio. Errar é humano.
               
Apesar de ter sido barato e eu não me arrepender do que paguei, deixou muito a desejar. Já lá chegamos.
               
A Christia deixou-me na agência onde tinha comprado o bilhete, e à hora combinada apareceu o méne, e fui com ele. Só tinha dormido três horas e tal, estava um bocado partido, mas seguimos.
               
Quando entrei no minibus, encontrei o terceiro par de tugas da viagem! Pareceu-me ouvir alguma coisa em português, mas não tinha a certeza. Depois confirmou-se, disse qualquer coisa, trocámos umas palavritas mas ficou por aí. Topei logo que eram de Lisboa (ou da zona) e ao início achei que a miuda tinha a mania. Acho que o facto de ela ter dito, com um grande ar de indignação, “vamos almoçar aqui neste buraco nojento?” ajudou. Até porque era um restaurante melhor do que aqueles onde costumo comer. Mais tarde essa primeira impressão diluiu-se e desapareceu à medida que passámos algum tempo juntos e fiquei contente de ter passado esse dia e noite com eles e com o casal espanhol.
               
A Francisca é uma miuda de Cascais que estuda marketing. O Diogo, seu namorado, acabou comunicação empresarial e estavam a festejar o terceiro aniversáro nesse mesmo dia. Ele é de Sintra. A Francisca é o tufão e o Diogo o mar sereno, apesar de, imagino, mar sereno ser das coisas que não curte, sendo que é surfista e às vezes professor de surf. Porque é que digo isto?...
               
Quando bazámos de Hanoi, o guia da tour, um rapaz vietnamita que peca pela falta de simpatia, pediu os passaportes a toda a gente. A Francisca, incomodada com isto, foi-lhe pedir o passaporte quando estávamos no cais à espera sabe-se lá do quê (aconteceu sempre, esta espera incessante sem saber bem o que estávamos ali a fazer). Só ouço, em inglês, a miuda já exaltada “estás a ser muito rude para comigo e eu não estou a gostar!”. Tinha razão. É que o gajo vira-se para ela e diz, com cara de poucos amigos, “tens duas opções, ou me deixas ficar com o teu passaporte, ou voltas para Hanoi!”. E acabou por ser uma constante, esta atitude do gajo.
               
Entretanto conhecemos também o Angel e a Pilar, de Toledo, e ficámos mais ou menos um grupinho, os dois casais e eu. Pobre eu, aqui na minha solidão amorosa! Consequências de se mandar... Às vezes perguntam-me porque não “levei a minha namorada” e porque é que eu não “a quis levar”. Digo, claro, que não tem nada a ver com não a querer ter trazido. Mas somos pessoas diferentes, e se isto era um sonho que acalentava, não o é assim tanto da Graciete. Noutro dia perguntei-lhe se era capaz de, daqui a uns anos, tirar um ano sabático (conquanto pudesse voltar ao seu emprego sem problema). Disse que sim, para algum espanto meu. Ponta a ponta, América do Norte, sul da América Latina? Quem sabe...
               
Contudo, além de nós os cinco, o grupo em si era porreiro.
               
Quando finalmente entrámos no barco, começou o explendor. Andámos quase uma hora entre as ilhas rochosas que preenchiam o horizonte. Eram todas enormes, e estendiam-se até onde a vista podia alcançar. Estrondoso mesmo, das maravilhas naturais mais belas que já vi. Pelo meio aparecia, de vez em quando, bares flutuantes, onde se vendia isto e aquilo. Dava até um toque rústico, tirando quando se ouvia um hip-hop qualquer, isso trazia-me de volta à terra.
               
Parámos por meia hora para visitar uma caverna enorme. Muito porreira mas estava cheia de luzes amarelas, vermelhas e verdes e isso tirava um bocado aquela cena. Além disso tinha um trilho que um gajo seguia para ver as cenas, e isso também tirava algum do feeling. Paciência. Quando voltámos ao barco instalamo-nos na parte de cima (o nome náutico não me ocorre, agora). Estava sol, estava-se bem, estávamos tranquilos. Eis que aparece lá o nosso guia e vem-nos dizer as regras. Começou logo por dizer que se quisessemos beber as nossas próprias cervejas, tínhamos de pagar dois dolares, e o nosso próprio vinho, tínhamos de pagar dez dolares. Ora isto não me fez sentido nenhum, e menos sentido ainda quando, por exemplo, a Francisca e o Diogo tinham perguntado especificamente se podiam beber o seu próprio vinho. Não fiz caso, pois seria imposível estarem sempre no controle, mas o resto do pessoal começou a exaltar-se. Especialmente o Angel, com o seu “sangue caliente”, que questionava o guia incessantemente. Tanto que o gajo aproxima-se, e começa a falar comigo, a dizer para eu traduzir. Estou em deitadinho na minha espreguiçadeira e o gajo vem-me meter ao barulho. Já tinha dado o meu bitaite, mas quando vi a sua inflexibilidade, marimbei-me p’ró assunto.
               
- Olha podes falar com ele, que ‘tá aqui a um metro! – disse. Ele não fez caso.
- Imagina que tens um restaurante no teu país – prosseguiu – e eu chego lá, com a minha própria comida – dizia, lentamente para eu perceber bem – tu não ias gostar, claro, pois não?
- Não, não ia... mas isso é porque o negócio do meu restaurante é vender comida e bebida, e se tu trouxesses a tua comida e a tua bebida, eu não ia fazer dinheiro. Já o negócio deste barco é transportar pessoas de um lado para o outro, e albergá-las. O facto de que aqui também se vende comida e bebida, é só uma adição... – e com isto o gajo ficou sem saber o que responder. O resto do pessoal fez mais algum barulho, até que o gajo diz que o Angel pode, e que a Francisca também pode, mas o resto não. Ridículo.
               
Pouco depois eles estenderam o escadote e mergulhámos, andámos na água um pedaço, uma horita ou duas, até que era altura de ir comer. Sentámo-nos todos depois de uma chuveirada, apresentámo-nos todos, e ficámos ali um pedaço. No final rimo-nos um bocado com o Karaoke, e quando parou de chover fomos para a parte de cima onde bebemos uns copos até à meia noite e tal. Mas o gajo ainda não tinha acabado com as surpresas. Estamos nós à conversa quando aparece o Angel, depois de ter ido buscar uma cerveja ou mijar, não sei e exclama:
               
- Ouçam! O gajo está a dizer que para termos ar-condicionado temos de pagar dez dolares! Vamos todos lá baixo – mas o pessoal não estava muito p’raí virado. A mim não me fazia diferença. Mas o problema é que para algumas pessoas fazia. E o problema é que a Francisca, por exemplo, tinha também, tal como na cena das bebidas, perguntado se o ar-condicionado estava incluido. E disseram-lhe que sim. Fizemos algum barulho, sem efeito. Mais tarde o Angel confessou, com alguma vergonha, que as cenas se tinham exaltado lá em baixo... o gajo apontou-lhe o dedo perto da sua face, o Angel deu-lhe uma lapada no dedo, o gajo pegou num copo com que o ameaçou, o Angel agarrou-o, o copo voou e partiu. Enfim, cenas assim. Depois o Angel queria mandar a espreguiçadeira pelo barco fora, mas não teve muito encorajamento de mim e do Diogo, e não queria que a Pilar, sua namorada muito fixe e engraçada mas também recente, descobrisse.
               
Foi uma noite cheia de eventos.

- Dormiste bem? – perguntei ao Angel, no dia seguinte.
- Sim, mas acabámos por ter frio com a ventoinha – note-se que o ar condicionado era porque supostamente estaria muito quente. Que riso.
               
Após o pequeno-almoço fomos andar de kayak, que até foi fixe, apesar de breve. Gostei muito de entrar por o que parecia ser uma gruta e desembocar numa grande baía. Ali no meio, rodeados por uma enorme montanha cheia de estórias, que concerteza já viu milhares de pessoas como eu, mas que viu também, concerteza, há muitos, muitos anos, pessoas de outros países, exploradores, curiosos. Agrada-me estar num sítio e imaginar a história por detrás. Acho o tempo um conceito tão relativo quanto curioso e difícil de perceber. Às vezes questiono se existimos realmente, e em que plano existimos. Estou a ler Uma Pequena História Sobre Quase Tudo, do Bill Bryson, e o gajo fala do universo, tempo, teoria da relatividade, bem, fala de um pouco de tudo, e é incrível perceber, ou tentar perceber, tudo o que nos rodeia e todas as condições que não são tão exactas quanto pensamos...

Depois do kayak voltámos para o cais. Despedimo-nos do casal espanhol e fomos para Hanoi. Aí, despedi-me do Diogo e da Francisca e fui para o hostel que duas israelitas me tinham aconselhado. Tivemos um pedaço de conversa deveras interessante com elas sobre a situação em Israel, mas alongo-me sobre isso noutra altura.
               
Passei essa tarde na descontra no hotel, e à noite saí um bocado para ir comer. Curto o feeling de Hanoi. Bué de gente nas ruas a beber chá, aqueles restaurantezinhos com mesas que parecem de uma casa de bonecas, enfim – é o sudeste asiático. No dia seguinte fui dar umas voltinhas
à turista pelo resto da cidade. Curti. Em alguns locais parece Paris, mesmo. Depois vi-me tramado para arranjar dolares para pagar o visto do Laos. É que só tinha 25 dolares, e era o que achava ser o visto. Mas não tinha a certeza, parecia que diferentes pessoas me estavam sempre a dar números diferentes. Caminhei, todo transpirado, p’rai uma hora até encontrar um sítio que vendesse dolares e resolvi o problema.
               
Depois entrei no autocarro para o Laos.

 21h06-6ª-12-8-11
algures entre Vientiane e Luang Prabang

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