quinta-feira, 1 de março de 2012

até Iasi


Depois da nossa breve conversa deixei a Diana em casa e fui dar uma volta por Targu-Mures. É engraçadito, mas nada de especial. Caminhei mais ou menos sem destino, e quando o sol preparava o seu leito encontrei um bar bacano e bebi lá uma cerveja. Entretanto a Diana mandou-me mensagem a dizer que ia haver um concerto qualquer de piano, a perguntar se eu queria ir. Disse que sim, mas meio naquela, porque não me estava a apetecer verdadeiramente. Mas acabou por ser uma grande noite...

Quando cheguei a casa ela estava com o Florin, o seu noivo, a abrir uma garrafa de vinho. Sentei-me com eles, conversámos um bocado e depois eu fui com a Diana ter com uns amigos dela a esse bar onde havia o concerto. Foi daquelas noites em que um gajo começa sentado, no paleio, a contar e ouvir estórias, e depois acaba a dançar as versões de outras músicas famosas, umas fixes, outras não, que o pianista vai oferecendo. A noite já ia lançada quando bazámos e daí fomos para outro bar onde tive uma conversa p’ra de meia hora em italiano. Um gajo que não falava inglês a dizer-me já não me lembro bem o quê... só me lembro que estava a gabar a Roménia por ter parado o exército otomano, e que se nõ fossem eles Portugal agora era turco, qualquer coisa assim...

Naturalmente acordei tardíssimo no dia seguinte, e já não segui para este como tinha planeado. Mandei mensagem ao meu anfitrião que me receberia em Iasi e passei o dia na descontra. Fui ao cinema por um euro e vinte cêntimos, que foi o preço mais baixo que já paguei... Era um bocado mais caro, mas consegui usar a minha ficha do ginásio como comprovativo de cartão de estudante.

No dia seguinte parti para Iasi. Tinha o número do Codrin, que era para me ter albergado no dia anterior, mas não sabia onde ia ficar. Depois resolvia isso. Dei uma olhada no google maps, vi a melhor estrada para a boleiar e meti-me a caminho. Passado uma hora de caminho e cinco minutos de espera estava no carro de um homem de quarenta anos muito porreiro. Fomos a conversar um bocado, eu contei-lhe algumas das minhas estórias, e ele confessou-me que tinha planeado nos anos oitenta ir viajar pela América do Sul com um amigo, e que isso nunca aconteceu.

- Agora é tarde demais... tenho uma família, responsabilidades... – desabafou. Desabafou sem perceber que nunca é tarde demais. O pessoal usa muito expressões sem verdadeiramente as sentir. E acho que uma delas é “nunca é tarde”. Se há expressão que tem o direito de viver para além disso é esta. Porque efectivamente, nunca é tarde demais para fazermos o que queremos, se o quisermos verdadeiramente. Às vezes há coisas que nos impossibilitam naquele preciso instante, ou até ano. Mas a VIDA é tão diversa, será possível que as mesmas coisas que nos limitam agora se reciclem e tornem noutras sem nós podemos fazer nada? Não, não é possível. O pessoal é que o permite.

Este deixou-me numa bomba de gasolina. Falei lá com um méne, mas a comunicação estava difícil. Parecia que ele me podia levar até à próxima cidade, mas quando lhe disse que não tinha dinheiro ele começou a agir meio estranhamente. Com as mãos deu-me a entender que ia ali e vinha já. Mas eu não sabia se era mesmo isso que o gajo queria dizer por isso fiz-me à VIDA. Deixei as bombas e estavam lá dois putos a boleiar. Eu respeitei o código e meti-me atrás deles uns metros, apenas para ver um lorde chegar, meter-se em primeiro lugar e seguir em cinco minutos. Mas ok, entretanto um carro parou, falou com os putos, eles rejeitaram por alguma razão e eu segui com ele, que só ia uns trinta quilómetros. O pessoal é exigente e só quer boleia que vá para onde eles querem. Ia dizer que não sei porquê, mas se calhar é porque querem evitar estar especados no meio de uma vila p’rai de cem pessoas à neve como eu fiquei...

Mas foi na boa. Apareceu um cota simpático que me levou p’ra três horas. Pagou-me um café e fomos seguindo à conversa, ora em inglês, ora em francês. Depois deste, que insistiu para eu ter cuidado com os ciganos, apanhei boleia de dois cotas e daí com um rapaz que me deixou em Iasi. Como tinha lido (e experienciado, alguns anos antes, quando era eu que por lá conduzia e via o pessoal a quem dava boleia a querer pagar-me) que na Roménia se costumavam pagar as boleias, fazia questão de dizer sempre, antes de entrar no carro, que não tinha dinheiro. E só um gajo me rejeitou.

- Aqui na Roménia pagam-se as boleias... mas quando são estrangeiros o pessoal não o exige... – dizia-me o rapaz que me deu a última boleia.

Em Iasi, restava-me encontrar onde ficar...

Terça, treze e cinquenta e três, vinte e oito de fevereiro de dois mil e doze
Chisinau, Roménia

1 comentário:

  1. :) Bateu-me a saudade dos dias em que andámos a percorrer a Roménia e a Bulgária de carro, só nós os dois, um carro e as nossas roupas na mala do carro, como se de um roupeiro se tratasse! :) Fazes-me Feliz! * Graciete

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