quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Saigão II


No dia seguinte acordei, nas calmas. Vi um episódio de Flight of the Conchords, pus-me a caminho da cidade. Apanhei o autocarro 34, em vez do 102, e passei por lugares mais típicos do Vietname. Demais mesmo. Quer dizer, se tirasse fotos e as mostrasse, um gajo ficava naquela tipo “o que é que é demais aqui?”, mas é mais que isto, é ver as cenas sem ser por uma lente ou num ecrã, e permitir-lhes deixar a sua marca no nosso coração.
               
Após comer qualquer cena, fui aos correios. Já andava com o saco-cama da Sofia há p’rai uma semana, e não fazia muito sentido andar a carregá-lo de um lado para o outro. Então, contrariando a minha tendência natural, não deixei para depois e fui tratar disso. Era 25 dólares, mais do que a Sofia me tinha dito para gastar, por isso o saco-cama ficou em Saigão.
               
Depois disto fui ao Museu dos Restos da Guerra (americana). Tenho de dizer que fiquei chocado com o que vi. Tão brutal que gostava de ver um museu semelhante, mas de uma perspectiva americana. Se bem que os americanos é que se meteram por estes lados, tentando evitar com que o comunismo, sistema que ainda hoje aqui impera, se espalhasse pelo resto do sudeste asiático. Eles meteram-se aqui e mataram centenas de milhares de civis e em vastas regiões espalharam aquilo que é conhecido como “agente laranja” que faz com que, ainda hoje, um sem número de crianças nasça com más-formações genéticas. Desde isto a grupos de soldados que iam a vilas e assassinavam todos os civis que viam, fossem homens, mulheres ou crianças, é incontável o número de atrocidades. Tanto que alguns americanos vêm para o Vietname fazer trabalho voluntário para, à sua maneira, compensar o mau que foi feito. E isto deixa-me um bocado sem saber bem o que pensar. Acho de louvar qualquer tipo de trabalho voluntário. Nem que o pessoal faça isso só para depois ir dizer que o fez, ao menos fê-lo, e ao menos, posteriormente, não estará, nem a mentir com a sua gabarolice, nem a gabar-se de cenas como ter fodido aquela gaja. O que me deixa sem saber o que pensar é o factor nacionalista que aqui entra. De várias maneiras rejeito o conceito de nacionalismo.

Não me quero sentir orgulhoso de ser português se um português descobrir a cura para o cancro, da mesma forma que não me quero sentir humilhado se um português matar duzentas pessoas com uma bomba em Paris. Digo “não quero”, porque há uma parte de mim que sente essas coisas, mas é algo mais intrínsico, e de que não consigo fugir, não sei porquê. Mas essa pequena parte que sinto, não me apoquenta.

Então, ligando a este pessoal, eles estão a pagar as contas dos erros de outros, só porque nasceram no mesmo sitio que eles. É certo que estão a pagar por opção, mas estão a pagar ali, naquele país, porque os americanos lá estiveram. Não estão em Angola, na América so Sul, estão ali. Mas ok, estão ali seja por que razão for, e louvo isso. Não quero sobre-analizar a cena e acabar por tirar o valor esse feito.

Quando, com o passar das horas, não recebi a chamada do pessoal do dia anterior, que queria que eu ajudasse a sua irmã, foi a confirmação de que, com toda a certeza, aquilo era um esquemazinho.

Depois do museu dei mais umas voltas, mas estava meio cansado. Voltei para casa, “fui jantando” com a Rebecka, pão alemão muito bom e queijo. Éramos para sair, mas bebemos umas cervejas em casa, e ficou por aí.

No dia seguinte, Da Lat. Tinha decidido na noite anterior, e por isso não tinha bilhete ainda. Aqui no Vietname há um sistema de “open tour” em que um gajo compra um bilhete e esse bilhete dá para as viagens de autocarro para sítio X, Y, Z, etc. Ainda que pague mais um bocado, não quis esse bilhete, porque não curti a antecipação de saber que tenho tudo planeadinho. Prefiro ir decidindo para onde vou, à medida que vou.

Tomámos o pequeno-almoço nas calmas, apanhei o autocarro para o centro da cidade, e apanhei o autocarro que me deixaria em Da Lat sete horas mais tarde.

23h35-4ª-27-7-11
Huei, Vietname

1 comentário:

  1. Relata de forma clara, precisa e sem peias a sua viagem! Diz exactamente o que lhe vai na alma e acima de tudo questiona-se sobre tudo o que lhe é dado observar não se deixando embalar por ideias pré-concebidas, sendo contudo e apesar disso rigoroso nas análises que faz! Gostei e talvez por isso mesmo me permita sugerir-lhe um outro Blog sobre viagens num estilo talvez diferente mas tb ele interessante!
    http://anossavidaeumteleferico.blogspot.com/
    Espero que goste! Até à próxima e Boa Viagem!

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