Há pessoal fixe. Há vários deles por terras de Cambra, está claro. Mas também há para aí, mundo fora, pessoal que curte fazer cenas pelos outros...
Ontem acordamos às sete da manhã, prontos para zarpar em direcção ao Este, essa direcção que reinará quase todos os dias. Munidos com o poder internáutico e a informação que adveio do mesmo, sabíamos que tínhamos de apanhar um comboio até Montclava, depois virar, aqui, virar ali, eventualmente encontrar um sinal a dizer “proibida a passagem”, passa-lo, e dar com uma estação de serviço da Galp. Aí dividimos tarefas, e o João focou a perguntar ao pessoal (“perdon, te vás en direccion al norte?”) nas bombas de gasolina, e eu no restaurante. Passado uma hora consegui boleia de um marroquino. Ia até para lá de Perpignan mas deve ter tido medo de atravessar a fronteira connosco porque nos deixou em La Jonquera, a última estação de serviço antes de França, creio, onde as temperaturas dançam com o Vento e deixam-nos a apitar. Lá, tardamos uns cinquenta minutos a encontrar alguém que teve de ser conquistado. Estava renitente, sorri, mandei piadinha aqui e ali e lá consegui convencer o rapaz. Tenho-me vindo a aperceber que, se às vezes nem falam connosco, outras vezes o que é preciso é um jeitito aqui e ali. Claro que também tive um que disse algo como “não porque tenho ganas de ir sozinho, é o meu problema!” e outro que, honestamente pelo menos, disse que “tinha medo”.
Assim ficámos, com esta segunda boleia, a meio entre a fronteira e Montepellier. Estávamos indecisos quanto a nos contentarmos com esta cidade ou arriscar até Marselha. Não demorámos mais de dez minutos a conhecer o Bruno, francês, que prontamente se ofereceu para nos levar até à última estação de serviço, caso não quiséssemos ir para Montepellier. O Bruno tinha um avô português, um siciliano, já correra meio mundo, tendo nascido no Gabão, ido para a França vinte e cinco anos depois, vivido no Brasil um ano e dois na Costa Rica. Uma pessoa simpática e interessante, que ia falando sempre em Francês que, para surpresa minha, era amplamente percebido e correspondido.
Há pessoal fixe. A dada altura disse que, se quiséssemos, nos dava uma rápida tour de Montepellier e depois nos deixava um bocadito à frente, em direcção a Marselha. Contentes assentimos e assim fomos conhecer um bocado da sua simpática e beje cidade. Levou-nos à sua cave milenar para nos mostrar os milhares de pinturas que tinha comprado mundo fora (a dada altura comprava e vendia doze mil por ano) e partimos passado pouco tempo. Apesar de nunca ter sentido nenhum receio, achei engraçado que aquela cave parecia aquela cena hollywodesca de quem anda à boleia e depois fica preso numa catacumba!
O Bruno lá gostou de nós, tal como nós dele, e levou-nos, não mais um bocado à frente, mas a Marselha! São cento e setenta quilómetros mais! Ele próprio já tinha andado à boleia no passado, e talvez isto combinado com a sua generosidade natural culminaram ali numa louca mistura que fez com que tivéssemos feito quinhentos quilómetros num dia! Uma vez chegados, bebemos qualquer coisa no O’Malleys enquanto esperávamos pela Jo, a nossa anfitriã com mais energia de que um esquilo com red bull. Miuda muito fixe, que já viveu sete meses em Barcelona, sete anos no Canadá, um ano em Nova Iorque e vai transitando entra a Ásia e os trabalhos com contractos de meio ano em França. Jantámos e estivemos à conversa, até que a noite se fechou.
Agora vou apresentar Marselha aos meus olhos.
12h19-3ª-1-2-11
Marselha, França
Devagar devagarinho...à boleia vão conseguindo.
ResponderEliminarE a VIDA acontece!
Tudo de bom e continuação de excelente caminhada ;) :)