segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

´Bora Lá...


É segunda-feira, cinco e trinta e quatro da tarde. Estou em Birmingham, deitado no sofá da Carol, minha amiga e ex-manager, a ouvir Royksopp. Tive um fim-de-semana um bocado merdoso. Enquanto psicoterapeuta que trabalha com pessoal que tem problemas maiores do que não poder comprar um mercedes, às vezes o cenário fica difícil. Um gajo sorri, respira fundo e aguenta bem, contente por estar a ajudar, mas às vezes... bem, às vezes dá vontade de mandar tudo para o caralho. É assim a VIDA, sou humano e tenho limitações. Mas quando tudo passa fico contente por sentir que fiz um bom trabalho (precisamente por não ceder e não mandar tudo para o caralho) e quando saio daquelas portas, a ouvir Audioslave, sei que posso voar.

Na comunidade onde trabalho fazemos um “feelings-check” que consiste em cada pessoa dizer como se sente.
- Sinto-me bem... – disse, hoje – Sinto-me nervoso, mas é um nervoso bom. Estou a viver um dos melhores momentos da viagem, que é a antecipação – concluí. E é verdade. Estou contente e com boas expectativas para o que me espera. Penso no que é que isso significará... se digo que a antecipação é dos melhores momentos de uma viagem, que é que isso diz acerca da viagem? Que não é assim tão fixe? Não, não tem nada a ver com isso... Simplesmente quando na antecipação há aquele não-saber que eu adoro, e que se mistura com aquilo que eu gostava que fosse mas que sei que provavelmente não chegará a ser, e eu curto muito isso. Há pessoal que gosta de saber exactamente onde vai estar, o que vai fazer, o que vai encontrar. ‘Tá tudo, não critico, mas não sou nada assim. Gosto de ter uma ideia geral, e deixar tudo o resto ao sabor do Vento que me estalar as ideias num ou noutro momento... Por isso gosto desta antecipação, por saber que, neste momento, tudo é possível...

Apanho amanhã um autocarro de Birmingham para o aeroporto de Luton, onde passarei a noite para apanhar um avião para Targu-Mures, na Roménia, às sete e meia da manhã. Acho que não vou querer dormir, como já aconteceu, para não arriscar não acordar a tempo. Mas hei, que se lixe. Há quem passe pior por razões piores, suponho...

Em Targu-Mures vou ficar umas duas noites com uma couchsurfer romena e daí vou de autocarro, ou à boleia, para Chisinau, a capital moldava. A temperatura máxima para esta cidade na quarta-feira é de dois graus negativos, e a mínima é de oito... Ora isto não me deixa a morrer para me meter aí à boleia. Estou a imaginar-me congelado de polegar esticado, com um sinal, e o pessoal a pegar no meu corpito, meter dentro do carro e levar-me, naquela posição estática... Não sei. Só sei que não boleiarei só se for mesmo impossível.

À partida farei de Chisinau a minha base e depois viajarei na Moldávia a partir daí. Devo ficar com um americano uma ou duas noites e uma moldava outras três, a partir de sexta-feira. Já li em vários sítios que a capital moldava tem uma noite incrível – quem melhor para a testar certo?

Daí passarei pela Transnítria, uma república que tem o seu próprio dinheiro e tudo mas que não é conhecida como um país independente por ninguém... especialmente pela Moldávia, cujo território oficialmente ocupa. Estou curioso. Esta república está a este da Moldávia e faz fronteira com a Ucrânia, para onde passarei de seguida. E depois vê-se, não sei ainda... nem sei se o que aqui descrevo se concretizará...

seis da tarde, segunda, vinte de fevereiro de dois mil e doze
Birmingham, Inglaterra

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