sábado, 6 de agosto de 2011

Sihanoukville


Apanhámos o autocarro para Sihanoukville mas separámo-nos por algumas horas, porque o Martin tinha deixado a sua pen no hotel. Aquele hotel, sim senhorini! Pagámos um euro cara um, como já disse, cada um com a sua cama, toalhinha, papel higiénico, e no final ainda nos deram um cachecolzinho de recordação. E além disto foram bué prestáveis com a pen do Martin, enviando-a noutro autocarro. O pessoal do Camboja foi uma agradável surpresa. Lá está, um gajo tem que ver a cena por si mesmo! É que há um site (www.roadjunky.com) bastante porreiro onde os guias são feitos pelos viajantes como eu e tu, em vez de através disto ou daquilo. E li um guia (passando por cenas como segurança, acomodação, transportes, diversão, etc) que um méne tinha escrito e passei-me um bocado. Claro que nunca questionei vir, mas é certo que fiquei um bocado naquela, se é que me entendes. De acordo com o gajo isto era um pandemónio total e um gajo tinha de estar sempre à coca, estava sujeito a morrer atropelado e era um bocado agressivo, não necessariamente literalmente, mas mais em toda a conjuntura. Pois tenho a dizer que, se na Tailândia achei que mais uns sorrisinhos não faziam mal nenhum, aqui foi o contrário. Os cambojanos são malta porreira, muito prestável sem necessariamente esperar nada em troca. Lufadita de ar fresco!
               
Quando cheguei, esperei por ele uma horita na net, e depois caminhámos um pedaço para encontrar um hostel. Um senhor com a sua tuk-tuk ofereceu-se para nos levar por 5 dólares, e acabámos por ir com ele por 2 dólares. Levou-nos a um sítio, estava cheio, depois a outro, muito caro, mas estava sempre a falar na Utopia. Lá nos levou a lá ficámos, pagando 2 dólares cada um por noite.
               
- You’re my costumers so I want the best for you – dizia – so if you don’t like this we can go somewhere else – o Martin pensava que o gajo nos ia oferecer os seus serviços para o dia seguinte ou algo assim. Todavia, o gajo, que andava lá a dançar de um lado p’ró outro, simplesmente sorriu e bazou, quando lhe dissemos que íamos lá ficar.
               
Bem aquele hostel fazia lembrar os transportes de escravos nos barcos ibéricos para as Américas. Eram beliches, mas não em pares. Tinha simplesmente um estrado de madeira de dez metros, e colchõezinhos lá dispersos, lado a lado. Depois o mesmo no andar de cima. Mas ok, tudo tranquilo, no problem. E tinha um bar com muita acção.
               
Depois de instalados e de termos tomado banho no único chuveiro daquele hostel que alberga dezenas de pessoas, fomos comer qualquer coisa. Primeiro bebemos uma cerveja à borla, depois outra, e depois encontrámos um suiço que andava a distribuir panfletos (para mais cervejas à borla) que nos recomendou um sítio mais bacano e autêntico “lá p’ráquelado”. O gajo era voluntário em Phnom Penh mas agora estava em Sihanoukville e davam-lhe 3 dólares por dia e bebidas para ele distribuir panfletos.
               
Aceitámos a sugestão do gajo e fomos para lá. É que queríamos cerveja barata e comida barata. E queríamos algo mais autêntico. É que, pá, eu não sei onde é que o Reino Unido foi buscar tanta gente que às vezes não consigo encontrar um sítio sem ouvir aquele sotaque que já enjoa (apesar de lá ter vivido 2 anos). Não curtia nada andar aí perdido pelo mundo e, em todo o lugar que fosse, encontrasse sempre tugas. Por outro lado, era fixe encontrar mais um ou outro de vez em quando. Tínhamos encontrado o suiço na praia. Então voltámos para trás e passado dez minutos estavamos lá no sítio. Bacano, só cambojanos. Comprámos uma cobra cada um, grelhada e enrolada num pau, e fomos comendo até que nos sentámos para comer algo mais a sério. A cobra tem espinhas e... não é mau, mas não comprava outra vez. O Martin não curtiu, porque estava com frescuras com as espinhas. Eu mandei tudo p’ró bucho. Depois ainda comemos uma barata. Barata até curti, e diz que tem bué de proteínas.
               
Comemos, bebemos um jarro de cerveja por um euro e quarenta, mais ou menos, e depois subimos a rua, porque o suiço tinha dito que havia um sítio onde o jarro era ainda mais barato. O meu pai não curte nada ler acerca destas cenas, mas tenho de dizer que o Camboja foi o sítio p’rá cerveja! E acho que o primeiro sítio nesta viagem onde pude beber uma cerveja sem me preocupar minimamente com o preço. É que não é nada difícil encontrar, além destes jarros, uma caneca (de 33cl) por 0,35€! Diz que o Vietname é ainda mais barato.
               
Acabámos por nos instalar lá talvez no sítio mais podre que havia. Mas mais cambojano não há. Aquilo era uma garagem com o karaokezinho do costume aos berros, luzes avermelhadas e a malta lá a beber a sua cerveja. Quando nos sentámos duas meninas trouxeram o jarro, sentaram-se ao nosso lado e serviram-se também. Felizmente tinham um grande cubo de gelo no seu copo, por isso acabaram por não roubar muita cerveja. Ora uma delas tinha p’rai quarenta anos, e a outra era mais nova e era um bocado bexigosa. E, convenhamos, não estavam ali por causa dos nossos lindos olhos. Foi uma situação um bocado peculiar. Eu e o Martin sorríamos, agradecíamos de cada vez que nos enchiam o copo (que acontecia quase depois de cada gole), brindávamos de cada vez que queriam brindar (que era quase sempre), mas de resto continuámos no nosso paleio.
               
Quando acabámos, fomos até à praia e instalamo-nos lá num bar. E descobri um código aí. Quer dizer, eu acho que aquilo foi um código. Quando estava a pedir uma bebida, a empregada de balcão, uma surda, fez questão de me cumprimentar com um aperto de mão, e ao fazê-lo, fez o seu indicador dar uns rodopios na palma da minha mão. Acho que sabemos o que é que ela queria dizer com aquilo. Mas caso alguém não tenha percebido, eu digo na mesma, acho que ela era empregada de balcão full-time e prostituta part-time.
               
Passo-me um bocado com isto. Com a facilidade em ter estes part-times. Tipo na Tailândia quando voltava da noite, já de dia, e uma gaja vem ter comigo e pergunta se eu quero boom boom já não me lembro por quanto dinheiro. A gaja parecia que tinha ido à rua comprar uma baguete, avistou-me e tentou a sua sorte, não estava vestida como se fose prostituta full-time nem nada!... E eu, na minha inocência a perguntar se ela se sentia bem com esse part-time e tal, e a gaja com tanta vontade de ter uma conversa com alguém que não lhe vai dar dinheiro, como de ir a pé a Timor-Leste.

Ficámos lá um par de horas à conversa. Agora que nos separámos (ele deve estar agora a voar para Singapura e eu estou num autocarro para Saigão), depois de uma semana, penso que foi mesmo fixe ter encontrado o Martin. É que aquilo foi amizade à primeira vista. E mais fixe, é que após a Sofia ter bazado, não cheguei a estar um dia inteiro sozinho. Conheci-o na noite do mesmo dia em que a Sofia bazou, e depois ficámos juntos mais uma semana. É um gajo mesmo boa onda, e somos parecidos na maneira de estar e, sobretudo, de viajar.
               
No dia seguinte alugámos uma bicla cada um e fomos até uma praia ali mais longe onde supostamente não havia tanta gente e não tinham bué de putos a pedir para comprarmos algo. Curti a viagenzita, até mais do que estar na praia em si. Passar pelas vaquinhas, pelas casas do pessoal à beira da estrada, os putos a acenar, muito porreiro, e muito cambojano. A praia era fixolas, mas nada do outro mundo. Ficámos lá duas horitas a ler, e voltámos. Sihanoukville não tem muito mais que isto.
               
Nessa noite fomos beber um par de cervejas à beira-mar. A praia serve, basicamente, de esplanada para aquela dezenas de restaurantes. Foi uma noite porreira, nas calmas.
               
No dia seguinte bazámos para Phnom Penh.

12h56-4ª-20-7-11
algures entre Phnom Penh e Saigão

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