quinta-feira, 28 de abril de 2011

Gilgit (incompleto)


Isto nem sempre esta facil de publicar, por isso hoje so pode ir um texto incompleto! As minhas desculpas.

Gilgit foi perfeito! Passei uns dias de sonho naquela vilita, e conto voltar, quem sabe quando (?), passar um mês ou dois a escrever. Acho que é dos sítios mais porreiros para isso que já encontrei. Pausa. Sacudo uma aranha que se aventura aqui por territórios pedrísticos. Estou em Hunza, e já vão alguns dias desde que escrevi pela última vez.

A minha rotina inicial de cada dia era imutável. Acordar, tomar banho, e esparrachar-me (?) na preguiçadeira paquistanesa no alpendre a ler cerca de duas horas. 1984, do Orwell, que já acabei e de que falo um pouco de seguida. Fui à ner pôr-me a par com algumas cenas que não têm importância nenhuma, e o sol já se estava a pôr quando voltei para casa. o Qayum estava de saída, e quando lhe perguntei onde ia, disse que ia levar comida para os cães. Tinha-me falado que uma cadela tinha parido sete cães ali num campo ao lado, e que ele ia lá dar-lhes de comer. Sem obrigação nenhuma o homem, não só não os meteu num saco e mandou ao rio, como lhes dava de comer. Lá fui com ele, e depois de atravessarmos um par de campos em puro breu, chegamos aos famintos. Estivemos lá meia horita, e quando voltávamos ele encontrou um amigo qualquer, sentamo-nos lá no meio de um campo de batatas e eles fumaram produtos nacionais, tranquilamente. Quando voltámos, estivemos a conversa um pedaço, jantámos, tomámos chá e fui dormir. Nessa noite reparei que mais uma vez não havia carne, e fiquei a pensar se o homem seria vegetariano.

No domingo acordei filadinho em ir ver a estátua do Buda que havia algures p’rali. Acabaria por não se concretizar. Como mais tarde percebi, não podia fazer planos em Gilgit, por acabava sempre por ir ao saber da corrente, sem me despachar para fazer fosse o que fosse. Como manda a lei. Pois estava pronto para bazar quando o Qayum disse que o Yasir e mais outro rapaz vinham lá almoçar, e se eu não queria ficar. Ok, ‘tá tudo. Lá continuei a ler, até que os gajos chegaram. Tivemos à mesa p’rai três horas. Uma de volta da comida e conversa (ora em espanhol ou inglês, para mim, ora em shina, a língua local, para o outro méne paquistanês), outra hora antes do preparo e outra com chá. O chá daqui é sublime, o melhor que já bebi. Não se limitam a adicionar leite, como na Inglaterra, mas fervem o leite com o chá também. Experimentem. Yellow Label.

Quando os gajos bazaram já eram p’rai quatro, ou quase. Mandei-me numa caminhada que curti bué. Passei pela rua principal da vila e segui em direcção ao rio. Pelo caminho passei pelas casas do pessoal, caminhos estreitos, campos de um pouco de tudo, vacas, galinhas, cabras, e putos a jogar cricket. O que mais me atraía naquilo era a paz de toda aquela atmosfera. O silêncio era rompido pelo Vento a deslizar na vegetação ou os ocasionais gritos da pequenada em êxtase. E sentia-me dentro daquilo. Estava ali, na boa, e adorava cada passada. Adoro o verde. Acho que no Paquistão voltei a apaixonar-me pela natureza. Ou voltei a lembrar-me que estava apaixonado. Tipo aqueles casais que estão juntos há tanto tempo que nem reparam que ainda há amor a uni-los – reparando quando estão, por exemplo, de férias, ou num aniversário qualquer.

Andei pela beira do rio, com calma, e quando decidi voltar para cima, encontrei o méne que algumas horas antes tinha cozinhado para nós. Pelos vistos ele tinha um cafézito. Ele disse hotel, mas era um barraco de cimento de uma divisão. Parecia mais um sítio para descontra. Ele não falava inglês mas convidou-me para um chá e uma sanduíche, que eu prontamente aceitei.

Quando cheguei a casa já era de noite. Tinha comprado três ovos, dois tomates e uma cebola, no dia anterior. O Qayum foi para a cama, eu deixei o computador a tocar um sonzinho e fiz uma omolote.

Esqueci-me de referir. Quando o outro méne cozinhou para nós, fez galinha, e o Qayum comeu. Ou seja, não é vegetariano. Onde estou agora, em Hunza, já tive três refeições com eles e ainda não comeram carne. Acho que é simplesmente porque não se podem dar ao luxo de comerem carne quando lhes apetece. Se calhar é como dizem que era dantes em Portugal, “quando o rei faz anos”...

Na segunda também não cheguei a ver o Buda. Caguei p’ró Buda. Quando pousei o livro eram p’rai três da tarde, tendo já almoçado. Desta vez fui dar uma volta para o lado oposto de onde tinha ido no dia anterior. O Qayum deu-me boleia até ao centro, fui tirar uma fotocópia do passaporte e mandei-me a caminhar sem destino. A dada altura começei a subir, e quando dei por mim estava entre os campos, com uma visão sob toda a vila, ou cidade, ou lá o que é. Estava calor mas confortavelmente fresco debaixo da sombra das árvores que me protegiam. Andei assim a caminhar cerca de duas ou três horas, e adorei.

Gilgit foi isto, mais ou menos. Dias passados num hostel de dois euros e meio por noite, horas deitado ao sol a ler, conversas com um cota super bacano e boa pessoa, e caminhadas sem destino, vibrando com as vistas que pairavam sobre os meus olhos. Quando, na terça, lhe perguntei quanto lhe devia, disse que era o que eu entendesse. Ora por noite eram dois euros e meio, paguei-lhe as três noites mais três euros e meio pela comida. Para quem possa achar que fui forreta, é um preço justo. E o probela é que estou outra vez apertado com dinheiros. Não fiz bem as contas e aqui não dá para levantar dinheiro. Mas está tudo tranquilo, tenho dinheiro para água e para voltar a Islamabad, onde posso levantar guitel.

Apanhei o autocarro sem saber se me podiam albergar ou não. Mas felizmente ganhei o hábito de, com cada pedido de estadia, pedir também o número de telemóvel. Assim, passadas quatro horas de ter deixado Gilgit, e a meia hora de Karimabad (em Hunza) liguei ao Gulham. Ele disse que me podia albergar, e para eu ir ter a algo que soa como Azeirabad. Fixe. a minha outra opção era dormir debaixo das estrelas. Quando cheguei à dita povoação meti conversa com um pessoal que passava o seu tempo fora de um cafezito, e eles ligaram ao Gulam, que mandou o seu filho vir buscar-me. Enquanto esperava conheci o Karem, que é amigo doJoão Garcia, o alpinista português. Conheceu-o em 2007 e depois esteve com ele em 2009 também, creio. Tinha um livro autografado pelo gajo e tudo.

Entretanto aparece

Sem comentários:

Enviar um comentário