quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ko Pha Ngan (Parte I)


A viagem de Bangkok até Ko Pha Ngan foi aquela esticada do costume. De Bangkok saímos às 18.00, para chegar a Numseionde às seis da manhã. Lá, esperámos uma hora e meia, apanhámos outro autocarro de uma hora e chegámos ao cais. A Sofia desta vez tinha conseguido dormir mais ou menos bem. Já eu, perto de nada. Nada de novo, portanto. Para ser sincero, ultimamente, até numa cama me custa adormecer. Esperámos no cais cerca de uma hora e apanhámos o barco para Ko Pha Ngan.Foi interessante para mim notar que, até ao Nepal, era(mos) sempre os únicos turistas nos meios de transporte que apanhávamos. Autocarros da última classe, comboios à pinha, etc. Já aqui na Tailândia, em qualquer destes transportes que utilizámos até chegar à ilha, estava tudo sempre lotado de turistas. Não curto tanto. Não é que queira ser especial e tal, mas simplesmente sabe bem quando és o único, ou dos únicos turistas num sítio. Como onde estou agora mesmo, o meu pequeno paraíso. Escrevo sentado no cafezinho do meu hostel, o mar a vinte metros, numa ilha com 8 turistas (que tenhas visto até agora). Mas já lá chegámos.
               
No barco sempre dormi alguma coisa. Sem frescuras, deitei-me no chão, e viajei um bocadinho no sono. Mal chegámos apercebi-me que tinha sido um erro marcar hostel. Mas não foi um erro assim tão evitável. Para não ter de pagar balúrdios, optei por marcar através da net, jogando pelo seguro. Tínhamos duas noites num a 8€ cada noite (para os dois) e duas noites noutro a 14€. Apercebi-me que tinha sido um erro porque via bué de ofertas de estadia, e se havia tantas, não podia ser assim tão caro. Quando saímos do barco fomos, claro, abordados pelas dezenas de taxistas. Como nõs não sabíamos exactamente onde era o nosso hostel, e tínhamos as mochilas, fomos no táxi. Dois euros cada um. Toma!
               
O Secret Hut, o nosso hostel, era fixe, mas era longito da praia (a meia hora a pé). Pousámos as cenas, descansámos um bocado, tomámos banho e fomos dar uma volta. Comemos alguma coisa e percebemos também que não dava para encontrar refeições a 0,60€ como em Bangkok. O mais barato que encontrámos foi lá um prato a 1,10€, o mais barato. Escusado seria dizer que escolhemos esse restaurante como o nosso restaurante de Ko Pha Ngan, e esse prato como o nosso prato. A senhora percebeu logo que éramos contidos e dava-nos água sem perguntar que queríamos beber (já bebo água tailandesa, no problem – até a Sofia já bebeu), e dava-nos descontinhos, como o arroz já vir incluído em vez de termos de pagar à parte. No total devemos ter lá comido umas seis vezes. Além disso tinha wireless e a senhora era fixe. Ela, que lá trabalhava, e o dono, um inglês muito simpático que vivera dez anos em Rabat, Marrocos, e que se mudara para Ko Pha Ngan há dois ou três.
               
De seguida fomos ver a praia. Era fixe mas o mar tinha daquelas rochas que às vezes aleijam. Debaixo da areia tinha também barro (que a Sofia pensou poder ser cocó) mas isso é na boa. Era uma praia fixe, basicamente, mas não era de sonho. O que era fixe eram os bungalows que se estendiam pela costa. Quer dizer – fixe porque tinham boa onda e parecia um sítio fixe para ficar, não muito fixe quando se pensa que estavam a sodomizar a praia à bruta. Perguntámos lá num e descobrimos um preço porreiro – 7€ o bungalow (para os dois, se fôssemos quatro, o preço era o mesmo), e era logo o segundo mais perto da praia. Marcámos para o dia seguinte, não muito convictos de que a senhora tinha percebido. Depois foi desmarcar os outros hostels. Perdemos o depósito (10%) mas ainda assim ficava bastante em conta.
               
Ficámos um bom pedaço na praia e depois fomos para casa, comigo a batalhar um bocadinho para não ir a uma festa no meio da selva – por não me poder dar ao luxo de andar sempre a cortiré.
               
Pá sinto-me mesmo bem neste momento. Este é dos meus sítios preferidos na terra, acho. Este, o norte do Paquistão, e um ou outro que me esteja a escapar. Estamos na época baixa. Mas o clima aqui não varia quase nada, por isso estão p’rai 30 graus. Estou a ouvir Regina Spektor mas, apesar dos fones, ainda se ouve o mar, que está ali mesmo à frente. Só árvores a toda a volta, a senhora alemã com cara de enjoada esposa do Loius (cora super fixe) e o filho, imagino, de ambos, ali à esquerda a ler. E sinto-me apaixonado. A distância que criei entre mim e o destino do que dentro de mim vai serviu incrivelmente para a querer perto mais do que nunca. É um sentimento mais complexo que saudade, algo que se instala para ficar e nos diz como vão ser as coisas, que nos faz querer que esse sentimento seja rei e senhor dos desígnios da VIDA. Sinto-me bem, como toda a VIDA à minha frente. Méne que cena os sentimentos e percepções. Às vezes sinto que a idade é tão ilusória que, mais do que já estar velho, já vivi tudo e morri. Outras vezes sinto que a idade é tão ilusória que o tempo que tenho diante de mim se esticará até ao infinito, tocará cada partícula do universo que me envolve. Umas vezes tudo, outras vezes nada, mas sempre a indefinição que, no fundo, sempre me apaixonará.

No dia seguinte que fizemos? Yes! Alugámos uma scooter! Eu estava mortinho, a Sofia ainda hesitou um bocadinho. Ou se calhar nem hesitou, mas eu estava tanto nessa que qualquer trejeito me poderia parecer uma hesitação. Foi a primeira coisa que fizemos, para que pudéssemos usar a scooter para nos mudarmos para a nossa casa para os próximos dias. Tudo isto demorou uma hora e tal. Depois fomos conhecer a ilha.
               
Tinha visto no mapa “Paradise Waterfall”, e lá fomos nós, pascacitos, porque se chamava Cascata Paraíso, tinha mesmo de ser! Não era. Era fixe, muito fixe até, mas não era paradisíaca. Mas isso não interessa! O que interessa é a jornada, e neste caso não é só uma frasezita, é mesmo verdade. Isto porque, andar sem t-shirt, sem capacete, com 30 graus, de scooter na Tailândia é a verdadeira cena. Curto bué! Já em Goa, em 2009, tinha uma scooterzinha todos os dias. Um gajo até pode não ir para lado nenhum, e só mesmo dar uma volta, que vale a pena! Assim, chegámos à cascata, e pensávamos que era “lá em cima”. Percebemos que era mesmo aquilo, mas ainda assim fomos subindo a cena, o que foi fixe. Fomos riacho acima, trepando aqui e ali, parando para nos refrescarmos aqui e ali. Depois voltámos para baixo, ficámos um pedaçito no laguinho principal e seguimos caminho. Fomos dar a uma praia muito fixe. Aquela águazinha daquela cor que se curte, um areal sem aquelas rochas que não se curtem. Ficámos lá meia hora e seguimos caminho. Tínhamos a mota só naquele dia, queríamos fazer render e conhecer um bocado da ilha. A seguir fomos a Coral Beach, e aí senti que cada praia era melhor que a outra. Esta era o relax total. Tinha um cafezito com um ocidental a trabalhar e tocava daquelas musiquinhas dos anos 80 que até são fixes mas naquele cenário ficam excelentes. Uma baíazinha (reparei agora que estou a usar bué de “inhos”) com pouca gente, grande feeling.
               
Algures no meio destas andanças, passou-se algo interessante...
Estou farto de ver malta sem capacete com os filhos na mota, também sem capacete, sentados à frente, agarrados à parte do meio do volante. Às vezes os putos até vão a dormir enquanto agarrados àquilo, como se nada fosse. É normal. Todavia, vi um ocidental com o seu filho da mesma forma, e senti-me reprovador. E de repente, meio segundo depois, reparei na estupidez deste pensamento! Parece que por ele ser ocidental me transportei, de repente, para o nosso mundo, e vi as coisas com os olhos de lá (daí). Quando no fundo, uma VIDA é uma VIDA, e a VIDA de um puto tailandês vale tanto quanto a VIDA de um puto europeu. E não é, claro, que por alguma fracção se segundo eu tenha achado o contrário, simplesmente acho que faz parte ver os putos tailandeses assim, mas quando vi um ocidental, houve algo ali que deixou, momentaneamente, de fazer sentido. Depois fiquei a pensar na peculiaridade da minha reacção um bocado, e segui a minha VIDA.
               
Demos mais umas voltas e voltámos, passando pela base, e seguinte para o outro lado, onde fomos parar à praia da Full Moon Party. Ruas cheias de lojas, Mc Donalds, KFC, t-shirts da Full Moon Party à venda em todo o lado, colares luminescentes, pulseiras, música, promoções de shots. A praia, em si, tem grande ambiente de festa, e também é apelativa, apesar de o ser por razões muito adversas a outras que já enunciei. Não é nada calma e muito menos recatada. Mas tem música, uma fileira que cobre quase todo o arial de bancas onde vendem baldes de vodka/whiskey/etc (20cl, quiçá misturado com água) com uma lata de Coca-Cola (33cl) e uma garrafita de Red Bull por preços que vão dos 2€ a 5€.

Basicamente, Ko Pha Ngan é visitada por centenas de milhares de turistas com o objectivo de irem à Full Moon Party. Se não sabes o que é vai ao google porque agora não tenho net e não sei dizer mais do que isto – é uma festa brutal na praia. Contudo, apesar de toda esta afluência com este intuito, parece-me um sítio onde ainda é possível encontrar praiazinhas recatadas, não muito exploradas. Todavia, note-se que estamos na época baixa.

Voltámos à base, tomámos banho, fomos comer qualquer cena, e lá p’rás dez, munido da minha garrafinha de whiskey tailandês eu fui à festa antecipatória da FMP, que seria no dia seguinte. A Sofia ficou em casa. Foi uma grande noite. Pena foi perder as sandálias que já tinha há dez anos. No final de contas, só umas sandálias. Preferia não as ter perdido, mas não fiquei triste.

Cheguei lá e sentei-me a ver um espetáculo de fogo. Fascinante, mesmo! Foi um bom início de noite, quando um gajo ainda não está muito solto para meter conversa com pessoal à sorte. Então estive aí p’rai meia hora. Havia música em todo o lado, os balcões de baldes a tentar seduzir o pessoal a ir lá comprar, o ocasional espetáculo disto ou daquilo, rodas de malta sentada no chão no paleio. Perguntei a uma malta se me podia juntar a eles e lá fiquei um pedaço. E a minha noite foi assim, mais ou menos, de roda em roda. Passei também uma hora e tal com uns tailandeses a jogar jogos de beber da Tailândia (que são iguais no mundo todo, no fundo, com pequenas variações).

Cheguei a casa às nove da manhã p’raí.

No dia seguinte seria a Full Moon Party.

Fim da Parte I.

16h37-3ª-21-6-11
Ko Jum, Tailândia

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