terça-feira, 14 de junho de 2011

Bangkok (Parte 1)

Estou em Bangkok! Não imaginava estar aqui tão cedo, mas teve de ser. Ia perguntando às agências todos os dias e a resposta era sempre não. Que me restava fazer? Podia ficar lá à espera, e podia até ficar um mês, para depois não haver decisão nenhuma. Mas mesmo que soubesse que haveria uma decisão positiva passado um mês, avançava.
           
Não gostei nada de ter voado. Não do vôo em si, mas de toda a cena à volta do vôo. O aeroporto, os raios-x, a espera, o transbordo, essas cenas todas. Quando um gajo vai andar de avião às vezes passa mais tempo à espera do que realmente a viajar. Voámos até Delhi e depois ficámos por lá no aeroporto, onde esperámos seis horitas. Fomos para um lounge onde nos deram a palavra chave para a internet, por isso a espera não foi tão má. No Nepal, em dez dias gastei cerca de 110€. Foi um bocadito acima daquilo que quero gastar por dia (10€) mas foi ok. Na Tailândia está a ser pior.
           
Chegámos à Tailândia na quarta-feira passada de manhãzinha cedo. Vi logo que Bankok não tinha nada a ver com o que tinha imaginado. É uma cidade muito mais avançado e metropolitana do que a ideia que tinha. Imaginava ruelas, alguma sujidade, pedintes, um bocado como na Índia. Mas não tem nada a ver. Nada mesmo.
           
Essa manhã foi terrível. Apanhámos o metro para o centro, depois um senhor muito simpático (agora, depois destes esquemas todos duvido da sua simpatia) disse-nos que o melhor era irmos a uma agência de turismo do governo e não sei quê, e que tínhamos de comprar os bilhetes com antecedência e tal e coisa. Até já me está a dar aqui um calor no peito só de pensar na quantidade de couristas que conhecemos nestes diazitos. Claro que a mulher na agência de turismo disse que tínhamos de comprar os bilhetes já, porque era fim-de-semana longo e não sei quê. Mas nós não sabíamos bem quando queríamos ir, e para onde, por isso não comprámos nada. Só lhe perguntámos onde é que podíamos ir à net. Ela mandou-nos para um centro comercial e ficámos lá... taaaanto tempo. É que uma rapariga, a Mimi, tinha respondido a um pedido no grupo de emergência de Bangkok e albergar-nos-ia. Mas não tinha dito mais nada. Pois então eu mandei-lhe mensagem naquela manhã, lá p’rás dez a dizer que já lá estávamos e só recebemos uma morada às três da tarde! Estávamos todos rebentados porque tínhamos passado a noite no avião e dormido mal na noite anterior a essa. Algum dia eu pensava que só me deitaria na manhã seguinte às dez da noite? É a noite de Bangkok...
           
Quando chegámos a casa da Mimi, tomámos banho e essas ceninhas, cheios de sono. A Mimi não era exactamente uma pessoa conversadora. Mas ok. Nessa noite ia haver um meeting de couchsurfers num bar onde iam estar umas quarenta ou cinquenta pessoas. Eu queria ir mas a Sofia estava demasiado cansada. Pois a dada altura a Mimi diz que ia bazar, porque tinha de se encontrar com uns amigos num sítio onde havia boxe tailandês ao vivo, e se não queríamos ir. A Sofia curtiu a ideia de boxe tailandês e decidiu vir, sem saber que isso ia implicar ir ao meeting também...
           
O boxe foi fixe. Interessante a cerimónia antes, e a música durante, que os faz como que dançar ao lutar. Lá encontrámo-nos com alguma malta, e fomos jantar. Com tanta oferta, tanta oferta, acabámos no KFC. Eu não comi nada porque tinha jantado uma boa pratada e uma sopa por 70 cêntimos. A comida aqui é incrível. Ainda melhor na Índia, acho. Gosto mesmo. Depois do jantar seguimos para o meeting, que foi demais. Curti mesmo. Tinha estado num em Istanbul, mas se calhar era grande de mais, porque parecia que não havia bem aquele espírito em comum do pessoal. Mas pensando que nós definimos a realidade de acordo com a forma como a vemos, talvez tenha sido que eu estava simplesmente com o feeling. Apesar da cerveja não ser muito cara (1,6€ por 600ml) esturrei muito dinheiro nessa noite. Paciência, nunca me arrependo de dinheiro gasto em cortiré!
           
Foi muito fixe porque um gajo simplesmente se sentava numa mesa qualquer, e encetava conversa com quem lá estava. Na boa mesmo. E assim conheci muita malta porreira, mesmo muita, com quem tinha conversas muito fixes. Daí fomos para a rua Ko San, das melhores ruas onde já saí. Viva Bangkok! Loucura mesmo! Fomos para uma discoteca, mas eu não sou muito gajo de disco, então vinha muito cá fora, comprava uma cerveja mais barata do que lá dentro e sentava-me a falar com alguém.  Havia uma percentagem louca de turistas, mas um bom feeling. A dada altura sentei-me lá com um gajo que vendia cenas na rua. Ele chamou alguém para traduzir e ficámos um bocado no paleio. Ele comprou-me uma cerveja e disse que se eu quisesse ir ao Sudão me pagava tudo. Ele ficou com o meu e-mail, mas duvido que vá ao Sudão brevemente. Mas nunca se sabe se não recebo um mail dum mafioso qualquer a dizer que me paga tudo...
           
A dada altura perdi-me do pessoal, então andei sozinho um bocado, mas sempre na conversa com este ou aquele. Finalmente fui encontrado pelo pessoal. Ah esqueci-me de dizer que a Sofia entretanto fora embora. Lá p’rás duas ou três. A esta altura estava eu, a Mimi, uma amiga sua tailandesa e dois alemães muito porreiros. Tinham dezanove anos e faziam voluntariado numa aldeia budista perto do Camboja. Quando a disco fechou continuámos a noite a beber umas cervejas na rua e a ver os locais super talentosos a fazer break-dance. Uma noite mesmo, mesmo fixe. Agora o lado negativo... Fomos dormir a casa da amiga da Mimi, todos, e no dia seguinte acordámos às seis da tarde. E a pobre da Sofia em casa da Mimi à nossa espera, sem saber de nada. E como ela tinha a chave, não podia ir a lado nenhum, para não deixar a dona da casa fora da sua própria casa. Foi mau, eu desculpei-me e tudo, e estava tudo porreiro, mas é sempre chunga. Que se aprenda com os erros...
           
Nessa tarde fomos para casa do nosso novo anfitrião, que do nada me mandara uma mensagem a dizer que nos podia albergar. Não estava a ver quem era mas quando chegámos lembrei-me dele. Estava um bocado reservado e na sua nessa noite, mas acabou por ser muito fixe.
           
No dia seguinte, munidos do nosso guia, fomos conhecer Bangkok. Acabou por não ser um dia muito profícuo porque caímos num couro (um embuste, digamos) e perdemos muito tempo aí, mas foi porreiro. Fomos ao Grand Palace mas mal saímos do táxi apareceu um daqueles tailandeses muito simpáticos a dizer que o palácio estava fechado naquele momento numa cerimónia só para tailandeses, que abria mais tarde e não sei quê, e que o melhor era, enquanto esperávamos, ir dar uma volta numa tuk tuk (uma rickshaw) que era barato, pois passávamos no Standing Budha (Buda em pé), depois em Numseionde e depois ainda na agência de turismo, tudo por oitenta cêntimos os dois. Fixe pá, ‘bora! “Que senhor simpático”, dissemos, ao entrar no tuk tuk. Que é que sucede? O gajo leva-nos ao buda, realmente, depois leva-nos a duas agências de turismo, quando nós não tínhamos manifestado interesse nenhum nisto, e depois diz que agora tínhamos de o ajudar e ir a três lojas com ele, só precisávamos de ver, não tínhamos de comprar nada, porque assim as lojas davam-lhe um cupão para gasolina grátis. Má onda. Má onda porque fomos a uma loja de fatos, depois a uma de joalharia e depois a outra de fatos. E temos de fazer aquele joguinho de quem até possa estar interessado e não sei quê. Não curti e perdemos tempo com esta palhaçada toda de que nada sabíamos ao entrar na tuk tuk. É uma rede incrível isto. E até as agências de turismo devem estar envolvidas, porque nunca tinha visto tanta gente interessada em que o pessoal vá a uma. E batem os couros de que se tem de comprar o bilhete com muita antecedência e tal, mas o que é certo é que agora estou num autocarro e só comprei o bilhete hoje. Deixa-me triste, que o pessoal ganhe a sua VIDA a enganar os outros. Fico meio revoltado, porque tanto o primeiro senhor que nos mirou mal chegámos a Bangkok como o outro dessa tarde pareciam super simpáticos, não havia como perceber nada (como o outro em Varanasi que dizia que precisávamos de fotos para atravessar a fronteira) daquele embuste porque os gajos são todos bem falantes mas só querem o teu dinheiro. E depois começa a fartar porque é mesmo uma rede isto, e é difícil escapar. Digo que quero apanhar um barco, dizem que é 16 euros, depois chego ao cais e descubro que sim, há deles a 16 euros, mas os barcos-taxis normais são 40 cêntimos. Um gajo apanha o táxi, pede para nos levar ao cais, o taxista leva-nos, depois troca um olhar com um gajo de lá, e vai-se a ver e é desses cais com os barcos caros, para que um gajo entre num desses, pague, e o taxista receba a sua comissão. Merda mesmo. Andar na retranca e ler acerca de embustes.
           
Depois disto fomos para Chinatown, passámos lá umas horas e apanhámos depois outro barco para o outro lado. Lá tivemos uma conversa mais séria mas de que se retira sempre bastante. Falámos de eventuais pequenas diferenças nossas, como eu gostar mais de cortiré e a Sofia também gostar, mas talvez não tanto, e de como assimilar essas diferenças para que não seja um problema. Acho que desde que com claridade e as cartas na mesa, poucas diferenças podem ser um problema. Como, por exemplo, na noite em que não apareci em casa, o problema não foi as horas a que acordei nem nada, mas simplesmente não ter dito que assim o ia ser, e deixá-la, assim, à minha espera. Também falámos um bocado acerca do espírito de contradição que cada um tem, mas mais focado no meu, que parece um bocado mais forte. Os amigos que dizem sempre que sim a tudo até podem às vezes ser mais confortáveis, mas acabam por ser uns amigos sem grande profundidade. Como muita gente, acho que são os amigos que nos apertam os calos se preciso for que acabam por valer mais a pena. E neste caso assim o é. É verdade que eu sou um bocado do contra. Demais até, por vezes. Também é verdade que não digo “amém amém” quando assim não o acho. Creio que algo saudável seja um equilíbrio entre manter a individualidade e a liberdade de se dizer o que se pensa, mas também não dizer algo só para ir numa outra linha de raciocínio que não a mais comummente aceite. No fundo quem muito se esforça para contrariar algo está a ser tão iinfluenciado por esse algo como quem vai com ele.
           
Depois fomos para casa. Chegámos dispostos a ir p’rá caminha com o computadorzinho na net, mas o Wes não estava. Oops! Mais espera! Parecia que estávamos destinados a esperar por tudo a toda a hora. Ficámos uma horita no lobby até que pedi a alguém para lhe ligar. Ele estava num bar não muito longe e disse para irmos lá ter. Assim o fizemos, e acabou por ser o melhor. Ele estava com dois australianos, a Kathy e o Vic. Bebemos uma cerveja, depois quando o Cheap Charlie fechou fomos para o Kombu, um bar espetacular... na rua. É uma carrinha pão-de-forma da Volkswagen toda adaptada para ser um bar. Foi fixe termos ido porque falámos um bocado mais com o Wes, e a dada altura ele disse que podíamos ficar na noite a seguir também, mas que tínhamos de bazar no domingo. Meia hora depois disse que podíamos ficar domingo também. Pois parece que ele diz sempre ao pessoal que podem ficar uma ou duas noites, mas depois se forem fixes podem ficar quanto tempo quiserem. É justo. Passar uma semana com alguém que não curtismo tanto pode ser bela seca...
           
A Kathy e o Vic tinham 47 e 53 anos, respectivamente. Já tinham (o Vic, especialmente) estado em dezenas e dezenas de países, e eram um casal muito porreiro, na boa, muito jovem. “Quando ele se põe a chatear”, dizia a Kathy, acerca de a dada altura o Vic querer ir para casa, “eu digo-lhe sempre, nós conhecemo-nos a viajar, e conhecemo-nos a beber, e é assim, não vai mudar”.
           
Fomos para casa lá p’rás quatro. E às quatro da manhã, ver aquela actividade toda é algo incrível. No dia seguinte foi às sete da manhã até. As ruas ainda com bué de pessoal, aqueles restaurantezitos e bares no passeio, ainda semi-cheio de pessoal a jantar, beber, tocar viola. Gosto muito de Bangkok mesmo.
           
Um pormenor já esperado é o da prostituição e das meninas-menino. A maior parte das prostitutas na Tailândia parecem anjos caídos do céu (passe a contradição), muito bonitas. E uma parte assim não tão pequena das mesmas são homens, quase tão “bonitas”, é interessante.

Fim da primeira parte.

21h29-2ª-13-6-11
Algures entre Bangkok e Ko Pha Ngan


Sem comentários:

Enviar um comentário