quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ljubljana

Acabámos por não ir cortiré no Sábado, mas ‘tá-se bem.  Quando chegámos a Ljubljana ligámos a um táxi, que passadomeio hora nos deixaria me casa da Ana. Lá, onde tinham estado os seus amigos à nossa espera, que entratanto bazaran, estava a Ana, com duas garrafas de vinho, nachos e uma cena que nunca tinha visto mas que envolvia uma relação quem sabe mais que amigável entre pedaços de galinha envoltos por algo que me disse ser tortilla. Isto já chegava para forrar o estômago até ao dia seguinte, mas a Ana obrigou-nos a mandar vir alguma coisa. Pedimos um hamburger que se revelou do tamanho dos anéis de Saturno que ela não nos deixou pagar. Insistimos, mas disse que era nossa anfitriã e não sei quê, e o facto de termos dito que uma coisa não exigia a outra não serviu para a convencer. Depois de comer estivémos umas horas à conversa, enquanto degustávamos o vinho e uma outra bebida qualquer, forte e com rosmaninho, feita artesanalmente e que nos deixou a ver as coisas andarem mais devagarinho um bocado.

No dia seguinte fomos dar a volta da praxe. Reparei em como Ana se esforçava para nos mostrar tudo o que existia, e como queria que passássemos um bom bocado, algo que, naturalmente, lhe agradeci e agradeço. Foi interessante ter estado com ela, sendo que a conhecia apenas de uma noite em que foi dar uma volta comigo, o João e o Petiz, e desde então falámos de vez em quando na net, maioritariamente quando me vem pedir um ou outro conselho acerca disto ou daquilo. Desenvolvemos uma boa relação de amigos que não se vêem. Ljubljana é uma cidade bastante pequena. Contudo, tem algo que, não sendo necessariamente raro nas capitais europeias, neste caso cai com extrema beleza, que é o rio Ljubljanica a atravessar a meio as ruas eslovenas, e a abrir-se em dois pequenos braços que abraçam um priviligiado pedaço de terra, constituindo uma pequena ilha no meio da cidade que facilmente passa despercebida.

Após termos subido ao castelo e lá ter ficado um bocado na descontra, fomos ainda a Metelkova, um bairro de ocupas que é, pelos vistos, dos melhore sítios para curtir nas noites de fim-de-semana. A arte que brinda os olhos dos transeuntes, assente em qualquer parede ou fachada, é algo bastante singular.

Esse dia não teve muito mais de especial. Voltámos para casa por volta das seis da tarde e por lá ficámos, a escrever, ler, conversar. Quando numa viagem tão extensa, é impossível estar em modo-viajante a toda a hora, e fazer coisas que se pode fazer em casa, ou em qualquer lugar, retira um bocado da constante agitação de se ter que fazer isto, ou ter que ver aquilo.

No segunda fui dar uma volta com o João, meio sem destino, mas mais ou menos orientada em direção ao parque de Ljubljana e, quem sabe, o jardim zoológico, que tinha visto ser um dos mais bonitos na Europa. O João, estando em mega low-budget, tinha pensado que poderíamos avançar a cerca e entrar no jardim zoológico de borla. Não sei porquê, esta opção não se me afigurou como viável. Só me imaginava a ser perseguido pelos guardas do jardim zoológico, ou então, numa opção não tão atractiva, imaginava-nos a avançar uma cerca qualquer e, por engano, ir prestar uma visita aos caríssimos leopardos. Reparei noutro dia que coibo um bocado as minhas pseudo-loucuras quando na companhia do João. Não é nada que me apoquente, nem com que me importo, pois acho que muitas vezes nos convém uma flexibilidade adaptada ao meio que estamos inseridos. Mas se normalmente estou na presença de alguém da minha idade, há travões externos a mim, e acessórios aos meus próprios que ajudam a estabelecer um julgamento mais ou menos apropriado. Com o João, tendo o rapaz dezoito anos, sinto um pouco que às vezes tenho de pensar por mim e por ele, antes de pensar em fazer qualquer coisa. Mas ‘tá-se bem, não é um papel que me deixe ressentido, zangado, ou qualquer outro desses sentimentos que de porreiro nada trazem.

O parque de Ljubljana é altamente. Vídeos abaixo. É porreiro sabermos que estamos tão perto de uma capital e, ao mesmo tempo, no meio da natureza. Assim andámos por aí, até que nos apeteceu voltar para trás. Ora não sabendo exactamente onde estávamos, vimos uma cerca de madeira, que poderia, eventualmente, ser um atalho. Avançamo-la e seguimos caminho. Vimos uma estátua pequena de um rinoceronte, que estranhámos. Mas ok. Foi quando vimos uma família de bodes que percebemos que tínhamos, afinal, entrado no jardim zoológico. O mal estava feito, por isso deixamo-nos ficar. O zoo é, efectivamente, fixe, sendo que está inserido no parque. Mas é deprimente para caramba. Fiquei contente por não ter contribuído monetariamente para a exploração dos animais e fiquei com a ideia, eventualmente radical para alguns, que não deveria haver jardins zoológicos. De todo. Safaris ainda é naquela, mas a depressão de ver aqueles pobres animais a andar para trás e para a frente é algo impossível de ignorar.

Umas duas horas depois estávamos a caminho da cidade. Tínhamos como plano ir ao Parlament, um bar onde haveria uma festa de erasmus, mas apetecia-me uma pré-festa, onde um gajo pudesse beber uns copos sem ter de gritar para falar. Foi por isso que o destino pôs o João Miranda no nosso caminho, que ouviu o Pedro Moreira e o João Miranda (e ainda havia um terceiro João Miranda na residência de estudantes, ahah), a falar português e nos convidou para aparecermos na sua residência. Assim, foi passar no supermercado, decorar o caminho, e às dez e mia lá estávamos. Foi uma noite porreira, que me deixou com agradáveis recordações dos meus tempos finlandeses.

No dia seguinte bazámos de Ljubljana. Com um cartazito a dizer “Veliko Mlacebo, Grousopje” pusemo-nos a caminho. Foi uma mistura dos dois que acabou por funcionar. Uma msitura porque primeiro falei com algum pessoal numa bomba de gasolina, tendo umas quantas negas, e depois, uma dessas pessoas, tendo visto o cartaz, levou-nos até lá. Assim fomos de BMW, conduzidos pelo Bostian, que até morava a cem metros dali mas se ofereceu para nso levar. Aqui estou agora. Numa aldeia que começa e acaba em pouco mais de cem metros, em casa da Polona, amiga que o João conheceu num encontro de gajos que andam à boleia (hitchhikers, em inglês, não haverá um termo luso mais simples que “gajos que andam à boleia”?). A miuda é porreira, assim como  o seu irmão e a sua irmã, que vivem mais ou menos isolados dos seus pais na parte de cima desta casa. Fomos dar uma volta por aí, acompanhados de Kimi, o seu cão, que teve um encontro repentino com um pastor alemão mil vezes maior que ele. Ainda o fez rebolar e ganir um bocado, mas quando corremos para ele o gajolá se assustou e bazou. São sempre interessante estas situações, porque mostram-nos como, num segundo, podemos pensar num sem número de coisas, como “será que pontapeio o pastor alemão? E se ele se atira a mim? E se se atira ao meu pescoço?” e cenas assim.

De noite vimos um documentário sobre consumismo, tudo muito tranquilo. Curto estar aqui. Hoje fomos ali a num-sei-onde, à beira de um laguito qualquer, onde nos sentamos uma horita a falar sobre nada. Vamos daqui a pouco a Ljubljana – isto é apenas a vinte e tal quilómetros da capital.

18h02-3ª-9-2-11
Veliko Mlacebo

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