domingo, 5 de junho de 2011

Kathmandu


Eis que me deparei com um grande percalço!... Anteontem disse à Sofia que não me sentia muito confiante com a cena do Tibete. Não era bem uma sensação de que algo ia correr mal, mas acho que, algures, tinha percebido que não é exactamente como apanhar um autocarro até Espinho, e que havia muitas coisas que poderiam dar para o torto. E de momento está a dar.
               
Ontem à tarde fomos falar com o rapaz da agência com quem estava em contacto já há uns dois meses. Ele disse que o preço do comboio tinha subido 25$, ok, não há crise, continua a ser mais barato do que outra que tinha visto, e muito mais barato do que outras ainda de que tinha ouvido falar. Ficava em 625$ (430€) com visita guiada, transporte de Kathmandu até ao Tibete, 7 noites de estadia, pequeno-almoço e visto chinês com permissão para o Tibete.
               
Mas parece que no dia 1 de Junho o governo chinês meteu o travão nas permissões para grupos em budget (de visitas mais baratas) e até nas mais caras. Não estavam a emitir vistos dia 1, e também não o tinham feito dia 2, o dia em que eu lá estava sentado frente ao homem. Bem, foi ontem. Grande cena! Para resumir, ele disse que eles (os do governo, suponho) iam ter várias reuniões, uma das importantes dia 5 e podia ser que a cena mudasse. Contudo, podia ser que acontecesse mais cedo. Ou mais tarde. Ou não acontecer de todo tão cedo.
               
Conclusão, estou como o burro no meio da ponte. Este burro quer esperar por uma decisão, mas essa decisão pode não vir e ele pode estar aqui no Nepal a fazer tempo p’ra nada. Claro que ele vai fazer o tempo render, e continuar a ver e conhecer cenas, mas é uma situação que não prima pelo conforto. Mas pronto, paciência, que se lixe, de momento não há nada a fazer. Vou estabelecer uma data, se passar dessa data e não tiver notícias positivas vou ter de apanhar um avião para a Tailândia. Custa-me imenso esta mazela num projecto que sempre me pareceu altamente. Queria mesmo fazer esta cena por terra, e agora acontece isto. O pior, e melhor, é que nem há nada a aprender com isto. É o pior, porque não posso retirar nada de positivo como uma lição, e é o melhor, porque posso estar descansado que não podia mesmo fazer nada a menos que adivinhasse a mente dos chineses.
               
Por isso mesmo equaciono voltar por terra... é um bocado maluco, eu sei, mas acho que o podia fazer confortavelmente em dois meses. Tenho de deixar a ideia assentar, para ter a certeza que não estou a agir de cabeça quente. Mas não é assim tão complicado. Voava para a Tailândia, andava pelo sudeste asiático com a Sofia. Quando ela bazasse ia para Singapura. Depois partia daí, subia a Malásia, entrava na Tailândia, depois Laos, de onde entrava na China. Isto fazia-se me p’rai duas semanas. Depois atravessava a China. Só em viagem são p’rai 90 horas, por isso conseguia fazer isto p’rai em dez dias. Da China passava o Casaquistão numa semana, descia para o Uzbequistão e entrava no Turquemenistão, 10 dias para estes países. Atravessava o Irão em 2 dias e estava na Turquia. Atravesso a Turquia em quatro dias se tanto. Depois da Grécia a Portugal consigo em duas semanas, p’raí. Estou a fazer as contas assim de repente sem pensar muito nem contar quilómetros nem nada, mas se fosse assim tudo seriam dois meses, mais ou menos. É só uma ideia, e nem a devo seguir, mas pronto, partilho aqui para, caso aconteça, não apanhar ninguém de surpresa. Também pensei em apanhar o transsiberiano, mas é muito caro.

Essa parte desta entrada no blog foi escrita dia 2. Agora é dia 5.

Kathmandu é muito, muito fixe. É uma cidade que não tem nada a ver com outras cidades que já conheci. Chegámos e viemos directos para Thamel, a zona onde há um hotel por cada centímetro quadrado. O taxista chulou-nos à grande. Eu disse-lhe que sabia que ele nos tinha enganado e que ele ia ter mau carma, mas o palerma só se riu. Dois euros para cinco minutos. Paciência. Perguntei a duas turistas que passaram onde havia um hotel fixe e barato, certo de que, sendo turistas, iam dar algo razoável porque não tinham nada a ganhar, e encaminharam-nos para o Hotel Imperial. Mas apareceu um méne a sugerir uns hotéis, vimos dois e acabámos de ficar no segundo. Consegui baixar um bocadito o preço e ficou em 3,5€ pelo quarto. 1,75€ cada um.
               
Nessa noite fomos só jantar e depois voltámos para casa. Por coincidência a nossa agência de turismo era no mesmo edifício do nosso restaurente, o que poupou a procura no dia anterior.
               
Assim, dia 2 lá fomos. O que o gajo nos disse eu já partilhei aqui. Mas já estou fixe com a ideia. Paciência, não é? Não há nada a fazer. Por mais que eu quisesse fazer isto tudo por terra, se não dá, não dá, e andar frustrado não vale de nada. Nesse dia e em parte do dia seguinte estava com esta filosofia mas vinha com um esforço consciente. Não acho que seja menos válido quando nos convencemos a nos sentirmos de certa forma, quando essa forma visa uma libertação de preocupações. Mas às vezes é mais patológico. Eu lembro-me, quando era puto e acontecia alguma cena mais fortezita com uma miuda qualquer, eu quase que me forçava a sentir-me triste, quase sem saber que apenas o fazia porque achava quer era isto que era suposto sentir. E cheguei a deitar umas lágrimazitas quando andava no quinto ano e a Carolina acabou comigo na aula de educação visual, e chorei mesmo quando a Susana me disse que estava indecisa entre mim e o Pedro. Que riso! Da primeira vez tinha 10 anos e da segunda tinha p’rai 13. E pronto, isto para dizer que sinto que às vezes o pessoal se força a estar triste porque acha que é aquilo que é suposto. Até quando morre alguém, o pessoal pensa que é o fim do mundo se passado uns dias estiver contente, e que isso significa que se calhar não gostavam mesmo da pessoa. Nada a ver, meus caros...
               
Heia isto foi um grande desvio...
               
Nessa tarde andámos por Kathmandu. Claro que nem tudo são rosas, e há zonas e zonas. Contudo, esta zona aqui, e a caminhada que nós fizemos (p’rai de duas horas, passando por vários sítios porreiros) foi demais. Adorei. Ruelas estreitas, templos daqueles mesmo fixes estilo chinês cheios de estátuas elaboradas e estranhas, tudo em todo o lado, a malta a vender verduras na rua e o pessoal a passar por nós a cada dois minutos a perguntar se queríamos haxixe. Todo um cenário interessante e bacana. Bué de turistas na rua também. No dia seguinte fomos ao templo do macaco. Acabámos por não entrar porque tínhamos de pagar um euro. Se és novo por estas andanças bloguísticas, um euro às vezes é muito dinheiro quando se considera o meu orçamento.
               
A propósito... postaram na minha página do facebook um link para um book trailer de um grupo de três homens, ou jovens adultos, que foram de jipe de Portugal à África do Sul em cinco meses, e que sobreviveram com 60 euros por dia. Se forem 60 euros para os três, ainda é como diz o outro, mas se for 60 euros por cada um, isso é tudo menos sobreviver. Eu com esse dinheiro era rei, e nem sabia bem como havia de o gastar. Mas no Nepal tenho gasto mais do que a minha média e acima dos dez euros por dia a que me predispus. Gastei cerca de 110 euros em 7 dias.
               
Quando voltámos do templo do macaco fomos arranjar as nossas cenas, comprámos umas bebiditas e jantámos no restaurante do nosso hotel. Posto isto fomos ter com um gajo do couchsurfer que estava num bar com algum pessoal e a quem eu tinha acabado de ligar. Já ia entrado. Mas chegado ao bar, zero de gajo. Ia perguntando a algumas pessoas se eram do couchsurfer, até que uma delas me perguntou, em português brasileiro, se eu não era o português. “Sim, sou”. Acontece que eu tinha enviado mensagem a alguns dos “nearby traveleres”. No couchsurfing dá para ver quem anda em viagem perto de nós e eu tinha mandado mensagem a uma data desta malta a perguntar se se queriam encontrar. Ninguém respondeu, nem mesmo estes brasucas, mas foi fixe, encontrámo-nos assim, por acaso e ficámos com eles a noite toda. Ia chegando pessoal, alguns que não conheciam ninguém e so se queriam juntar ao grupo, outros que eram amigos deste e daquele. Bazámos quando o bar fechou e caminhámos p’rai meia hora até ao casino, o único sítio aberto. Lá bebi dois whiskeys e perdi 15 euros no casino. Paciência, também é só de vez em quando que me meto nisto...
               
Ficámos um par de horas à conversa e depois voltámos para casa, não sem antes combinarmos um jantar para o dia seguinte.
               
Ontem, sábado, acordei tarducho, a sentir os efeitos da noite anterior. Fomos dar uma voltita, e íamos almoçar quando encontrámos o David, inglês do dia anterior. O gajo veio connosco e depois estivemos à conversa p’rai duas horas até que era altura de nos encontrarmos com o resto do pessoal. Apareceram o Tobi e o Christian, alemães, o Fabiano, brasileiro, a Nicole, canadiana e a Sophie, estona. Éramos oito, portanto. Comprámos as bebidas no supermercado e trouxemo-las para o restaurante do meu hotel, onde jantámos e bebemos. Depois disto fomos para o 1905, um bar só com turistas mas que estava muito fixe. E a noite, em si, foi demais. Eu curto isto, beber uns copos, conhecer gente nova, falar disto, daquilo, e rir. Foi aparecendo mais gente, como a rapariga luxembruguesa e o Eric, um peruano que tinha vivido um tempito em Miranda do Douro. Estivemos no bar até às quatro ou cinco da manhã.
               
Agora estou aqui num barzito com a Sofia, na descontra. Amanhã devemos ir a uma vila fora de Kathmandu, não muito longe, e que supostamente é muito fixe.

19h57-d-5-6-11
Kathmandu, Nepal

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