terça-feira, 28 de junho de 2011

Phuket


O plano era ir à boleia para a Malásia, onde eu já tinha um sofá confirmado. Mas sabia que ia ser difícil. Apanharíamos o barco às sete, depois o autocarro às onze e só chegávamos à vila depois do meio dia. Com tudo isto, íamos começar a boleiar tarde. Por isso mesmo avisei a minha possível anfitriã que não tinha a certeza.
               
Quando chegámos a Surat Thani vimos os preços para Penang, na Malásia, e era tudo muito caro. Assim, decidimos tentar a nossa sorte à boleia, com a Sofia muito na dúvida se deveria ir ou não. Foi um tormento até chegarmos à estrada que queríamos. Ninguém percebia o que queríamos fazer, porque o inglês era muito limitado e o conceito de boleiar nem por isso muito popular. Apanhámos um tuk-tuk que andou à volta do quarteirão e nos deixou perto de um autocarro nada longe de onde já estávamos. Depois fomos nesse autocarro, pois tinham-nos garantido que nos levava à estação de comboio e daí podíamos apanhar um autocarro para o aeroporto (na estrada que queríamos para boleiar). Nada feito. Comemos qualquer coisa e eu fui investigar, acabando por descobrir que afinal, mesmo a pé, estávamos só a dez minutos de uma das estradas que eu queria.
               
Lá chegámos e esticámos o dedo. Passados dez minutos entrámos no primeiro carro, que nos levou um bocado, até que aparecia a estrada número 4, a que ia direitinha até à Malásia. Porreiro. Saímos, esperámos dez minutos e estávamos na parte de trás de uma carrinha de caixa aberta, que nos levou dez minutos, até que chegou a altura de sairem da estrada. Esta altura coincidiu com o choro das nuvens. As senhoras deixaram-nos debaixo de uma pontezita, mas não se conformavam. Diziam, no pobre inglês, que não havia carros, que era melhor um autocarro. Coitadas, estavam mesmo preocupadas. Depois voltaram ao carro, e eu estava à espera que bazassem para eu me meter à chuva com o dedo esticado. Mas elas não iam embora. Por isso tive de ir na mesma. Dei uma corridita e meti-me lá com o dedito. Estive p’rai cinco minutos até que alguém, numa estrada que não nos interessava, deu uma apitadela. Aproximei-me e era um casal simpático que ia só uns quilómetros na nossa direcção. Mas pouco mais pouco é igual a muito, por isso pedi para nos levar. Acho que me levava na mesma mesmo que “my friend” fosse um rapaz, mas reparei na prontidão do sim quando disse que era a minha “girlfriend” (não é, mas às vezes dá jeito dizer que somos namorados, ou até casados).
               
Qual não foi o meu espanto quando, ao me virar para chamar a Sofia, vejo a senhora que nos tinha trazido até ali, à chuva a pedir aos carros para nos levarem. A Sofia estava cheia de pena, mas eu curto bué. Vejamos – não curto que a senhora esteja a perder o seu tempo, e muito menos que esteja à chuva por causa de um par de mafarricos que não querem pagar um autocarro. Mas curto imensamente que ela tenha escolhido fazê-lo. Porque gosto de ver a bondade das pessoas. É estranho, para mim, porque estou um bocado desiludido com a humanidade, em geral, e não sei se o mundo caminha para melhores ligações, não sei se o Homem trabalha para que o mundo deixe de sangrar do nariz (como diz a Spektor). Mas ainda assim, amo cada pessoa individualmente. É verdade que talvez amplie os feitos positivos e os veja como eventuais tendências, ao passo que possa ver os negativos como “um mau momento”, mas é assim que, de momento, escolho ser.
               
O casal que nos ia levar um bocado ia para Phuket. E aí está uma das cenas fixes da boleia. O imprevisto. Já não era nada cedo e ainda tínhamos p’rai 700km para fazer. Além disso estava a chuver.
- Queres ir até Phuket? – perguntei à Sofia.
- Quero.
- Can we go with you to Phuket? – perguntei ao senhor.
- Yes, sure – e lá seguimos para Phuket. I isto foi uma grande coisa, para dizer a verdade! É que o meu irmão ia estar em Phuket, e eu ia encontrá-lo aí. Mas a cena é que me confundi com a data em que aí estaria. Assim, caso eu conseguisse boleia até à Malásia, ia ter de voltar para trás dois dias depois, apenas para depois voltar para baixo. Quer dizer, não tinha de fazer nada, mas quereria.
               
Lá chegámos a Phuket. Ele tinha-nos perguntado onde queríamos ficar e eu disse na zona de backpackers (mochileiros). E ele deixou-nos no Backpacker Phuket. Não era baratíssimo (4€ cada um) mas a essa hora não podíamos ir de autocarro para a zona mais barata. Além disso, era fixe, por isso lá ficámos. Ah, e dava direito a uma cerveja, que riso. Estávamos todos partidos, por isso essa noite foi relax.
               
No dia seguinte fizemos as malas e apanhámos o autocarro para Patong Beach, supostamente a zona de festa, ainda que não fosse exactamente a festa que um gajo procurasse. Lá encontrámos o hostel que procurávamos, Cheap Charlie’s, talvez o mais barato de Phuket, onde pagámos 2€ por noite. Deixamos as cenas e fomos para a praia. Tenho a dizer que, apesar de ter passado uma boa tarde, bem que podia estar no Algarve. Pelo menos aquela parte de Phuket, não a aconselhor a ninguém que queira ir à Tailândia. Se alguém curtir o Algarve, como todos curtimos, de uma forma ou de outra, e quiser só dizer que esteve na Tailândia, esse é o sítio. Mas Phuket é grande, e certamente terá cenas diferentes. Mas ali, méne é exactamente como Portimão, mas de vez em quando vê-se algo escrito em tailandês (nem é assim tão frequente).

Estivemos na praia e quando chegámos éramos os únicos na areia. Estava toda a gente nas espreguiçadeiras, que custavam dois euros por pessoa. Depois um grupo de cinco pessoas se deitou perto de nós. Mas os únicos. Mesmo ao nosso lado podia-se fazer aquela cena em que se vai com um para-quedas puxado por um barco. Perguntei a uma rapariga quanto era e ela disse serem 33€. No instante seguinte o méne que estava com ela veio ter comigo e disse que me fazia a cena por 22€. Quer dizer que a miuda nem tentou negociar. E ok, é a cena dela. Eu acho um preço ridículo por uma corrida de dois minutos e meio (contámos), mas sei que isso sou eu que ando numa viagem low-cost. E já paguei 20€ na Polónia por bungee-jumping (que dura ainda menos tempo) e se calhar havia alguém ali a pensar o mesmo que eu penso desses 33€ por esta actividade. Tudo relativo.
               
No nosso hostel conhecemos um gajo interessante. Mal chegámos ele, com o seu sotaque super vincado (era canadiano mas o sotaque é aquele mesmo americano) atravessou o beliche que nos separava para nos dar um abraço. Chama-se Dizzy, tem 50 anos, e é vegan. Para quem não sabe os Vegan não comem nenhum produto animal – nem leite ou ovos, nada. As razões são válidas, mais que válidas, por mais que a malta queira negar, mas não as vou referir agora. A cena é que o gajo, tal como muitos vegan ou vegetarianos, tinha um bocado aquela cena de achar que os vegan são seres superiores. De certa forma, se a pessoa A for igualzinha à pessoa B mas a pessoa B for vegan e a outra não, pode-se afirmar que a B é uma pessoa melhor, porque contribui mais para um mundo sustentável. Mas, apesar da importância de não comer carne, nós somos mais do que “comedores”, e daí desaprovo a assuncção de imeadiato que os vegan são algo assim tão especial. O gajo fez-nos ver uns videos (demasiado) realistas sobre a maneira como as galinhas eram tratadas para dar ovos (horrível e um abre-olhos). Ok, estava a impor um bocado a sua cena, mas ainda assim ok. Mas depois todo o seu discurso – tipo sá aceitava amigos no facebook que fossem vegetarianos ou, se calhar, até vegan, não me lembro. Hã? Que caralho! É a cena dele, é verdade, mas também é a minha cena achar isso ridículo. Apesar de tudo o gajo era interessante, e eu até partilhei consigo esta minha ideia de que muitos vegan se acham superiores, e até lhe disse que ele soava assim, e ele deu umas desculpas quaisquer sobre já ter demasiados amigos no facebook e não sei quê. E a dada altura...

- Tive agora uma conversa mesmo agradável – diz o gajo, vindo de um quarto contíguo, de onde eu o ouvia a falar no skype.
- E longa – respondi, com um sorriso.
- Pois foi. Foi om uma amiga. Mas fui para ali porque eu gosto de falar em privado sobre os nossos assuntos vegan – achei isto o máximo. Mas ok. Outra cena interessante é que o gajo só comia fruta. Aquele dia era o dia da banana. E estava ali como o aço. Magrito mas bem constituído.

Não se passou muito mais nesse dia. Vi o Revolutinary Road que me tocou sobejamente, mas já escrevi sobre isso e publiquei.

No dia seguinte acordei com Krabi (uma terra) na mente! Siga!

18h15-3ª-21-6-11
Ko Jum, Tailândia

1 comentário:

  1. Agora vais ter mais uns seguidores do teu blogue! Foi mto bom conhecer-vos! :-) Boa viagem! Cá estaremos à vossa espera! Beijinhos p os dois! Joana

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