quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Shangri-La e Tiger Leaping Gorge



Dia vinte e quatro partimos para o Tiger Leaping Gorge, uma caminhada de um dia (ou mais, dependendo se se continua ou não) pelas montanhas que prometia ser espetacular. Não fomos mais cedo porque queria ver se as minhas feridas nos dedos dos pés saravam, para poder usar as sapatilhas. É que andar pelas montanhas de chinelos não vai com nada. Mas teve de ser.
               
Na noite anterior o Mário disse que talvez boleiasse também. Assim, fizemo-nos à estrada, íamos tentar um pedaço os três, e se não funcionasse, separavamo-nos. Não passaram mais de vinte minutos até aparecer um carro que podia levar apenas duas pessoas. Seguimos eu e o Ilya, e fomos ter direitinhos à Jane’s Guest House, o hostel logo no início, cinquenta metros depois de pagarmos cinco euros e pico para entrar na zona. Comemos qualquer cena, e o Mário apareceu p’rai meia hora depois de termos chegado. Porreiro. Comeu qualquer coisa também, guardámos a mochila maior, preparámos a mais pequena, demos uma olhada no roteiro, e seguimos.
               
Devemos ter sido, senão o grupo que saiu mais tardiamente, um deles. Não sabíamos muito bem por onde ir, mas cedo apareceram as setas que nos foram indicando o caminho. Sempre a subir até passarmos as “28 bends” (28 curvas, mais ou menos), uma série de curvas sempre a subir com uma inclinação nada simpática, foi uma grande esticada e uma caminhada sublime. Caminhámos quase sempre com os olhos pousados nas montanhas do outro lado do rio que batalha em se acomodar no pequeno espaço entre ambas as elevações, de vez em quando chove, de vez em quando aparecem as velhas com as suas “lojinhas” onde vendem água, nozes, bananas e sacos de ganza. Fazer aquilo de chinelos foi um desafio, mas correu bem. Só me custava um bocado porque estava de meias, para proteger as feridas, e isso fazia com que eles deslizassem, deixando-me com a tarefa de os agarrar constantemente com os dedos dos pés. Adorei aquilo, agora que penso nisso. É que senti-me vivo. Daquele vivo que nos faz abanar as árvores com a cara a apontar para o céu, e sentirmo-nos felizes com as gotas que se agarravam às folhas verdes e agora viajam pela nossa pele. Ou parar para recuperar o fõlego à beira de um precipício que nos deixa invejosos dos pássaros mas ainda assim felizes por ter a oportunidade de ver coisas daquelas. Estou a adorar a China.
               
Fomos lestos no nosso esforço, e chegámos ao destino, a Halfway Guest house, em cerca de cinco horas. Houve alturas em que pensei que aquilo estava a ser mais difícil do que antecipara, mas depois das 28 bends foi mais tranquilo. Foi um alívio ver os sinais com o nome do hostel, e quando chegámos absorvemos logo a boa onda daquilo. Era tudo de madeira, bastante grande, vários viajantes aqui e ali, e alguns ao redor de uma fogueira. Tomámos banho, sentámo-nos a admirar o que tínhamos à nossa frente. É que o hostel, estando numa encosta, tinha uma vista deslumbrante. Imagina sentares-te prontinho para uma derreada no quarto-de-banho, olhas para o lado e tens, sem vidro, sem nada, uma montanha a olhar para ti. Demais mesmo.
               
Passámos uma noite porreira. Jantámos, comprámos umas garradinhas de licor de arroz, e passámos o serão à conversa.
               
No dia seguinte tínhamos ainda uma cmainhada pela frente. Coisa pouca, quase duas horas. Fomos nas calmas, chegámos à Tina’s Guest House, almoçámos e apanhámos o autocarro para Lijiang. Tinhamos como opção boleiar, mas já era um bocado tarde, e alguns dias antes tínhamos precisado de oito boleias para fazer setenta quilómetros do mesmo percurso. Pareceu mais sensato metermo-nos num autocarro. Passaríamos a noite em Lijiang, e na manhã seguinte bota Chengdu.
               
Mal chegámos encontrámos o Philippe, franco-canadiano e amigo do Nick, com quem tinha estado alguns dias antes. Combinámos encontrarmo-nos logo no Stone The Crow. Depois de deixarmos as cenas no quarto, jantámos, e eu e o Mário fomos ter com o pessoal. O Ilya ficou, não estava com o feeling. O Nick já não andava como Ian e o Tim, mas ainda com a Tanya e o Phil, e outro pessoal. Uma alemão e um alemão e duas israelitas. Topei que havia ali algo a rolar entre o Nick e uma delas. Ele não desmentiu. E isso acabou por ter um impacto na sua decisão de não ir connosco no dia seguinte. É que ele tambem ia para Chengdu, só que já tinha comprado o bilhete, por mais de trinta euros, mas comos os autocarros estavam esgotados, só podia bazar passado cinco dias. Disse-lhe para ele cagar para o bilhete e boleiar connosco. O gajo ficou naquela, mas estava renitente caso eu e o Ilya apanhássemos uma boleia e ele tivesse de ficar sozinho. É pena, não pelo facto de ele não ter vindo connosco, mas porque é um gajo porreiro mas que se calhar se devia mandar mais de cabeça em algumas cenas. Ou então sou eu que acho que toda a gente devia fazer aquilo que eu acho que é fixe ou bom.
               
Dia vinte e seis partimos em direcção a Chengdu. Demoraríamos três dias a lá chegar, mas foi uma viagem espetacular.

20h03-6-2-9-11
algures entre Xian e Pequim





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