domingo, 10 de julho de 2011

Phuket, Com o Mano


No dia 23, quinta, acordei às seis da manhã em Ko Jum, para ir para Phuket, ter com o meu irmão. Paguei o que devia, e pus-me a caminho. Até este pormenor é altamente naquele resort – eles nunca apontavam o que consumíamos, um gajo é que ia comendo e bebendo e apontando lá num cadernito com o número do nosso quarto, mesmo à confiança!
               
Caminhei cerca de um quarto de hora, até que um senhor com uma scooter muito velha me ofereceu uma boleia. Assim cheguei ao cais com tempo para tomar um ou dois cafés, nas calmas.
               
Às sete e meia apanhámos o barco, e lá p’rás oito e pouco estávamos na vila. Tomei outro café e apanhei o táxi para Krabi, que custaria 40baht (0,90€). Andámos um pedaço, e a dada altura parámos num semáforo. Eu estava a olhar à volta, e cruzo olhar com em ocidental, que conduzia uma pick-up, com uma tailandesa ao lado. O gajo ri-se para mim, eu retribuo o sorriso. E penso “será? não, nunca... mas que se lixe, não custa nada perguntar...” – e pergunto. Chamo o gajo, e pergunto se ele vai para Phuket. Ele diz que sim. Pergunto se não me pode levar. Pode. Cool! Boleia direitinho a Phuket. Saio do taxi, pago o que devo, e siga!
               
Quem me apanho foi o Didier, um francês de 51 anos com cara de 41 (viajar faz bem à pele), que é um autêntico senhor! Eu não conseguia ter a VIDA dele, porque ele abandonou a França por completo, e eu jamais abandonaria Portugal sem perspectivas de voltar, mas de todo o modo, admiro este gajo. Vivia na Tailândia há quatro anos, já tinha estado em 130 países, e há cinco anos fez das viagens mais malucas de que ouvi falar. Comprou uma tuk-tuk na Tailândia e foi com ela até França! De tuk-tuk! Loucura! Tinha bué de projectos, e o mais recente era ir no seu barco, que construira na Tailândia, até à Europa. Mas precisava de patrocínios, que não apareciam. Ele estava à procura de 250 patrocinadores que entrassem com 1000 euros cada um – não me parece nada fácil. Prometia um retorno do dobro do dinheiro, com os livros que venderia e documentário que faria, mas só tinha arranjado uns cinco ou seis. Eu vi-me grego para encontrar pessoal que entrasse com 500, 200 ou 100 euros, quanto mais mil! E duzenta e cinquenta pessoas!

já agora, se és novo(a) por aqui, dá uma olhada na secção “Ajuda-Nos”. e se não és novo por aqui, já era alturinha de entrares com cinco ou dez euritos! mas diz-me, caso o faças

Após perguntarmos a algumas pessoas, o Didier deixou-me mesmo, mesmo no hotel do meu irmão. Demais – uma boleia, de fio a pavio!
               
Entrei, e senti-me de imediato como um alien ali. Eu, com a mesma t-shirt de há quatro dias (se bem que tinha andado de tronco nu a maior parte do tempo), os meus calções com o velcro já morto e enterrado, as minhas havaianas uma de cada cor, uma de cada tamanho, e as duas mochilas. Tinha dito ao meu irmão que só chegava à tarde, por isso queria fazer surpresa. Pedi para a senhora ligar para o quarto dele, mas nada. Então sentei-me, acedi à net e mandei-lhe mensagem. No meio disto apareceu um senhor a dar-me uma daquelas toalinhas enroladas que dão nos aviões, e depois um copo com algo que parecia sangria. Nice.
               
Lá me disse que estava na praia a ter uma massagem e fui ter com ele. Estava, com uma amiga, ambos de papo para o ar, com uma cota tailandesa para cada um, a dar o melhor dos seus dedinhos. O que me lembrou que nunca paguei por uma massagem.
               
Foi fixe ter visto o meu irmão. Já ando nisto há mais de cinco meses, e às vezes tenho saudades de casa, naturalmente. Mas não é bem de casa, mas das coisas que lá faço. Quando penso em voltar penso em andar de skate ao frio, em ir tomar café ao sombrinha com a minha mãe, ir ao Dragão com o meu pai, em ir jantar à Adega Soares, em estar em Portalegre. Tenho saudades do frio também. Às vezes o pessoal refere-se a esta viagem como férias. Um erro compreensível. Mas isto não tem nada a ver com férias. Está claro que não é um trabalho. Mas não são férias. Por acaso, férias foi o que eu tive naqueles quatro dias com o meu irmão. Mas de resto, uma viagem destas não são férias porque acaba por ser um modo de VIDA, ainda que finito. E custa, por vezes, claro que custa. Às vezes apetece-me voltar, outras vezes não sei como conseguirei fazê-lo. Os sentimentos e expectativas alternam como as hormonas de uma grávida. Mas nunca, nunca, me arrependi, e sempre senti, como aqui já disse, que, corra bem ou corra mal, estou sempre exactamente onde preciso de estar. Agora estou em Kuala Lumpur, na Malásia, e nunca estive tão longe de casa. Falta pouco para voltar, três meses, mais coisa, menos coisa, e a estrada à frente é longa. O que tenho em mente afigura-se estafante e um tanto ao quanto impossível. Mas cada dia é um dia, e assim tento levar, não só esta viagem, como o resto da minha VIDA. Os planos têm o potencial de serem belos e uma benção que nos auto-atribuimos, ou de serem devastadores, quando passam por uma constante renovação de esperanças que saiem frustradas. Quando todos os dias batalhamos para algo que nunca chega, há algo na nossa VIDA que se perdeu, e seguimos o nosso rumo de olhos vendados, não sabendo muito bem porque é que estamos ali. A única resposta, por vezes, é porque toda a gente também está. E odeio isso. Odeio que muita gente se possa entregar ao conformismo que corroí.

Ter estado com o meu irmão foi mais tipo férias porque passei algum tempo lá no hotel dele. Não vou aqui armar-me em alternativo e dizer que não gostei do conforto daquele hotel. Mas nunca estaria lá sozinho, como já estive sozinho em centenas de lugares nesta viagem. E não sei se conseguia lá estar mais do que uma semana.
               
Estava à espera de gostar de estar com o meu irmão, está claro, mas acho que gostei mais do que esperava. Porque além de meu irmão, aquela pessoa representava, também, aquela parte da minha VIDA que eu deixei à espera, de onde desapareci por uns meses. E por isso reparei com curiosidade e espanto que, por exemplo, quando ele dormia, eu até queria que acordasse, não necessariamente para interagirmos, mas para o ter perto, na sua consciência, ao invés de perdido num vale onírico qualquer.
               
Além da amiga do meu irmão estava, com eles, um casal tuga que conheceram no aeroporto e que não deixaram mais. Malta porreira, a Joana e o Nuno. Muito diferentes de mim em vários domínios, como o meu próprio irmão é. Mas sempre advogo que estas diferenças de personalidade e estilos de VIDA não têm porque significar um afastamento.
               
Nesse primeiro dia, passámos a tarde na piscina e depois fomos para Patong Beach, onde tinha deixado a Sofia, que estava um bocado à beira do tilt. Estava farta daquele pedaço de mundo que parecia o Algarve, e ter estado sozinha não tinha ajudado. Fomos jantar, demos uma volta, e depois eles foram para o hotel, e eu fiquei no nosso dormitório, com as suas personagens e stresses.
               
O meu pai tinha dito ao meu irmão para me pagar o que eu quisesse, que depois lhe pagava, um agradozinho que agradeço. E no dia seguinte iam a James Bond Island (nome super estúpido e comercial – tem um nome tailandês, mas como filmaram lá um James Bond antigo, agora é assim que é conhecida), uma praia que deve ser toda XPTO e não sei quê. E no dia seguinte iriam a Ko Phi Phi, onde filmaram o filme “A Praia”. Apesar de ter este cheque em branco, não achei sensato abusar e não fui à James Bond, sendo que queria ir a Ko Phi Phi.
               
À noite ia ter com eles, para jantar, passar a noite no hotel (assim à socapa, sem os gajos do hotel perceberem) para no dia seguinte irmos para Ko Phi Phi. O táxi para lá eram 600baht (14€), por isso aluguei uma scooter por 200baht/24h e lá fui. Demorei hora e meia a chegar! Aquilo não era a mais de meia hora de distância, mas não só o meu caminho era à volta, como também andei meio perdido. Assim, cheguei lá às nove e pico. Jantámos no chinês. Pagámos o que é, no meu mundo, um balúrdio. Mesmo. Uma refeição de uma pessoa dava para pagar mais ou menos quinze das minhas habituais. É a cena de cada um, mas custa um bocado perceber. Depois estivemos um bocado na esplanada do bar e fomos para o quarto.
               
Passámos o dia seguinte a saltitar de ilha em ilha. Acordámos, tomámos o pequeno-almoço e fomos para as docas, onde após pagarmos (não foi super caro, 1100bahts – a Sofia fez algo parecido por 900) nos metemos no barco. Foi um dia porreiro, parando aqui e ali em praias com aquele mar cristalino e esverdeado, baías de cortar a respiração. Estou contente por ter ido. E não sei se mais lá volto.
               
Quando voltámos ao hotel, peguei na scooter e fui ter com a Sofia a Patong Beach. Desta feita, indo pelo caminho certo, demorei menos de meia hora. Já estou alto pró, curto bué andar por aí, sentir o Ventinho, deslizar ao lado do mar.
               
Fui dizer ao cota que ia precisar da mota mais um dia e depois fui ter com a Sofia, a quem tinha de pedir para ficarmos mais um dia em Phuket. A Sofia estava farta de lá estar, mas percebeu a cena e assentiu. Ficaríamos ambos lá no quarto do hotel e passaríamos o dia seguinte na descontra. Ela claro que pelo hotel preferia ir, mas entendia que eu curtisse estar mais um dia com o meu irmão. E, depois disse-me, acabou por curtir o dia seguinte. Assim, a Sofia foi jantar e bazámos. Fomos nas calmas, e quando chegámos fomos os seis jantar lá a um hotel vizinho. Aquela rede de hótes, ou lá o que é aquilo, tem táxis-barco de uns hotéis para os outros. E tem a piscina mais longa da Ásia.
               
O dia seguinte foi, como tinha previsto, de nada fazer. Tratei de umas cenas na net ao lado da piscina, nadámos, jogámos, lemos. Li metade do “Uma Noite em Novsa Iorque”, do Tiago Rebelo, e acho que o meu romance vai partir tudo. Desse livro achei tudo um bocado cliché e previsível. É certo que li oitenta e tal páginas sem parar, mas de todo o modo, não fiquei impressionado. E sendo este gajo dos autores que mais está na ribalta em Portugal, acho que algo não vai bem por esse canto da Europa. Se por algum acaso o Tiago Rebelo lesse o que agora escrevo – que não leve a mal, não é uma crítica destrutiva.
               
À noite voltámos para Patong. Eu tinha de ir deixar a mota e íamos lá jantar. Encontramo-nos todos às nove e tal e fomos comer lagosta. Foi a segunda vez que comi (tendo sido a primeira vez em 2001, acho, no casamento do filho do Vieira), e não sei se volto a comer. Curti, ok, mas pelo preço não acho que valha a pena. Às vezes um gajo paga muito, mas no final pensa “hei pá, valeu a pena”. Não foi o caso.
               
Fomos beber umas cervejas a um bar do lado, e despedimo-nos. No dia seguinte eles voltariam a Portugal, e eu boleiaria para a Malásia.

14h07-2ª-4-7-11
algures entre Kuala Lumpur e Singapura

1 comentário:

  1. Bem...já aparecemos no teu livro! :-) De facto, este casal tuga (Joana e Nuno) adorou conhecer-te! Ficarão na nossa memória mtas histórias q ouvimos...principalmente a de entrares num país com 20 dólares e saíres com 27! Brutal...quero acreditar que existe boas pessoas por esse mundo fora! Continuação de mto boa viagem, nós seguiremos por aqui! Beijinhos e Abraços

    ResponderEliminar