terça-feira, 28 de junho de 2011

Phuket


O plano era ir à boleia para a Malásia, onde eu já tinha um sofá confirmado. Mas sabia que ia ser difícil. Apanharíamos o barco às sete, depois o autocarro às onze e só chegávamos à vila depois do meio dia. Com tudo isto, íamos começar a boleiar tarde. Por isso mesmo avisei a minha possível anfitriã que não tinha a certeza.
               
Quando chegámos a Surat Thani vimos os preços para Penang, na Malásia, e era tudo muito caro. Assim, decidimos tentar a nossa sorte à boleia, com a Sofia muito na dúvida se deveria ir ou não. Foi um tormento até chegarmos à estrada que queríamos. Ninguém percebia o que queríamos fazer, porque o inglês era muito limitado e o conceito de boleiar nem por isso muito popular. Apanhámos um tuk-tuk que andou à volta do quarteirão e nos deixou perto de um autocarro nada longe de onde já estávamos. Depois fomos nesse autocarro, pois tinham-nos garantido que nos levava à estação de comboio e daí podíamos apanhar um autocarro para o aeroporto (na estrada que queríamos para boleiar). Nada feito. Comemos qualquer coisa e eu fui investigar, acabando por descobrir que afinal, mesmo a pé, estávamos só a dez minutos de uma das estradas que eu queria.
               
Lá chegámos e esticámos o dedo. Passados dez minutos entrámos no primeiro carro, que nos levou um bocado, até que aparecia a estrada número 4, a que ia direitinha até à Malásia. Porreiro. Saímos, esperámos dez minutos e estávamos na parte de trás de uma carrinha de caixa aberta, que nos levou dez minutos, até que chegou a altura de sairem da estrada. Esta altura coincidiu com o choro das nuvens. As senhoras deixaram-nos debaixo de uma pontezita, mas não se conformavam. Diziam, no pobre inglês, que não havia carros, que era melhor um autocarro. Coitadas, estavam mesmo preocupadas. Depois voltaram ao carro, e eu estava à espera que bazassem para eu me meter à chuva com o dedo esticado. Mas elas não iam embora. Por isso tive de ir na mesma. Dei uma corridita e meti-me lá com o dedito. Estive p’rai cinco minutos até que alguém, numa estrada que não nos interessava, deu uma apitadela. Aproximei-me e era um casal simpático que ia só uns quilómetros na nossa direcção. Mas pouco mais pouco é igual a muito, por isso pedi para nos levar. Acho que me levava na mesma mesmo que “my friend” fosse um rapaz, mas reparei na prontidão do sim quando disse que era a minha “girlfriend” (não é, mas às vezes dá jeito dizer que somos namorados, ou até casados).
               
Qual não foi o meu espanto quando, ao me virar para chamar a Sofia, vejo a senhora que nos tinha trazido até ali, à chuva a pedir aos carros para nos levarem. A Sofia estava cheia de pena, mas eu curto bué. Vejamos – não curto que a senhora esteja a perder o seu tempo, e muito menos que esteja à chuva por causa de um par de mafarricos que não querem pagar um autocarro. Mas curto imensamente que ela tenha escolhido fazê-lo. Porque gosto de ver a bondade das pessoas. É estranho, para mim, porque estou um bocado desiludido com a humanidade, em geral, e não sei se o mundo caminha para melhores ligações, não sei se o Homem trabalha para que o mundo deixe de sangrar do nariz (como diz a Spektor). Mas ainda assim, amo cada pessoa individualmente. É verdade que talvez amplie os feitos positivos e os veja como eventuais tendências, ao passo que possa ver os negativos como “um mau momento”, mas é assim que, de momento, escolho ser.
               
O casal que nos ia levar um bocado ia para Phuket. E aí está uma das cenas fixes da boleia. O imprevisto. Já não era nada cedo e ainda tínhamos p’rai 700km para fazer. Além disso estava a chuver.
- Queres ir até Phuket? – perguntei à Sofia.
- Quero.
- Can we go with you to Phuket? – perguntei ao senhor.
- Yes, sure – e lá seguimos para Phuket. I isto foi uma grande coisa, para dizer a verdade! É que o meu irmão ia estar em Phuket, e eu ia encontrá-lo aí. Mas a cena é que me confundi com a data em que aí estaria. Assim, caso eu conseguisse boleia até à Malásia, ia ter de voltar para trás dois dias depois, apenas para depois voltar para baixo. Quer dizer, não tinha de fazer nada, mas quereria.
               
Lá chegámos a Phuket. Ele tinha-nos perguntado onde queríamos ficar e eu disse na zona de backpackers (mochileiros). E ele deixou-nos no Backpacker Phuket. Não era baratíssimo (4€ cada um) mas a essa hora não podíamos ir de autocarro para a zona mais barata. Além disso, era fixe, por isso lá ficámos. Ah, e dava direito a uma cerveja, que riso. Estávamos todos partidos, por isso essa noite foi relax.
               
No dia seguinte fizemos as malas e apanhámos o autocarro para Patong Beach, supostamente a zona de festa, ainda que não fosse exactamente a festa que um gajo procurasse. Lá encontrámos o hostel que procurávamos, Cheap Charlie’s, talvez o mais barato de Phuket, onde pagámos 2€ por noite. Deixamos as cenas e fomos para a praia. Tenho a dizer que, apesar de ter passado uma boa tarde, bem que podia estar no Algarve. Pelo menos aquela parte de Phuket, não a aconselhor a ninguém que queira ir à Tailândia. Se alguém curtir o Algarve, como todos curtimos, de uma forma ou de outra, e quiser só dizer que esteve na Tailândia, esse é o sítio. Mas Phuket é grande, e certamente terá cenas diferentes. Mas ali, méne é exactamente como Portimão, mas de vez em quando vê-se algo escrito em tailandês (nem é assim tão frequente).

Estivemos na praia e quando chegámos éramos os únicos na areia. Estava toda a gente nas espreguiçadeiras, que custavam dois euros por pessoa. Depois um grupo de cinco pessoas se deitou perto de nós. Mas os únicos. Mesmo ao nosso lado podia-se fazer aquela cena em que se vai com um para-quedas puxado por um barco. Perguntei a uma rapariga quanto era e ela disse serem 33€. No instante seguinte o méne que estava com ela veio ter comigo e disse que me fazia a cena por 22€. Quer dizer que a miuda nem tentou negociar. E ok, é a cena dela. Eu acho um preço ridículo por uma corrida de dois minutos e meio (contámos), mas sei que isso sou eu que ando numa viagem low-cost. E já paguei 20€ na Polónia por bungee-jumping (que dura ainda menos tempo) e se calhar havia alguém ali a pensar o mesmo que eu penso desses 33€ por esta actividade. Tudo relativo.
               
No nosso hostel conhecemos um gajo interessante. Mal chegámos ele, com o seu sotaque super vincado (era canadiano mas o sotaque é aquele mesmo americano) atravessou o beliche que nos separava para nos dar um abraço. Chama-se Dizzy, tem 50 anos, e é vegan. Para quem não sabe os Vegan não comem nenhum produto animal – nem leite ou ovos, nada. As razões são válidas, mais que válidas, por mais que a malta queira negar, mas não as vou referir agora. A cena é que o gajo, tal como muitos vegan ou vegetarianos, tinha um bocado aquela cena de achar que os vegan são seres superiores. De certa forma, se a pessoa A for igualzinha à pessoa B mas a pessoa B for vegan e a outra não, pode-se afirmar que a B é uma pessoa melhor, porque contribui mais para um mundo sustentável. Mas, apesar da importância de não comer carne, nós somos mais do que “comedores”, e daí desaprovo a assuncção de imeadiato que os vegan são algo assim tão especial. O gajo fez-nos ver uns videos (demasiado) realistas sobre a maneira como as galinhas eram tratadas para dar ovos (horrível e um abre-olhos). Ok, estava a impor um bocado a sua cena, mas ainda assim ok. Mas depois todo o seu discurso – tipo sá aceitava amigos no facebook que fossem vegetarianos ou, se calhar, até vegan, não me lembro. Hã? Que caralho! É a cena dele, é verdade, mas também é a minha cena achar isso ridículo. Apesar de tudo o gajo era interessante, e eu até partilhei consigo esta minha ideia de que muitos vegan se acham superiores, e até lhe disse que ele soava assim, e ele deu umas desculpas quaisquer sobre já ter demasiados amigos no facebook e não sei quê. E a dada altura...

- Tive agora uma conversa mesmo agradável – diz o gajo, vindo de um quarto contíguo, de onde eu o ouvia a falar no skype.
- E longa – respondi, com um sorriso.
- Pois foi. Foi om uma amiga. Mas fui para ali porque eu gosto de falar em privado sobre os nossos assuntos vegan – achei isto o máximo. Mas ok. Outra cena interessante é que o gajo só comia fruta. Aquele dia era o dia da banana. E estava ali como o aço. Magrito mas bem constituído.

Não se passou muito mais nesse dia. Vi o Revolutinary Road que me tocou sobejamente, mas já escrevi sobre isso e publiquei.

No dia seguinte acordei com Krabi (uma terra) na mente! Siga!

18h15-3ª-21-6-11
Ko Jum, Tailândia

domingo, 26 de junho de 2011

Pokhara, Nepal, Há um mês, mais ou menos

http://www.youtube.com/watch?v=sgpt_tqtTUw

clica no link acima, n tou a conseguir por o video aqui

Ko Pha Ngan (Parte II)


Acordei na quarta-feira lá p´rás duas, preparado para tudo menos a Full Moon Party. A noite anterior tinha sido agressiva aqui p’ró estômago – é que whiskey tailandês não é propriamente Johnny Walker Black Label...
               
Mas pronto, um gajo tinha vindo para Ko Pha Ngan para a FMP. E mesmo que não tivesse vindo e a nossa presença fosse uma casualidade, nem uma perna partida me impediria de lá ir.
               
Quando acordei, lembro-me de estar na praia uma bocado, à conversa com a Sofia. Rica Sofia, gosto muito da rapariga, sempre gostei. A conversa flui como se tivesse VIDA própria. Posto isto, um gajo lá se arranjou, foi comer, e depois começaram os preparos. Fui comprar a minha garrafinha de whiskey e aconselhei a Sofia a fazer o mesmo, sendo que valia mais a pena do que os baldes que eles vendiam lá. Claro que não era uma garrafa inteira de whiskey, e nem era dos mais fortes do planeta. Comprámos a garrafinha, bebi um redbull e começamos a fazer sinais às scooters que passavam, para não termos de pagar os dois euros de táxi. A Sofia iria primeiro e eu de seguida. Não demorámos mais de cinco minutos até que apareceu um francês que a levou. Eu fui p’rai dez minutos depois com um tailandês. Cheguei e fui o mais rápido possível para o nosso ponto de encontro, onde estive mais de duas horas à espera da chavala. É que ele estava lá, mas não era muito visível, e ela tinha entrado por outro sítio. Enfim, desentendimentos. Mas na boa. Estava à espera mas estava tranquilo, ia bebendo o meu whiskey e fazendo conversa com a malta. A dada altura já era conhecido naquele sítio específico, o pessoal passava e perguntava se a minha amiga já tinha aparecido e chegavam a dizer “se alguém se perder encontramo-nos no Pedro”. Isto para dizer que, não obstante a espera, eu estava na festa. E como era a festa? Xauzinho! Incrível. Mal cheguei à vila senti o boom. Quando cheguei à rua que dava para a praia foi o delírio. Rua cheia, praia de cheia de malta a bombar. Até de falar nisso agora me dá aqui uma cena e quero voltar. Há bué de cenas que um gajo pode criticar e tal – assim como eu não sou propriamente apreciador de sítios muitos turísticos, um gajo pode aplicar o mesmo, vezes mil, à FMP, mas para mim é diferente. É um evento onde um gajo se perde dentro do que se está a passar. Dezenas de milhares de pessoas na praia, quase toda a gente pintada com cores luminescentes, t-shirts cor-de-rosa choque ou amarelo flurescente, uma fluência de fazer “amigos” incrível. Está tudo a cortiré a cem por cento, o mundo pára naquelas oito ou dez ou doze horas em que aquilo dura.
               
Quando a Sofia apareceu à minha beira já vinha lançadinha e boa parte da garrafa já estava espalhada pelo seu sistema sanguíneo. Mas estava fixe, muito fixe. Eu, que minutos antes tinha dito o seu nome cem vezes, na esperança de que isso resultasse, fiquei em êxtase, porque por mais fixe que estivesse a ser estar ali, era tempo de ir dar uma volta pela praia. Entretanto já tínhamos arranjado um grupinho, composto por um inglês de 35 anos que aparentava 25, dois mexicanos e mais não sei quem. Que dizer mais? Andámos toda a noite de espaço em espaço, a dançar, cortiré, falar com pessoal daqui e dali, até que o sol raiou.
               
A dada altura, já não sei porquê, reparei que a grande maioria dos chinelos perdidos eram do pé esquerdo. E não sei porquê eu e a Sofia começamos a apanhar os chinelos todos que encontrávamos, até que, talvez 25 chinelos depois, os expusemos na praia, numa espécie de perdidos e achados. Eu, que precisava de comprar uns, levei uma havaiana azul tamanho 41-42 e uma branca do pé direito tamanho 39-40, com as quais ando agora. Até tínhamos pares méne! Havia uma secção para pés esquerdos, outra para direitos e uma pequena com dois ou três pares iguais. O pessoal vinha, experimentava, e podia levar, se quisesse.
               
Quando decidimos ir para casa, eu não sabia o que me esperava. Tínhamos combinado que voltaríamos da mesma forma, à boleia, primeiro a Sofia, depois eu. Mas a chavala não queria, queria caminhar. Ok, o seu argumento até era válido – não queria apanhar boleia dum bêbedo. Assim, foi uma caminhada, sei lá, p’rai de hora e meia, que queimou ali o álcool todinho que o corpo reserva p’rá ressaca. A caminho encontrei uma carta de condução, um cartão bancário e um cartão de estudante de uma Victoria. No dia seguinte liguei para o banco dela, pedi para a contactarem a dizer que tenho as cenas, com o meu e-mail, e até agora nada.

No dia seguinte não me lembro muito bem que fizemos, mas acho que estivemos na net no nosso restaurante um bom pedaço.

Sexta-feira acordámos antes das seis para apanhar o barco. A ideia era ir à boleia até à Malásia.

17h06-3ª-21-6-11
Ko Jum, Tailândia

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ko Pha Ngan (Parte I)


A viagem de Bangkok até Ko Pha Ngan foi aquela esticada do costume. De Bangkok saímos às 18.00, para chegar a Numseionde às seis da manhã. Lá, esperámos uma hora e meia, apanhámos outro autocarro de uma hora e chegámos ao cais. A Sofia desta vez tinha conseguido dormir mais ou menos bem. Já eu, perto de nada. Nada de novo, portanto. Para ser sincero, ultimamente, até numa cama me custa adormecer. Esperámos no cais cerca de uma hora e apanhámos o barco para Ko Pha Ngan.Foi interessante para mim notar que, até ao Nepal, era(mos) sempre os únicos turistas nos meios de transporte que apanhávamos. Autocarros da última classe, comboios à pinha, etc. Já aqui na Tailândia, em qualquer destes transportes que utilizámos até chegar à ilha, estava tudo sempre lotado de turistas. Não curto tanto. Não é que queira ser especial e tal, mas simplesmente sabe bem quando és o único, ou dos únicos turistas num sítio. Como onde estou agora mesmo, o meu pequeno paraíso. Escrevo sentado no cafezinho do meu hostel, o mar a vinte metros, numa ilha com 8 turistas (que tenhas visto até agora). Mas já lá chegámos.
               
No barco sempre dormi alguma coisa. Sem frescuras, deitei-me no chão, e viajei um bocadinho no sono. Mal chegámos apercebi-me que tinha sido um erro marcar hostel. Mas não foi um erro assim tão evitável. Para não ter de pagar balúrdios, optei por marcar através da net, jogando pelo seguro. Tínhamos duas noites num a 8€ cada noite (para os dois) e duas noites noutro a 14€. Apercebi-me que tinha sido um erro porque via bué de ofertas de estadia, e se havia tantas, não podia ser assim tão caro. Quando saímos do barco fomos, claro, abordados pelas dezenas de taxistas. Como nõs não sabíamos exactamente onde era o nosso hostel, e tínhamos as mochilas, fomos no táxi. Dois euros cada um. Toma!
               
O Secret Hut, o nosso hostel, era fixe, mas era longito da praia (a meia hora a pé). Pousámos as cenas, descansámos um bocado, tomámos banho e fomos dar uma volta. Comemos alguma coisa e percebemos também que não dava para encontrar refeições a 0,60€ como em Bangkok. O mais barato que encontrámos foi lá um prato a 1,10€, o mais barato. Escusado seria dizer que escolhemos esse restaurante como o nosso restaurante de Ko Pha Ngan, e esse prato como o nosso prato. A senhora percebeu logo que éramos contidos e dava-nos água sem perguntar que queríamos beber (já bebo água tailandesa, no problem – até a Sofia já bebeu), e dava-nos descontinhos, como o arroz já vir incluído em vez de termos de pagar à parte. No total devemos ter lá comido umas seis vezes. Além disso tinha wireless e a senhora era fixe. Ela, que lá trabalhava, e o dono, um inglês muito simpático que vivera dez anos em Rabat, Marrocos, e que se mudara para Ko Pha Ngan há dois ou três.
               
De seguida fomos ver a praia. Era fixe mas o mar tinha daquelas rochas que às vezes aleijam. Debaixo da areia tinha também barro (que a Sofia pensou poder ser cocó) mas isso é na boa. Era uma praia fixe, basicamente, mas não era de sonho. O que era fixe eram os bungalows que se estendiam pela costa. Quer dizer – fixe porque tinham boa onda e parecia um sítio fixe para ficar, não muito fixe quando se pensa que estavam a sodomizar a praia à bruta. Perguntámos lá num e descobrimos um preço porreiro – 7€ o bungalow (para os dois, se fôssemos quatro, o preço era o mesmo), e era logo o segundo mais perto da praia. Marcámos para o dia seguinte, não muito convictos de que a senhora tinha percebido. Depois foi desmarcar os outros hostels. Perdemos o depósito (10%) mas ainda assim ficava bastante em conta.
               
Ficámos um bom pedaço na praia e depois fomos para casa, comigo a batalhar um bocadinho para não ir a uma festa no meio da selva – por não me poder dar ao luxo de andar sempre a cortiré.
               
Pá sinto-me mesmo bem neste momento. Este é dos meus sítios preferidos na terra, acho. Este, o norte do Paquistão, e um ou outro que me esteja a escapar. Estamos na época baixa. Mas o clima aqui não varia quase nada, por isso estão p’rai 30 graus. Estou a ouvir Regina Spektor mas, apesar dos fones, ainda se ouve o mar, que está ali mesmo à frente. Só árvores a toda a volta, a senhora alemã com cara de enjoada esposa do Loius (cora super fixe) e o filho, imagino, de ambos, ali à esquerda a ler. E sinto-me apaixonado. A distância que criei entre mim e o destino do que dentro de mim vai serviu incrivelmente para a querer perto mais do que nunca. É um sentimento mais complexo que saudade, algo que se instala para ficar e nos diz como vão ser as coisas, que nos faz querer que esse sentimento seja rei e senhor dos desígnios da VIDA. Sinto-me bem, como toda a VIDA à minha frente. Méne que cena os sentimentos e percepções. Às vezes sinto que a idade é tão ilusória que, mais do que já estar velho, já vivi tudo e morri. Outras vezes sinto que a idade é tão ilusória que o tempo que tenho diante de mim se esticará até ao infinito, tocará cada partícula do universo que me envolve. Umas vezes tudo, outras vezes nada, mas sempre a indefinição que, no fundo, sempre me apaixonará.

No dia seguinte que fizemos? Yes! Alugámos uma scooter! Eu estava mortinho, a Sofia ainda hesitou um bocadinho. Ou se calhar nem hesitou, mas eu estava tanto nessa que qualquer trejeito me poderia parecer uma hesitação. Foi a primeira coisa que fizemos, para que pudéssemos usar a scooter para nos mudarmos para a nossa casa para os próximos dias. Tudo isto demorou uma hora e tal. Depois fomos conhecer a ilha.
               
Tinha visto no mapa “Paradise Waterfall”, e lá fomos nós, pascacitos, porque se chamava Cascata Paraíso, tinha mesmo de ser! Não era. Era fixe, muito fixe até, mas não era paradisíaca. Mas isso não interessa! O que interessa é a jornada, e neste caso não é só uma frasezita, é mesmo verdade. Isto porque, andar sem t-shirt, sem capacete, com 30 graus, de scooter na Tailândia é a verdadeira cena. Curto bué! Já em Goa, em 2009, tinha uma scooterzinha todos os dias. Um gajo até pode não ir para lado nenhum, e só mesmo dar uma volta, que vale a pena! Assim, chegámos à cascata, e pensávamos que era “lá em cima”. Percebemos que era mesmo aquilo, mas ainda assim fomos subindo a cena, o que foi fixe. Fomos riacho acima, trepando aqui e ali, parando para nos refrescarmos aqui e ali. Depois voltámos para baixo, ficámos um pedaçito no laguinho principal e seguimos caminho. Fomos dar a uma praia muito fixe. Aquela águazinha daquela cor que se curte, um areal sem aquelas rochas que não se curtem. Ficámos lá meia hora e seguimos caminho. Tínhamos a mota só naquele dia, queríamos fazer render e conhecer um bocado da ilha. A seguir fomos a Coral Beach, e aí senti que cada praia era melhor que a outra. Esta era o relax total. Tinha um cafezito com um ocidental a trabalhar e tocava daquelas musiquinhas dos anos 80 que até são fixes mas naquele cenário ficam excelentes. Uma baíazinha (reparei agora que estou a usar bué de “inhos”) com pouca gente, grande feeling.
               
Algures no meio destas andanças, passou-se algo interessante...
Estou farto de ver malta sem capacete com os filhos na mota, também sem capacete, sentados à frente, agarrados à parte do meio do volante. Às vezes os putos até vão a dormir enquanto agarrados àquilo, como se nada fosse. É normal. Todavia, vi um ocidental com o seu filho da mesma forma, e senti-me reprovador. E de repente, meio segundo depois, reparei na estupidez deste pensamento! Parece que por ele ser ocidental me transportei, de repente, para o nosso mundo, e vi as coisas com os olhos de lá (daí). Quando no fundo, uma VIDA é uma VIDA, e a VIDA de um puto tailandês vale tanto quanto a VIDA de um puto europeu. E não é, claro, que por alguma fracção se segundo eu tenha achado o contrário, simplesmente acho que faz parte ver os putos tailandeses assim, mas quando vi um ocidental, houve algo ali que deixou, momentaneamente, de fazer sentido. Depois fiquei a pensar na peculiaridade da minha reacção um bocado, e segui a minha VIDA.
               
Demos mais umas voltas e voltámos, passando pela base, e seguinte para o outro lado, onde fomos parar à praia da Full Moon Party. Ruas cheias de lojas, Mc Donalds, KFC, t-shirts da Full Moon Party à venda em todo o lado, colares luminescentes, pulseiras, música, promoções de shots. A praia, em si, tem grande ambiente de festa, e também é apelativa, apesar de o ser por razões muito adversas a outras que já enunciei. Não é nada calma e muito menos recatada. Mas tem música, uma fileira que cobre quase todo o arial de bancas onde vendem baldes de vodka/whiskey/etc (20cl, quiçá misturado com água) com uma lata de Coca-Cola (33cl) e uma garrafita de Red Bull por preços que vão dos 2€ a 5€.

Basicamente, Ko Pha Ngan é visitada por centenas de milhares de turistas com o objectivo de irem à Full Moon Party. Se não sabes o que é vai ao google porque agora não tenho net e não sei dizer mais do que isto – é uma festa brutal na praia. Contudo, apesar de toda esta afluência com este intuito, parece-me um sítio onde ainda é possível encontrar praiazinhas recatadas, não muito exploradas. Todavia, note-se que estamos na época baixa.

Voltámos à base, tomámos banho, fomos comer qualquer cena, e lá p’rás dez, munido da minha garrafinha de whiskey tailandês eu fui à festa antecipatória da FMP, que seria no dia seguinte. A Sofia ficou em casa. Foi uma grande noite. Pena foi perder as sandálias que já tinha há dez anos. No final de contas, só umas sandálias. Preferia não as ter perdido, mas não fiquei triste.

Cheguei lá e sentei-me a ver um espetáculo de fogo. Fascinante, mesmo! Foi um bom início de noite, quando um gajo ainda não está muito solto para meter conversa com pessoal à sorte. Então estive aí p’rai meia hora. Havia música em todo o lado, os balcões de baldes a tentar seduzir o pessoal a ir lá comprar, o ocasional espetáculo disto ou daquilo, rodas de malta sentada no chão no paleio. Perguntei a uma malta se me podia juntar a eles e lá fiquei um pedaço. E a minha noite foi assim, mais ou menos, de roda em roda. Passei também uma hora e tal com uns tailandeses a jogar jogos de beber da Tailândia (que são iguais no mundo todo, no fundo, com pequenas variações).

Cheguei a casa às nove da manhã p’raí.

No dia seguinte seria a Full Moon Party.

Fim da Parte I.

16h37-3ª-21-6-11
Ko Jum, Tailândia

sábado, 18 de junho de 2011

Bangkok (Parte II)


No sábado, ainda em Bangkok...

Fomos dar uma volta pela cidade. Tem que ver, tem que fazer, é um sítio porreiro para se viver, parece-me. Mas, ao mesmo tempo, a Tailândia tem-mbe violado a carteira. Com força. Não que tenha gasto balúrdios, mas aqueles sete eurinhos por dia na Índia  aqui são uma miragem. Também tenho curtido mais, é verdade, e aí é onde o dinheiro curte mergulhar...
               
Saímos de manhã lá p’rás dez. Logo um esquemazinho do bufo à bangkokiana. Não foi nada do outro mundo, mas é mais uma ceninha. Apanhámos um táxi e pedimos para ir para o porto. O taxista levou-nos para o porto onde os barcos custavam 800bahts quando nós queríamos apanhar o de 20baht. O gajo sai do carro, troca um olharzinho como quem diz “fui eu que trouxe estes pacóvios aqui, não te esqueças de mim” e encaminha-nos para o senhor não-sei-quem. Foi só uma questão de caminharmos mais cinco minutos e irmos para o outro porto. Mas ainda a caminho, quando alguém me perguntou para onde ia e o disse, o gajo diz-me que para lá o ferry eram 800bahts. Argh! Iá, claro que há um a 800bahts, mas porque não dizes “há um a 20bahts e outro a 800bahts que tem mais isto e aquilo..”?.
               
Chegados a Sofia foi ver o palácio. Eu fiquei à portinha porque pagávamos 400bahts para entrar e isto não está fácil. Noutro dia, noutra altura. Edpois disto continuámos a andar pela cidade, nas calmas, na boa, até que voltámos a casa lá p’rás quatro e tal. O Wes, nosso anfitrião, ia ter uma malta lá em casa a beber uns vinhaços e comer queijo e disse para virmos mais cedo para se lhes juntarmos. Ok, no problem. Achei interessante ainda, pouco antes de bazarmos, ter visto uma espécie de praxe tailandesa. Nada diferente. Um grupo de gajos aos gritos vestidos com roupas de mulher, todos pintados. Same same, but different.
               
Quando chegámos estava lá o Wes, uma australiana cujo nome não recordo mas a quem chamava de Noel por parecer muito francesa (tínhamo-nos conhecido no encontro de couchsurfers) e o Nick, outro australiano. O Nick, de 29 anos estava numa viagem por terra desde o Bali (que é uma ilha, mas ok) até a Inglaterra. Era um gajo porreiro, também com um baixo orçamento (5000 dolares). Dei-lhe algumas dicas sobre vistos e ficámos à mesa, a comer queijo australiano e a beber vinho e sangria. A dada altura apareceu a Jess, tailandesa e o Zavier, francês. Tinha-os também já conhecido no encontro, por isso foi uma surpresa fixe, sendo que eles eram porreiros.
               
Foi fixe ter falado com a Jess, ter alguns pontos de vista dos locais. Falámos sobre a maneira como o turista trata a mulher tailandesa, que é triste. Pá eu ter visto, não vi muito, senão algo incrível que já relatarei. Mas a miuda, que me pareceu séria e sem interesse em estar com mentiras, diz que sente que muitos turistas não trazem consigo muito respeito na bagagem, e que às vezs olham para ela imediatamente como alguém a quem potencialmente podem pagar para passar um bom bocado. Também achei interessante, quem sabe exagerado, quando me disse que 80% dos gajos tailandeses eram gays. 80% é um número muito alto, por mais que esteja na moda... pois assim a raparigada tailandesa sente-se um bocado frustrada.
               
Certo é que na noite anterior, ao lado da nossa mesa, estava um australiano que era muito feio. Ele não atraía nenhuma gaja espontaneamente no seu país nem que fosse um misto de estrela de rock, cinema, filantropo, cientista e da família do Elvis. E ainda assim, não é que se sentaram cinco gajas ao seu redor? E nenhuma delas parecia prostituta. Claro que já me enganei antes em cenas menos óbvias, ok... e a Kathy, quando comentei, gozou um bocado comigo, a dizer “pois não são não...”. Certo é que, ouvindo a Jess, fiquei um bocado naquela. Bem não quero com isto dizer que as tailandesas atiram-se de braços abertos aos ocidentais, estou apenas a relatar o visto e ouvido.
               
A dada altura fomos sair. Fomos para os mesmos bares da noite anterior, mas eu desta noite já ia lançadinho, por isso curti mais. Estivemos no Cheap Charlie um pedaço, depois passámos para o Kombi, o bar-carrinha. Achei piada quando, a dada altura, o bar-carrinha decidiu passar para o outro lado da rua, e a malta teve de ir atrás com as bebiditas. Estivemos lá até lá p’rás sete e fomos para casa. O Nick estava de todo, coitado. Mas isso não o impediu de se juntar a mim e à Sofia na piscina do prédio do Wes. E o próprio Wes, apesar de ter dito que ia dormir, ainda andou lá connosco uma horita. Mais uma vez, tal como na noite anterior, curti bué ver aquela actividade toda nas ruas às sete da manhã. Se bem que já era tão tarde que era cedo novamente.
               
Uma cena que vi, e essa sim achei incrível e de revolta, foi o que um méne qualquer fez a uma das menina-menino. Bem, eu não vi, apanhei só o lance final. Estávamos nós no Kombi, o bar-carrinha, sentados na cadeirita cá fora, e o pessoal ia passando. Mas meninas-menino metiam conversa com os gajos que passavam. Uns ignoravam, outros dava um apalpãozinho e iam à sua VIDA, poucos ficavam. Estou a falar com a Sofia, ela exclama algo, olho, só vejo um gajo lá ao fundo, de cor-de-laranja, a correr, fugindo de algo, e depois uma menina-menino a levantar-se do chão. O gajo, viu a Sofia, mandou-lhe uma chapada tão forte que a gaja foi ao chão. Fiquei um bocado fora de mim, e acho que se tivesse visto a cena tinha ido atrás dele. Mas quando soube o que se tinha passado, era tarde. Apesar de tudo, achei curiosa a minha reacção. Uma coisa são as palavras, outra são os sentimentos. É miuto fácil dizer que se respeita, e tal, e isso não quer dizer que se sinta. Mas o que é certo é que eu senti exactamente o mesmo como se o gajo tivesse agredido uma gaja.
               
O dia seguinte foi para a descontra, em casa, sem fazer grande coisa.
               
Chegada segunda-feira, íamos para Ko Pha Ngan, esperávamo-nos a Full Moon Party. Não tínhamos marcado nada, e de acordo com aqueles amiguinhos na rua que tinham todo o interesse em nos ajudar, devíamos ter marcado com dias de antecedência. Ai ui! E de acordo com a malta da agência, a mesma cena. Pois acontece que dirigimo-nos onde era suposto, marcámos a cena, tudo tranquilo, e ainda pagámos bastante menos do que o pessoal nos tinha dito. Pagámos 600 baht.
               
Foi nesta tarde que se passou algo incrível...
               
O nosso autocarro era só às seis da tarde, e nós tínhamos algum tempo para matar. Então fomos dar uma volta. Começou a chover quando estávamos num templozinho budista muito porreiro. Tirámos umas fotos, vimos umas cenas, até que nos abrigamos debaixo de um oleadozito. Lá estava uma senhora de face asiática (mas que era canadiana), uma rapariga que devia ser sua filha, e mais doi rapazes chineses. Entretanto apareceram dois tailandeses com quem ela metera conversa. Pois eu estou ali à espera que a chuva passe, e ouço-as a comentar uma corridinha numa tuk-tuk que é muito barata e não sei quê. Tendo já caído na esparrela, digo-lhe que já me acontecera o mesmo, mas para não irem, porque assim vão ter de ir no fim ver as lojas, perder tempo e tal. Elas agradecem a informação, ficam na sua a conversar, e aparece depois o condutor. Quando ele lhes pergunta não sei quê, elas dizem que já não vão.
               
- Porquê? – pergunta ele, meio zangado.
- Porque está a chover – respondem. O gajo, que já tinha vestido a sua cara de mau, olha para mim e pergunta se eu tinha dito alguma coisa. Eu disse que tínhamos conversado, eu tinha dito algumas coisas, como qualquer pessoa em qualquer conversa. O gajo pergunta porquê, e eu respondo algo tipo “porque estávamos à conversa”, simplesmente. Ele não gostou nada. bem vistas as coisas eu não lhe tinha dito que lhes tinha dito. Mas o que se passou não foi giro. O gajo aponta para mim, aponta lá para fora, diz algo como “lá fora” e como “morrer” e sai a dizer algumas asneiras. “Boa, era mesmo o que estava a precisar, um par de murros na tromba. Mas pronto, se tiver de ser, há-de ser”. Ao menos o gajo era um rufia respeitoso, porque ficou à minha espera fora do templo, não me atacou dentro do mesmo. Ora de que é que eu não estava à espera? Aquilo de que eu não estava à espera, porque não é assim uma cena que aconteça todos os dias, era que, quando olho para ele, ele tem uma faca na mão que aponta para mim, mesmo antes de desferir uns golpes no ar, alternados com um chamamento. “Heia pá!”. Aqui a minha adrenalina começou a dizer “olá”. Mantive a calma, tirei os chinelos, meti-os na mochila, caso precisasse de correr, e pedi a um puto tailandês que lá estava, para ligar à polícia. A cota e a filha estavam-se a passar. Estavam calmas, mas não se acreditavam naquilo. A Sofia estava nervosa também, mas ainda ok. Pois o gajo depois volta...
- Queres ir dar uma volta? – diz ele, a um metro de mim – A ti levo-te só por um bhat. Queres vir? – não sei porquê lembrei-me do gajo do auto da barca do inferno que leva o pessoal já morto a dar uma volta para o outro lado do rio.
- Não, não, obrigado – respondi. Não sem antes perguntar o mesmo à Sofia, o gajo dá meia volta, uma lapada no próprio rabo, para chamar atenção para aquela lâminha de meio palmo que sorria toda contente. Não estava fácil aquilo.
               
Eu e a Sofia comentámos que contado não parece tão real ou ameaçador. Mas eu acredito que o gajo estava mesmo passado o suficiente para me mandar uma naifada. E tudo porque perdeu uns cupõezitos de gasolina. O gajo ali com a faca no ar, e eu a pensar no meu fígado. É engraçado, mas cheguei a pensar que lado daria ao manifesto. Tentaria lutar, claro, mas não me podia atingir o fígado, porque isso era fatal. Não que o meu esteja em grandes condições, mas sempre dá para a despesa.
               
Eis que chega um gajo de uniforme. Bela merda. O gajo não nos estava a levar a sério, mesmo após os putos lhe terem dito o que se passava, em tailandês. Não sei se o outro bazou quando o viu, ou o que se passou, mas o gajo polícia não era. Acho que era um segurança qualquer. Sei que ele esbracejou, dizendo-nos para irmos. A medo demos umas passadas na direcção oposta de onde o louco tinha estado. A senhora queria que eu apanhasse um táxi. Dissemos xau, e metemo-nos numa corridinha, eu e a Sofia, sem saber bem onde queríamos ir. Acabámos por ter de voltar ao templo, mas à volta. Mas méne eu sentia que cada pessoa que me olhava estava ligada com o gajo, incrível o sentimento de paranóia, o nosso instinto de sobrevivência a dizer-nos para termos cuidado com tudo.

É importante a ressalva que Bangkok é uma cidade segura, dizem as estatísticas, e assim o senti (tirando os esquemas da treta). Este gajo deve ter sido um acontecimento raro. O que foi ainda pior é que não aprendi nada com isto. Às vezes um gajo arma-se em espero e dá merda, e até aprende. Mas neste caso, eu só me limitei a ajudar outros viajantes. Quando ele me perguntou se eu tinha dito algo, se calhar podia ter reagido como se estivesse mais surpreendido, mas ainda assim...

Bem, depois apanhámos o autocarro.

23h08-s-18-6-11
Phuket