sábado, 18 de junho de 2011

Bangkok (Parte II)


No sábado, ainda em Bangkok...

Fomos dar uma volta pela cidade. Tem que ver, tem que fazer, é um sítio porreiro para se viver, parece-me. Mas, ao mesmo tempo, a Tailândia tem-mbe violado a carteira. Com força. Não que tenha gasto balúrdios, mas aqueles sete eurinhos por dia na Índia  aqui são uma miragem. Também tenho curtido mais, é verdade, e aí é onde o dinheiro curte mergulhar...
               
Saímos de manhã lá p’rás dez. Logo um esquemazinho do bufo à bangkokiana. Não foi nada do outro mundo, mas é mais uma ceninha. Apanhámos um táxi e pedimos para ir para o porto. O taxista levou-nos para o porto onde os barcos custavam 800bahts quando nós queríamos apanhar o de 20baht. O gajo sai do carro, troca um olharzinho como quem diz “fui eu que trouxe estes pacóvios aqui, não te esqueças de mim” e encaminha-nos para o senhor não-sei-quem. Foi só uma questão de caminharmos mais cinco minutos e irmos para o outro porto. Mas ainda a caminho, quando alguém me perguntou para onde ia e o disse, o gajo diz-me que para lá o ferry eram 800bahts. Argh! Iá, claro que há um a 800bahts, mas porque não dizes “há um a 20bahts e outro a 800bahts que tem mais isto e aquilo..”?.
               
Chegados a Sofia foi ver o palácio. Eu fiquei à portinha porque pagávamos 400bahts para entrar e isto não está fácil. Noutro dia, noutra altura. Edpois disto continuámos a andar pela cidade, nas calmas, na boa, até que voltámos a casa lá p’rás quatro e tal. O Wes, nosso anfitrião, ia ter uma malta lá em casa a beber uns vinhaços e comer queijo e disse para virmos mais cedo para se lhes juntarmos. Ok, no problem. Achei interessante ainda, pouco antes de bazarmos, ter visto uma espécie de praxe tailandesa. Nada diferente. Um grupo de gajos aos gritos vestidos com roupas de mulher, todos pintados. Same same, but different.
               
Quando chegámos estava lá o Wes, uma australiana cujo nome não recordo mas a quem chamava de Noel por parecer muito francesa (tínhamo-nos conhecido no encontro de couchsurfers) e o Nick, outro australiano. O Nick, de 29 anos estava numa viagem por terra desde o Bali (que é uma ilha, mas ok) até a Inglaterra. Era um gajo porreiro, também com um baixo orçamento (5000 dolares). Dei-lhe algumas dicas sobre vistos e ficámos à mesa, a comer queijo australiano e a beber vinho e sangria. A dada altura apareceu a Jess, tailandesa e o Zavier, francês. Tinha-os também já conhecido no encontro, por isso foi uma surpresa fixe, sendo que eles eram porreiros.
               
Foi fixe ter falado com a Jess, ter alguns pontos de vista dos locais. Falámos sobre a maneira como o turista trata a mulher tailandesa, que é triste. Pá eu ter visto, não vi muito, senão algo incrível que já relatarei. Mas a miuda, que me pareceu séria e sem interesse em estar com mentiras, diz que sente que muitos turistas não trazem consigo muito respeito na bagagem, e que às vezs olham para ela imediatamente como alguém a quem potencialmente podem pagar para passar um bom bocado. Também achei interessante, quem sabe exagerado, quando me disse que 80% dos gajos tailandeses eram gays. 80% é um número muito alto, por mais que esteja na moda... pois assim a raparigada tailandesa sente-se um bocado frustrada.
               
Certo é que na noite anterior, ao lado da nossa mesa, estava um australiano que era muito feio. Ele não atraía nenhuma gaja espontaneamente no seu país nem que fosse um misto de estrela de rock, cinema, filantropo, cientista e da família do Elvis. E ainda assim, não é que se sentaram cinco gajas ao seu redor? E nenhuma delas parecia prostituta. Claro que já me enganei antes em cenas menos óbvias, ok... e a Kathy, quando comentei, gozou um bocado comigo, a dizer “pois não são não...”. Certo é que, ouvindo a Jess, fiquei um bocado naquela. Bem não quero com isto dizer que as tailandesas atiram-se de braços abertos aos ocidentais, estou apenas a relatar o visto e ouvido.
               
A dada altura fomos sair. Fomos para os mesmos bares da noite anterior, mas eu desta noite já ia lançadinho, por isso curti mais. Estivemos no Cheap Charlie um pedaço, depois passámos para o Kombi, o bar-carrinha. Achei piada quando, a dada altura, o bar-carrinha decidiu passar para o outro lado da rua, e a malta teve de ir atrás com as bebiditas. Estivemos lá até lá p’rás sete e fomos para casa. O Nick estava de todo, coitado. Mas isso não o impediu de se juntar a mim e à Sofia na piscina do prédio do Wes. E o próprio Wes, apesar de ter dito que ia dormir, ainda andou lá connosco uma horita. Mais uma vez, tal como na noite anterior, curti bué ver aquela actividade toda nas ruas às sete da manhã. Se bem que já era tão tarde que era cedo novamente.
               
Uma cena que vi, e essa sim achei incrível e de revolta, foi o que um méne qualquer fez a uma das menina-menino. Bem, eu não vi, apanhei só o lance final. Estávamos nós no Kombi, o bar-carrinha, sentados na cadeirita cá fora, e o pessoal ia passando. Mas meninas-menino metiam conversa com os gajos que passavam. Uns ignoravam, outros dava um apalpãozinho e iam à sua VIDA, poucos ficavam. Estou a falar com a Sofia, ela exclama algo, olho, só vejo um gajo lá ao fundo, de cor-de-laranja, a correr, fugindo de algo, e depois uma menina-menino a levantar-se do chão. O gajo, viu a Sofia, mandou-lhe uma chapada tão forte que a gaja foi ao chão. Fiquei um bocado fora de mim, e acho que se tivesse visto a cena tinha ido atrás dele. Mas quando soube o que se tinha passado, era tarde. Apesar de tudo, achei curiosa a minha reacção. Uma coisa são as palavras, outra são os sentimentos. É miuto fácil dizer que se respeita, e tal, e isso não quer dizer que se sinta. Mas o que é certo é que eu senti exactamente o mesmo como se o gajo tivesse agredido uma gaja.
               
O dia seguinte foi para a descontra, em casa, sem fazer grande coisa.
               
Chegada segunda-feira, íamos para Ko Pha Ngan, esperávamo-nos a Full Moon Party. Não tínhamos marcado nada, e de acordo com aqueles amiguinhos na rua que tinham todo o interesse em nos ajudar, devíamos ter marcado com dias de antecedência. Ai ui! E de acordo com a malta da agência, a mesma cena. Pois acontece que dirigimo-nos onde era suposto, marcámos a cena, tudo tranquilo, e ainda pagámos bastante menos do que o pessoal nos tinha dito. Pagámos 600 baht.
               
Foi nesta tarde que se passou algo incrível...
               
O nosso autocarro era só às seis da tarde, e nós tínhamos algum tempo para matar. Então fomos dar uma volta. Começou a chover quando estávamos num templozinho budista muito porreiro. Tirámos umas fotos, vimos umas cenas, até que nos abrigamos debaixo de um oleadozito. Lá estava uma senhora de face asiática (mas que era canadiana), uma rapariga que devia ser sua filha, e mais doi rapazes chineses. Entretanto apareceram dois tailandeses com quem ela metera conversa. Pois eu estou ali à espera que a chuva passe, e ouço-as a comentar uma corridinha numa tuk-tuk que é muito barata e não sei quê. Tendo já caído na esparrela, digo-lhe que já me acontecera o mesmo, mas para não irem, porque assim vão ter de ir no fim ver as lojas, perder tempo e tal. Elas agradecem a informação, ficam na sua a conversar, e aparece depois o condutor. Quando ele lhes pergunta não sei quê, elas dizem que já não vão.
               
- Porquê? – pergunta ele, meio zangado.
- Porque está a chover – respondem. O gajo, que já tinha vestido a sua cara de mau, olha para mim e pergunta se eu tinha dito alguma coisa. Eu disse que tínhamos conversado, eu tinha dito algumas coisas, como qualquer pessoa em qualquer conversa. O gajo pergunta porquê, e eu respondo algo tipo “porque estávamos à conversa”, simplesmente. Ele não gostou nada. bem vistas as coisas eu não lhe tinha dito que lhes tinha dito. Mas o que se passou não foi giro. O gajo aponta para mim, aponta lá para fora, diz algo como “lá fora” e como “morrer” e sai a dizer algumas asneiras. “Boa, era mesmo o que estava a precisar, um par de murros na tromba. Mas pronto, se tiver de ser, há-de ser”. Ao menos o gajo era um rufia respeitoso, porque ficou à minha espera fora do templo, não me atacou dentro do mesmo. Ora de que é que eu não estava à espera? Aquilo de que eu não estava à espera, porque não é assim uma cena que aconteça todos os dias, era que, quando olho para ele, ele tem uma faca na mão que aponta para mim, mesmo antes de desferir uns golpes no ar, alternados com um chamamento. “Heia pá!”. Aqui a minha adrenalina começou a dizer “olá”. Mantive a calma, tirei os chinelos, meti-os na mochila, caso precisasse de correr, e pedi a um puto tailandês que lá estava, para ligar à polícia. A cota e a filha estavam-se a passar. Estavam calmas, mas não se acreditavam naquilo. A Sofia estava nervosa também, mas ainda ok. Pois o gajo depois volta...
- Queres ir dar uma volta? – diz ele, a um metro de mim – A ti levo-te só por um bhat. Queres vir? – não sei porquê lembrei-me do gajo do auto da barca do inferno que leva o pessoal já morto a dar uma volta para o outro lado do rio.
- Não, não, obrigado – respondi. Não sem antes perguntar o mesmo à Sofia, o gajo dá meia volta, uma lapada no próprio rabo, para chamar atenção para aquela lâminha de meio palmo que sorria toda contente. Não estava fácil aquilo.
               
Eu e a Sofia comentámos que contado não parece tão real ou ameaçador. Mas eu acredito que o gajo estava mesmo passado o suficiente para me mandar uma naifada. E tudo porque perdeu uns cupõezitos de gasolina. O gajo ali com a faca no ar, e eu a pensar no meu fígado. É engraçado, mas cheguei a pensar que lado daria ao manifesto. Tentaria lutar, claro, mas não me podia atingir o fígado, porque isso era fatal. Não que o meu esteja em grandes condições, mas sempre dá para a despesa.
               
Eis que chega um gajo de uniforme. Bela merda. O gajo não nos estava a levar a sério, mesmo após os putos lhe terem dito o que se passava, em tailandês. Não sei se o outro bazou quando o viu, ou o que se passou, mas o gajo polícia não era. Acho que era um segurança qualquer. Sei que ele esbracejou, dizendo-nos para irmos. A medo demos umas passadas na direcção oposta de onde o louco tinha estado. A senhora queria que eu apanhasse um táxi. Dissemos xau, e metemo-nos numa corridinha, eu e a Sofia, sem saber bem onde queríamos ir. Acabámos por ter de voltar ao templo, mas à volta. Mas méne eu sentia que cada pessoa que me olhava estava ligada com o gajo, incrível o sentimento de paranóia, o nosso instinto de sobrevivência a dizer-nos para termos cuidado com tudo.

É importante a ressalva que Bangkok é uma cidade segura, dizem as estatísticas, e assim o senti (tirando os esquemas da treta). Este gajo deve ter sido um acontecimento raro. O que foi ainda pior é que não aprendi nada com isto. Às vezes um gajo arma-se em espero e dá merda, e até aprende. Mas neste caso, eu só me limitei a ajudar outros viajantes. Quando ele me perguntou se eu tinha dito algo, se calhar podia ter reagido como se estivesse mais surpreendido, mas ainda assim...

Bem, depois apanhámos o autocarro.

23h08-s-18-6-11
Phuket

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