Estou na Mongólia. Que cena. Estou aqui sentado, estive lá fora há bocado. Senti o friozito na pele, delirei a ouvir aquela faixa, voltei para dentro. Que cena. Sinto-me tanto. Sinto-me perfeitamente. Longe de perfeito mas perfeitamente me sinto. Como curto viver. Estes segundos são fundamentais para o meu ser. Às vezes, como qualquer sistema, vou abaixo um bocado e funciono a meio gás, nem sei bem porquê. Mas essas vezes talvez existam para eu não tomar os segundos como garantidos. Tudo é meu, se eu quiser. Sinto que o meu coração a ser freneticamente embalado por esta música que ouço e sei, neste momento, que tudo isto que me rodeia e que me preenche é divino, criado não por algum deus mas pela divindidade da circunstância, sorte e audácia. Sinto-me bem. Sinto-me criança aqui dentro, sinto-me inteiro, como se nunca tivesse perdido nada desde que nasci, como se cada peça se tenha acumulado num puzzle difícil de compreender e maior do que o meu olhar.
Quero isto para sempre. Quero uma VIDA assim. Independentemente do que me faz feliz, de onde estou feliz, quero para sempre sê-lo. Quero viver cada dia como uma novidade, quero sorrir e chorar, quero andar à chuva sem protecção, trepar paredes e árvores. E cair de vez em quando. Quero ouvir música para sempre. E quero que ela me faça sentir como sempre me fez sentir.
Sou eu, aqui. Aqui e aí. Aqui dentro sou eu, não importando onde se passeia o meu corpo. Os desafios a que me proponho são fundamentais, mas será fundamental os desafios seguirem por linhas comuns? Nada disso. Cada dia é eterno, e o desafio é esse. Ver nestes ciclos que passamos a cada vinte e quatro horas algo que nos mantenha a sorrir. Não importa se estou em Portugal, ou se estou na Mongólia. O desafio não é esse. O desafio é o quase constante sorriso, o desafio é o arrebatar do nosso coração. Se me arrebata aqui, ou ali, isso não importa. Importa-me que me arrebate, isso sim. Por isso me quero entregar-me a mim mesmo, abrir-me como um livro e nunca deixar de falar esta língua.
Ah, estou bem, sinto-me bem.
quatro da tarde-segunda-vinte e seis de setembro de dois mil e doze
Ulan Bator, Mongólia
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