sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Kunming


o meu teclado flipou um bocado. entretanto arranjei um sistema de o corrigir, mas este texto nao foi corrigido. mas nah ha crise.

Dia quinze acordei... ahaha, esquece, não acordei nada, porque não dormi. Com a cagufa de não conseguir acordar (sendo que não tinha despertador((, fiquei acordado toda a noite, a ver a minha série-metadona (sou um bocado viciado em séries, e quando não consigo as minhas mata-se o vício com outras que noutras circunst;ancias nunca veria((, a escrever, corrigir e ordenar fotografias e vídeos, pesquisar cenas na net. E essas cenas todas.
               
Quando me arranjei, saí lá p’ra fora, onde me sentei à espera. Via os monges budistas ao fundo da rua na sua rotina matinal de ir buscar a comida a quem a oferece. Não é o mesmo que esmola, e o que eles fazem não é pedir. A primeira vez que vi foi na Tail;andia. E o que mais me interessou foi, não só a prontidão, mas também a preparação da malta em dar. Isto é, os monges não aparecem e o pessoal vai tipo “hei, ok, já que queres comida, toma lá” - ao invés, o pessoal muitas vezes já os espera e tem uma banquinha com a comida.
               
Tive uma conversa interessante com a Sofia em Bangkok, que não sei se cheguei a partilhar aqui. Vendo a chavalada vestida de laranja, a Sofia questionou a eventual escolha, ou a falta da mesma, daquele estilo de VIDA. Eles vão para o mosteiro quando são jovens, não escolhem ir, não escolhem ter aquele estilo de VIDA. É justo? É, acho que sim. É que, em primeiro ligar, ser budista não é algo horrível e que cabe aos desafortunados, malucos ou inadaptados à procura de uma escapatória fácil. Um budista é alguém que, à partida, se foca em existir, primordialmente. Tem como prioridades a consciência da existência de uma forma que não haja como muitos de nós, roboticamente; e levar uma VIDA que não implique o sofrimento de outros seres para que a felicidade seja alcançada. É um milhão de vezes mais profundo que isto, mas só quero elucidar o que está por detrás de algo que em Portugal não entendemos. Lembro-me de ser puto e um filho de um amigo do meu pai tornou-se Hare Krishna. Apesar de nunca ter conhecido o méne, lembro-me de, na minha inocente ignor;ancia, pensar quase como se o gajo tivesse morrido. Tipo “hei coitado, porque é que será que enveredou por um caminho assim?”>. Concerteza na altura não sabia usar palavras como enveredar, mas de todo o modo, acho que reflecti um bocado a mentalidade que temos para alguém que segue por caminhos diferentes. Eu era um puto, e apesar de me gabar de sempre ter tido uma mente própria, nessa altura era tão novo que acho que reflectia apenas algumas características da nossa sociedade e cultura que nos são impostas.
               
Agora se é justo que os putos não possam escolher ir, ou não, quando novos, para uma escola budista... Pensemos assim... É justo que não tenhamos tido escolha nenhuma em levar um estilo de VIDA muitas vezes marcado pelo consumismo, pela inevetável associação a dinheiro e felicidade, por uma dieta que implica a morte ou abuso de milh:oes de animais e do esgotamento dos recursos naturais da terra, que vivamos numa constante competição uns com os outros pelo melhor carro, casa ou hábitos? Não, não é lá muito justo.

Enquanto observava a chavalada apareceu uma senhora a vender arroz. Só isso, arroz. Se calhar por causa do sono, só negociei um bocadito e comprei p’rai um quilo por quase um euro. Comi quase tudo. É que o arroz no Laos é fixe. Chama-se sticky rice, que em português seria algo como “arroz pegajoso”. Eu sei, é um termo que não agrada muito. Mas basicamente são nacos de arroz que um gajo come sem problemas com a mão. Pode amassar e fazer uma bola e morfar aquilo. Curto.
               
Chegou o tuk-tuk e levou-me p’rá estação, onde esperei quase uma hora pelo autocarro. Ui como me deitei confortavelzinho naquilo. Não era tão pax-pix como os que apanhei no Vietname, mas tinha mais uns centímetrozinhos para as pernas que faziam toda a diferença. Ah, e em vez de um cobertor tinha um edredão. Excelente. Deitei-me embrulhei-me e dormi com qualidade de sono de cama, p’rai seis horas.
               
A fronteira do Laos para a China foi a mais sofisticada por onde passei. Qual preencher aqueles papéis com a nossa informação? Um gajo mete o passaporte na máquina e o papel sai já preenchido. Além disso um gajo pode avaliar o desempenho da pessoa que controla o nosso passaporte, carregando num botãozinho com uma escala em smiles. Fixe.
               
Entrámos na China, e passado um pedaço parámos uma hora numa vila qualquer. Nada a ver com o sudeste asiático, muito menos com o Laos. Parecia uma vila portuguesa, só que na China. Não curti. Jantei por cinquenta cêntimos e seguimos caminho.
               
Cheguei a Kunming, a minha primeira paragem chinesa, às cinco e tal da manhã. Viajar aqui não é tão fácil como noutros sítios. É que está tudo em chinês e é, para já, o pior país que visitei em termos da malta falar inglês. Perguntei a uns miudos para onde ia aquele autocarro, eles não me percebiam, mas apareceu outro méne que até falava inglês. Disse para entrar, e esse autocarro, que ele pagou, deixou-nos perto da estação de comboio. Eu sabia que autocarros tinha de apanhar até o meu destino, mas não sabia onde. O meu “amigo” perguntou a um homem que queria que eu pagasse para me levar à paragem. Ódio pelo oportunismo – check. Eu disse que não, mas o meu “amigo”, passado um bocado, deu-lhe uma nota qualquer, e lá fui com o cota. Comi qualquer coisa e apanhei o autocarro. Não estava, e não estou ainda, impressionado com a simpatia chinesa – não tenho visto muitos sorrisos, e muitas vezes o pessoal nem me ouve. Não falam inglês, ok, mas há outras maneiras de comunicar.
               
Pedi a um rapaz para me dizer quando era a minha parada, e quando ele assim o fez, saí. Estava onde o Neri, o meu anfitrião italiano, me tinha dito para o esperar. Tentei ligar-lhe mas o gajo não atendia. Quando mostrava o papel com o número, uma senhora reparou na morada, uma linha abaixo, e apontou p’ráli. Fui caminhando e perguntando, até que fui ter à porta. Bati e vi o Neri a abrir, surpreso. Achei piada àquilo, porque geralmente eu não sou nada bom em orientação, e tanto ele quanto a malta que lá estava ficaram bastante impressionados com eu ir ter direitinho ao apartamento. E fiquei a pensar nisso. É que sei que nós agimos de acordo com a estória que nos escrevemos. Algures ao longo do caminho, muitas vezes devido a acontecimentos aleatórios, decidimos que é assim que somos e não só nos entregamos às (aparentes(( evidências, como até temos algum orgulho em ser assim – tipo aquelas falhazinhas que achamos que precisamos de ter para ter mais personalidade e ser alguém mais singular. E desse dia até hoje, tenho prestado atenção, e tirando hoje que me enganei numa direcção por quarenta e cinco graus, tenho estado bastante bem. Vou mudar.
               
E quem é qiue estava no apartamento, quem? A Lena, outra vez. Acaba por ser curioso... Comunicámos primeiro no Camboja, mas não nos encontrámos porque ela andava dois dias À minha frente.. Encontrámo-nos depois no Vietname, em Hánoi. Depois outra vez em Vientiane, no Laos. Depois em Vang, Vieng, ainda no Laos. E na China, por acaso, estávamos a ser albergados pelo mesmo gajo!. O Neri estava a albergá-la e também ao Ilias, seu amigo e a Amy, uma canadiana de vinte e dois anos muito bacana. A Amy ia apanhar um avião na madrugada seguinte para Hong Kong, e a Lena e o Ilias iam apanhar o autocarro para Nanning. Deixei as cenas, e saí com eles, para ir comprar uns sapatos e dar uma volta pela cidade.
               
O Neri deixou-nos e fomos primeiro ao hostel onde a Amy tinha dormido na noite anterior. É que a miuda anda a viajar com o Tom, um chinês que estuda consigo no Canadá, mas tiveram uma tripe e ela bazou. A Amy está há dois meses na China e vai viajar dois anos. E o Tom veio com ela e volta ao Canadá brevemente. Aparentemente o rapaz é um bocado demasiado protector, e quando ao longo da sua viagem, eles econtraram outros viajantes com quem beberam uns copos e curtiram, ele ficou um bocado ciumento. “Eu nem te conheço!”, disse ele, a dada altura, chocado por ela gostar de passar um bom bocado. São daquelas diferenças...
               
Uma vez, em Birmingham, alberguei uma rapariga adorável, de Shanghai. A pessoa mais pura que já conheci. Demo-nos bem, ela curtiu os meus amigos, e acabou por se juntar à nossa trupe no Algarve, quando fomos todos passar dez dias no meu apartamento em Quarteira. Aos vinte e um anos a miuda era virgem, não sabia quem eram os Nirvana, uma banda que, goste-se ou desgoste-se, qualquer jovem conhece, não sabia o que era Martini e não sabia como funcionava um isqueiro. Incrível! Mas segundo ela, é normal na China. Acho que ela viu no nosso grupo uma lufada de ar fresco, e sem ser encorajada, permitiu-se experimentar isto e aquilo, num seio onde se sentia à vontade e protegida. E disse-nos que os amigos chineses ficariam fora de si se vissem o nosso estilo de VIDA. O meu pai já se deve estar a passar ao ler isto. Mas como disse, a rapariga queria experimentar, por exemplo, ficar alegre – eu não sou pai dela, tudo o que eu podia fazer era adverti-la para ter cuidado se era a primeira vez, para não tombar p’ró lado.
               
Talvez para se redimir, o Tom apareceu na esplanada do hostel com uma garrafa de vinho e amêndoas. Ficámos lá um bocado na descontra e depois fomos ver a cidade. Nada a apontar. Mesmo. Ora aí está um sítio onde nunca mais voltarei – Kunming. É uma cidade com prédios. Demos umas voltas, eu comprei umas sapatilhas por quatro euros, mais umas voltas, comemos, fomos ter com o Neri.
               
-Que fazer, que fazer? – disse o Ilias. O gajo tinha bom feeling. Batalha um bocado com o inglês, mas não o suficiente para impedir uma conversa.
-Pá vamos andando e vendo a cidade – respondi, ainda que a sua questão tivesse sido mais retórica.
-Não, não é isso... não sei se vou para Nanning ou fico mais um dia... – respondeu. Quando referi o facto de já ter comprado o bilhete, disse que não era assim tanto dinheiro que perdia.
-Além do mais... acho que ela [a Lena[[ já não está muito a fim de andar comigo...
-Porque é que dizes isso?
-É uma sensação.... não disse nada, mas é o que sinto... – eu disse-lhe que, se ele ficasse, eu ia daí a dois dias para Dali, e ele podia vir, se quisesse. Adverti-o que ia boleiar, e ele disse ok. E acabou por ficar. De certa forma, é como se lhe tivesse roubado o amigo.
               
Costumo dizer que sou uma puta emocional. Se não vou com a cara de alguém, essa pessoa pode falar comigo um minuto e chega para eu passar a gostar dela. Não posso dizer que morra de amores pela Lena, mas nesse dia aligeirou um bocado o que sentia. Mas continuo a achar que tem cenas que não curto, tipo uma pequena arrog;ancia e alguma estranheza. No dia seguinte, quando ia para o parque com o Ilias, perguntei-lhe que é que tinha sido aquela cena em Vang Vieng, quando passou por mim e não disse nada. Ele disse que quando passaram, ela disse que achava que era eu. Quando ele disse para irem confirmar, ela disse que não, para seguirem. Voltaram para trás após a insistência dele.
               
-Ela é meio estranha... – disse. Enfim, cenas. Sem import;ancia.

vinte de agosto de dois mil e onze-sábado-catorze e trinta e quatro
algures entre Dali e Lijiang

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