quarta-feira, 6 de abril de 2011

Esfehan (Texto 3 de 3 publicados a 6 de Abril)


No dia 29 mandei-me para Esfehan. Tomei o pequeno-almoço e meti-me no metro, saindo na antepenúltima estação. Aí, não sabia exactamente para onde ir, por isso dei uma olhada e decidi ir em direcção à estrada que parecia uma autoestrada. Mas parecia que nenhum dos lados ia para Esfehan. Caminhei mais um pedaço e pareceu-me estar no sítio certo. Isto pelo menos até um cota, que realmente leu o meu papel com atenção, me ter indicado outra estrada. Assim, para lá caminhei. Passei por uma mesquita onde está o Imam Komheini, o cota que aparece nas notas aqui e que foi um dos responsáveis pela revolução islâmica de 1979. Havia bué de pessoal cá fora, a comer, a jogar à bola, a fumar xixa, a dormir, a fazer um pouco de tudo. Como disse, é o Neurós, o ano novo deles, e o pessoal vai festejar. O primeiro dia do ano deles é dia 21 de Março, e como toda a gente sabe que o número 13 dá azar, eles não trabalham durante os primeiros 13 dias do ano. Parece-me difícil de conceber, mas pelo que me parece, acho que estes 13 dias são as únicas férias que eles têm no ano.

Achei caricato o facto de estar a passar a mesquita com o túmulo do méne e estar a ouvir uma música dos qotsa onde o Josh fala de “licking the devil’s tongue”. Cenas.

Uma vez no sítio certo estava dentro de um carro em vinte minutos. Andei p’rai uma hora e deixaram-me. Havia bué de carros onde me deixaram, e fui perguntando, com o papelito a dizer as cenas do costume. Ora um cota não ia para onde eu queria ir, sacou de (o equivalente a) 10 dólares e deu-me. Assim, sem mais nem quê. Altamente! (e hoje o outro que me pagou o bilhete de Esfehan a Shiraz, mais de quinze dólares). Ainda assim continuei a perguntar e um senhor com um minibus todo podre levou-me um pedaçito. Quando me deixou ainda o amaldiçoei um bocadito, porque parecia que me tinha tirado da autoestrada e deixado na nacional. Mas correu bem. Esperei p’rai meia hora e fui com um cota, p’rai uma hora. Deixou-me numa daquelas autoestradas. Uma planície onde não vês nada senão as montanhas ao fundo, delineadas agressivamente, cobertas de neve em diferentes cumes. Passado vinte minutos estava dentro de um carro. Um casal que falava inglês e a sua filha de nove anos no banco de trás. Levaram-me direitinho à Mahsa, a minha anfitriã.

Além disso, disseram-me que não podia sair do Irão sem ver Yazd, e arranjaram-me boleia com um primo deles, e estadia, na casa do mesmo. Altamente! Infelizmente não sei se vai dar. Hoje é dia 31, e tenho de estar no Paquistão dia 5. Podia ir dia 2 para Yazd, e dia 4 para Este, mas não sei se não ia ser apertado. Logo vejo. A propósito, não quis beneficiar da boleia oferecida porque era para sexta. Foram muito fixes eles. Deram-me um hamburger também.

Fiquei em casa da Mahsa duas noites. No dia seguinte ela ia para a montanha com umas amigas, mas os pais dela não se importavam se eu ficasse lá. Não posso dizer que adorei lá ter ficado, mas foi fixe na mesma. Quando os meus recém-amigos de boleia me deixaram com a Mahsa, ela estava com um amigo, num parque perto da montanha. Caminhámos um bocadito e sentámo-nos uma horita. Eles estiveram a falar em Farsi o tempo todo, e foi mais ou menos o mesmo quando depois voltámos para casa, onde estavam os seus pais, irmã e prima. Tranquilo, não estava propriamente a roer-me por dentro nem a injuriá-la. Mas já que ela não estava muito numa de “falar de cenas”, mudei de perspectiva e senti-me priviligiado por ter oportunidade de ser aquela mosquinha invisível num lar iraniano. Apesar de tudo pareceu uma miuda engraçada, muito risonha, tal como o seu pai, irmã e primas.

Curti ter conhecido o irmão dela. Ele estava com dor de cabeça e foi deitar-se cedo, por isso só tivemos oportunidade de falar meia horita. Mas curti a maneira como ele defendia, em relação ao governo e falta de liberdade, que é a responsabilidade de cada pessoa com alguma cultura e educação, de ensinar a pessoas que não beneficiam dos mesmos atributos. Ensiná-las a verdade, a realidade do que se passa. Eu próprio acho que a mudança, seja em que aspecto for, deve começar em cada um, por isso identifiquei-me com o que me disse.

No dia seguinte, ontem, andei por Esfehan. Estou a rejubilar com Deolinda. Não há uma letra que não tenha um significado. Não há pandeleirices. Gosto muito, mesmo. Assim andei a caminhar, meio perdido, livremente, a ouvir esta banda. Só pessoal! Bués! Por volta das seis encontrei-me com uma rapariga do couchsurfing que era suposto albergar-me mas acabou por não poder. Levou-me à praça da cidade, deslumbrante. Gostei da cidade, muito airosa, verde e com uma boa energia. É certo que caminhei p’ra caraças. Sem exagero, acho que nesse dia caminhei mais de vinte quilómetros.

Curti ter conhecido a rapariga. Tem 18 anos mas uma mente mais erudita do que é suposta para tão tenra idade. Inundei-as com as minhas perguntas, desculpando-me a meio, dizendo que é pura curiosidade acerca de culturas diferentes (no problem at all) e tivemos uma conversa muito interessante.

Eram já nove e eu não sabia muito bem como ir para casa. Como eram só os pais da Mahsa que lá estavam, decidi ir-me. Acho que não era muito fixe chegar à meia noite. Caminhei mais quase duas horas. Quando pensava estar perto, perguntei direcções e um taxista jovem levou-me de graça.

Hoje acordei e bota Shiraz!

Heia há quanto tempo eu não estava assim actualizado com as escritas (não em publicação no blog, mas no simples escrever)! Finalmente!

15h19-5ª-31-3-11
Algures entre Esfehan e Shiraz


1 comentário:

  1. Complicado mesmo é andares por aí sem "graveto" :o) :(

    Mas, lá te vais desenrascando à boa maneira :))))

    Grande abraço, e já sabes...se precisares de alguma coisa, estamos AQUI!

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