para quem ja leu o texto anterior, o mesmo continua quando as letras, neste mesmo texto, ficam grandes
Gilgit foi perfeito! Passei uns dias de sonho naquela vilita, e conto voltar, quem sabe quando (?), passar um mês ou dois a escrever. Acho que é dos sítios mais porreiros para isso que já encontrei. Pausa. Sacudo uma aranha que se aventura aqui por territórios pedrísticos. Estou em Hunza, e já vão alguns dias desde que escrevi pela última vez.
A minha rotina inicial de cada dia era imutável. Acordar, tomar banho, e esparrachar-me (?) na espreguiçadeira paquistanesa no alpendre a ler cerca de duas horas. 1984, do Orwell, que já acabei e de que falo um pouco de seguida. Fui à ner pôr-me a par com algumas cenas que não têm importância nenhuma, e o sol já se estava a pôr quando voltei para casa. o Qayum estava de saída, e quando lhe perguntei onde ia, disse que ia levar comida para os cães. Tinha-me falado que uma cadela tinha parido sete cães ali num campo ao lado, e que ele ia lá dar-lhes de comer. Sem obrigação nenhuma o homem, não só não os meteu num saco e mandou ao rio, como lhes dava de comer. Lá fui com ele, e depois de atravessarmos um par de campos em puro breu, chegamos aos famintos. Estivemos lá meia horita, e quando voltávamos ele encontrou um amigo qualquer, sentamo-nos lá no meio de um campo de batatas e eles fumaram produtos nacionais, tranquilamente. Quando voltámos, estivemos a conversa um pedaço, jantámos, tomámos chá e fui dormir. Nessa noite reparei que mais uma vez não havia carne, e fiquei a pensar se o homem seria vegetariano.
No domingo acordei filadinho em ir ver a estátua do Buda que havia algures p’rali. Acabaria por não se concretizar. Como mais tarde percebi, não podia fazer planos em Gilgit, por acabava sempre por ir ao saber da corrente, sem me despachar para fazer fosse o que fosse. Como manda a lei. Pois estava pronto para bazar quando o Qayum disse que o Yasir e mais outro rapaz vinham lá almoçar, e se eu não queria ficar. Ok, ‘tá tudo. Lá continuei a ler, até que os gajos chegaram. Tivemos à mesa p’rai três horas. Uma de volta da comida e conversa (ora em espanhol ou inglês, para mim, ora em shina, a língua local, para o outro méne paquistanês), outra hora antes do preparo e outra com chá. O chá daqui é sublime, o melhor que já bebi. Não se limitam a adicionar leite, como na Inglaterra, mas fervem o leite com o chá também. Experimentem. Yellow Label.
Quando os gajos bazaram já eram p’rai quatro, ou quase. Mandei-me numa caminhada que curti bué. Passei pela rua principal da vila e segui em direcção ao rio. Pelo caminho passei pelas casas do pessoal, caminhos estreitos, campos de um pouco de tudo, vacas, galinhas, cabras, e putos a jogar cricket. O que mais me atraía naquilo era a paz de toda aquela atmosfera. O silêncio era rompido pelo Vento a deslizar na vegetação ou os ocasionais gritos da pequenada em êxtase. E sentia-me dentro daquilo. Estava ali, na boa, e adorava cada passada. Adoro o verde. Acho que no Paquistão voltei a apaixonar-me pela natureza. Ou voltei a lembrar-me que estava apaixonado. Tipo aqueles casais que estão juntos há tanto tempo que nem reparam que ainda há amor a uni-los – reparando quando estão, por exemplo, de férias, ou num aniversário qualquer.
Andei pela beira do rio, com calma, e quando decidi voltar para cima, encontrei o méne que algumas horas antes tinha cozinhado para nós. Pelos vistos ele tinha um cafézito. Ele disse hotel, mas era um barraco de cimento de uma divisão. Parecia mais um sítio para descontra. Ele não falava inglês mas convidou-me para um chá e uma sanduíche, que eu prontamente aceitei.
Quando cheguei a casa já era de noite. Tinha comprado três ovos, dois tomates e uma cebola, no dia anterior. O Qayum foi para a cama, eu deixei o computador a tocar um sonzinho e fiz uma omolote.
Esqueci-me de referir. Quando o outro méne cozinhou para nós, fez galinha, e o Qayum comeu. Ou seja, não é vegetariano. Onde estou agora, em Hunza, já tive três refeições com eles e ainda não comeram carne. Acho que é simplesmente porque não se podem dar ao luxo de comerem carne quando lhes apetece. Se calhar é como dizem que era dantes em Portugal, “quando o rei faz anos”...
Na segunda também não cheguei a ver o Buda. Caguei p’ró Buda. Quando pousei o livro eram p’rai três da tarde, tendo já almoçado. Desta vez fui dar uma volta para o lado oposto de onde tinha ido no dia anterior. O Qayum deu-me boleia até ao centro, fui tirar uma fotocópia do passaporte e mandei-me a caminhar sem destino. A dada altura começei a subir, e quando dei por mim estava entre os campos, com uma visão sob toda a vila, ou cidade, ou lá o que é. Estava calor mas confortavelmente fresco debaixo da sombra das árvores que me protegiam. Andei assim a caminhar cerca de duas ou três horas, e adorei.
Gilgit foi isto, mais ou menos. Dias passados num hostel de dois euros e meio por noite, horas deitado ao sol a ler, conversas com um cota super bacano e boa pessoa, e caminhadas sem destino, vibrando com as vistas que pairavam sobre os meus olhos. Quando, na terça, lhe perguntei quanto lhe devia, disse que era o que eu entendesse. Ora por noite eram dois euros e meio, paguei-lhe as três noites mais três euros e meio pela comida. Para quem possa achar que fui forreta, é um preço justo. E o problema é que estou outra vez apertado com dinheiros. Não fiz bem as contas e aqui não dá para levantar dinheiro. Mas está tudo tranquilo, tenho dinheiro para água e para voltar a Islamabad, onde posso levantar guitel.
Apanhei o autocarro sem saber se me podiam albergar ou não. Mas felizmente ganhei o hábito de, com cada pedido de estadia, pedir também o número de telemóvel. Assim, passadas quatro horas de ter deixado Gilgit, e a meia hora de Karimabad (em Hunza) liguei ao Gulham. Ele disse que me podia albergar, e para eu ir ter a algo que soa como Azeirabad. Fixe. a minha outra opção era dormir debaixo das estrelas. Quando cheguei à dita povoação meti conversa com um pessoal que passava o seu tempo fora de um cafezito, e eles ligaram ao Gulham, que mandou o seu filho vir buscar-me. Enquanto esperava conheci o Karem, que é amigo doJoão Garcia, o alpinista português. Conheceu-o em 2007 e depois esteve com ele em 2009 também, creio. Tinha um livro autografado pelo gajo e tudo.
Entretanto apareceu o puto. Não me lembro do nome dele, apesar de já termos estabelecido uma relação porreira. Aliás, sinto que entrei de cabeça nesta família. Hoje (quinta) andei o dia todo com um primo esquerdo do meu anfitriãoi, era para dormir em casa dele, e amanhã vou ter com ele e os seus amigos à escola, onde assistirei a um par de aulas. Já aí chego.
O filho do Gulham, de doze anos, fala inglês que se farta, fiquei agradavelmente supreendido. Nos quinze minutos que demorámos a chegar a sua casa foi-me contando acerca dos sítios que havia para ver e dos festivais que celebravam. Apesar de já ter escurecido fui percebendo onde estava. Sempre gostei de provar a verdadeira cena dos países, quando possível, não me limitando às capitais. Costuma ser porreiro, seja o sítio o que for. Ora quando se mistura esta autenticidade procurada com montanhas de mais de sete quilómetros de alturas protegendo centenas de pequenos campos verdejantes, um gajo sabe que não pode ficar muito melhor. Claro que era de noite, e não podia ver isto, mas podia sentir, atravessando aquelas ruitas estreitas ladeadas por muros feitos por alguém, ou ontem ou há cem anos, pondo pedra sobre pedra.
Chegámos e a família estava na sala de estar. O Gulham identificou a zona como sala de estar, mas é a casa, simplesmente. Esta família, sem querer, ofereceu-me uma perspectiva que nunca ou raramente tivera a oportunidade de abraçar. Vivem naquela divisão quatro ou cinco pessoas, dependendo se a tia do meu anfitrião, de 85 anos, está presente ou não. A luz, como no resto do Paquistão, não está disponível durante uma boa parte do dia, e não têm água corrente durante o Inverno (considerando-se esta altura como ainda Inverno, sendo que os glaciares ainda não começaram a derreter). A lista fica muito mais pequena se disser o que têm... a divisão é do tamanho de duas mesas de bilhar. Têm um armário embutido na parede, uma televisão, uma fornalha onde cozinham, um balcãozinho, uma estruturazinha de madeira onde amassam o pão... e acho que é isso. Apesar de me parecer óbvio, acho importante referir que não estou a dizer isto simplesmente para expor a pobreza de outros que não nós. Refiro isto porque estas condições deram-me, como disse, uma maneira de ver as coisas que apesar de não ser nada nova, se tornou mais um bocadinho real. Podemos convencer-nos de um pouco de tudo, mas por vezes é necessário ver para crer, ou para sentir os seus efeitos em nós. Escrevi um texto sobre as posses e bens materiais a que por vezes damos uma importância imerecida e que jogam um papel que não lhe pertence na determinação da nossa felicidade. Por isso mesmo não me alongarei mais, sendo que publicarei este texto brevemente.
O Gulham reformou-se da sua posição de contabilista no exército quando tinha 33 anos, em 1992. O pai estava doente, a mãe, que morreu pouco depois do pai, não podia trabalhar, e o rapaz teve de fazer o que pôde. Desde então passa os seus dias de volta dos seus doze campos, onde cultiva apricots (não sei o que é em português e não tive net ainda para traduzir), erva (que armazena para no Inverno dar às vacas), maçãs, peras, feijões, batatas, entre outros. Tenho de melhorar o meu conhecimento nesta área. Noutro dia vi um episódio de How I Met Your Mother em que os gajos falavam daquelas falhas crassas que toda a gente tem. Acho que uma das minhas é neste campo. Ele perguntava-me que cultivavamos em Portugal e eu lá ia respondendo, mas com a mesma facilidade que um coxo a correr os cem metros barreiras.
Tal como toda a gente que conheci, tem vários irmãos e irmãs, e tem também seis filhos, dois dos quais vivendo consigo, o puto e uma miuda. Perguntou-me se em Portugal tínhamos o sistema de família conjunta (foi a melhor tradução que encontrei). Ora aqui está algo nesta cultura com que me identifico tanto como me identifico com uma faca podre! Quiçá se aqui tivesse nascido, teria aprendido a ver as coisas com outros olhos, e o que para mim parece estranho e inaceitável seria apenas... normal. No Paquistão o costume é, quando um filho se casa, continuar a viver na casa dos seus pais, com a sua mulher, até que os pais morram. Depois continua. Seja um, sejam dez. Quando lhe perguntei como seria então, se o filho dele se casasse, por exemplo, em Lahore (uma cidade a trinta horas daqui), ele disse que o filho ficaria lá, e a mulher viria viver com eles. A razão, disse-me, é que chegada certa altura, os idosos não se conseguem safar sozinhos, e precisam de alguém que cuide deles. Eu tinha acabado de chegar e não quis pôr-me a armar com as minhas filosofias de mudança e adaptabilidade, pelo que não comentei. Não considero isto cobardia, simplesmente acho que há momentos e momentos, e é sempre importante avaliar a situação e ter em conta que há um sem número de factores que, por não pertencermos, não estamos a ter em conta. Por outro lado, também acho importante não mentir quando nos perguntam a nossa opinião. Mas até nisto podemos dizer a mesma coisa de diferentes formas. Se ele me perguntasse o que eu achava eu tanto podia dizer “eu acho isso terrível!” como poderia dizer “pá de onde eu venho isso é algo que nunca acontece, e isso faz com que, para mim, seja difícil entender...”. São coisas...
Outro aspecto completamente diferente desta nossa geração sem remuneração é a diferença entre sexos. São as mulheres que fazem tudo. Foi um momento peculiar quando o Gulham me perguntou se eu queria lavar as mãos. Eu disse que sim e levantei-me – estávamos todos, como é costume, sentados no chão. Ele disse para eu me deixar ficar, e a sua filha apareceu com um cântaro e um pote. Deixava correr água do primeiro para o segundo, com as minhas mãos algures no meio a purificarem-se. Uma serventia à qual não estou acostumado, de todo.
Penso agora para comigo como poderão ser interpretadas estas observações, e consciente de que há almas mais limitadas que as outras, tenho receio que usem estas diferenças que aponto como provas irrefutáveis de que esta é uma sociedade assim... ou assado. Mas confio que percebam que vou dizendo o que vejo, seja o que eu veja algo percebido como positivo e interessante, ou negativo e interessante.
Entretanto apareceram dois primos da família. O Riaz, meu novo amigo, de 23 anos, e o outro rapaz de 20 anos, de aspecto completamente irlandês (ruivo, sardas, olhos claros), também porreiro mas cujo nome não me lembro. Convidaram-me para uma celebração na sua escola no dia seguinte, de manhã. Apesar da hora, disse ‘tá tudo.
Antes de dormir vi um filme muito interessante chamado With Eyes Wide Open. Recomendo, a quem o consiga encontrar. É israelita e centra-se num caso homossexual entre um talhante casado e o seu empregado. Ainda tenho de perceber a minha aversão com a religião. Os gajos eram judeus e no filme está muito bem exposta (parece-me, nunca fui a Israel) aquela cultura de bairro onde o rabi é que sabe o que é bom, e onde o pessoal age de acordo com aquilo que acha que o gajo lá em cima quer.
No dia seguinte o gajo não apareceu. Fui então, nessa manhã, com o Gulham e a sua mulher até uns campos que têm ali perto, e fiquei sentado enquanto um méne amigo com um tractor lavrava a terra. Isto demorou cerca de duas horas. Posto isto, fui dar uma volta com o Gulham. Caminhámos cerca de duas horas, até que ele teve de ir fazer umas cenas quaisquer, e me deixou responsável pela minha própria expedição. Ora Hunza é algo como eu nunca vi. Acho que posso dizer isto com boa certeza. O Paquistão foi o quadragésimo oitavo país que visitei. Já vi cenas do outro mundo, paisagens de cortar a respiração e monumentos de provocar tonturas. Tenho ainda de digerir isto tudo e perceber se é, ou não, o sítio mais belo onde já estive. Mas a certeza de que se não o é, é um dos mesmos, está comigo para ficar. Como disse, são montanhas a toda a volta, um vale imenso, campos e campos com uma ou outra casa a retirar a monotonia do cenário, ruelas de terra, crianças a brincar, um quase-silêncio dentro de mim. Andei o dia todo, até ficar todo partido. Acho que um bom indicativo do que sentia é dizer que, contrariamente ao que quase sempre faço, não ouvi música no meu ipod. Parece que ia estragar a cena um bocado.
Caminhei mais duas horas depois do Gulham ter ido embora. A dada altura entrei numa propriedadezita guardade por uma vaca e uma vitela, passei pelo campo e dei comigo na beira de um desfiladeiro, onde me sentei, aí sim a ouvir música, algo calmo, a apreciar a vista para o forte e o rio lá em baixo. Fui abatido por uma calma e confortável tristeza. Dei de caras comigo. Talvez os momentos mais reflexivos não sejam aqueles que advêm do êxtase, mas da sublime ternura provocada por uma convidade melancolia. Pensei em momentos, acho, na sua efemeridade e no poder que têm para nos definir. Tenho passado muito tempo com muita gente, mas como viajo sozinho, é apenas natural que passe longas horas tendo-me apenas a mim como companhia. Isso leva-me a pensar, e a tentar perceber pequenas coisas e o porquê das mesmas. Por isso mesmo tenho-me apercebido de momentos, aqui e ali, em que possa ter estado menos bem, ou até mal, aparecendo esta clarividência com mais frequência do que quando em casa. Como um jogador de futebol que vê o seu próprio jogo na televisão e percebe que não devia ter passado a bola para ali, ou ter pedido falta naquele lançe. Gosto disso.
Voltei para casa e cheguei todo partido. Fiquei a pensar se não será por não estar habituado a fazer esforço em elevadas altitudes e isso exige mais de mim do aquilo a que estou habituado. Vi um documentário sobre o Joe Strummer, vocalista dos The Clash, um palerma confuso mas com boas ideias, carácter e carisma. Jantei com eles, pão e batatas, e apareceu o Riaz, que veio desculpar-se por não ter aparecido. ‘Tá-se bem. Aparentemente não dava por motivos de segurança e não sei quê. Estranho, mas é assim. Prometeu que no dia seguinte, hoje, viria buscar-me para me mostrar Aliabad e outras vistas.
Ora o que eu não esperava era que o gajo aparecesse às nove da manhã. Mas ok, ‘tá tudo. Foi um dia muito longo, mas altamente. O gajo é mesmo porreiro. Quebrar o gelo com ele foi instantâneo. Depois de tomar o pequeno-almoço fomos caminhando pela beira do bosque, conversando disto e daquilo. Tal como quase toda a gente que eu conheço, pensava que eu conseguia ler mentes por ser psicólogo. “Eu gosto de estar sozinho, quando estou em casa. Porquê?”, perguntava-me. Sei lá! Porque sim! Porque gostas da tua privacidade, tal como os restantes mortais.
Perguntou-me se eu queria ver o seu liceu. Como sempre, disse que sim. Acho que é uma boa política quando um gajo anda em viagem – aceitar tudo! Bem, quase tudo. Lembro-me agora daquela estranha massagem que recebi em Lahore sentado num tapete enrolado na beira da estrada! Risada (fica mal escrever “lol”, se calhar...)! Entrámos e estávamos a beber um chá, quando ele me disse que os seus amigos me queriam conhecer. Levantei-me e encaminhámo-nos para a biblioteca, onde o pessoal conversava, sentados num círculo em forma de zero. Sentei-me lá com o pessoal e, basicamente, nas duas horas seguintes foi como se eu estivesse a dar uma palestra sobre a sociedade ocidental. Tentei deixá-los à vontade para perguntarem literalmente tudo o que quisessem. Era pessoal porreiro, interessado, muito curioso acerca de “como se faz noutros sítios”. Percebi também que, concerteza devido à raridade do evento, achavam entusiasmante ter um estranjeiro ali.
- Na tua sociedade – como diziam – basta ir ter com uma mulher e perguntar se ela quer fazer sexo? – perguntaram-me, a dada altura. Parti-me a rir, e eles comigo. Eles pensavam que lá por terras tugas e arredores era assim... “ó maria, com’é’qué dás o pito?”.
- Bem, não é assim... é certo que é muito diferente do Paquistão, mas fazer isso seria considerado simplesmente rude pá... – expliquei. Quando me perguntaram acerca das diferenças entre as “sociedades”, pensei um bocado, não querendo ofendê-los, mas disse a verdade. Ou melhor, disse a minha verdade. Que há muito mais liberdade, para fazer seja o que for (dentro dos naturais limites) e que isso faz toda a diferença. Perguntaram-me acerca da minha religião. Como já expliquei noutros textos, normalmente digo cristão, porque acho que das pessoas que me interpelam na rua, algumas se ofenderiam se eu dissesse que era ateu, ou agnóstico. Ia estar a negar a existência de algo que eles prezam, e isso adviria da minha decisão e não de ter nascido noutro país. Mas com estes gajos senti-me à vontade pare dizer que não tinha religião nenhuma e um deles disse algo muito sábio – “a melhor região é a humanidade”. Humanity. Ele não se referia à humanidade enquanto aquilo de que fazemos parte, mas enquanto a forma como podemos lidar uns com os outros, com humanidade.
Ficámos lá um pedaço e depois segui caminho com o Riaz e mais outro amigo. Andámos pelas varias vilas horas a fio, a conversar, rir, gozar um com o outro, tirar fotografias e comer. Almoçámos de graça num restaraunte de um amigo do Riaz.
E por toda esta corrida estou cansado e a pestava pesa. Por isso mesmo por aqui me quedo. O resto do dia foi muito fixe, é isso.
11h45-5ª-28-4-11
Hunza, Paquistão