quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ride Alone


A solidão da estrada chama de novo. Um gigante de alcatrão levanta-se, toca nas nuvens cinzentas e grita-me algo numa língua que não conheço. Eu estou cá em baixo, com a chuva a deixar rastos de arco-íris na minha face. O meu polegar está esticado mas a estrada sobe tanto quanto os meus olhos podem alcançar, e ninguém vai para esse lugar.               
               
Os dias que se aproximam são os dias em que estou de volta a tudo o que tenho para me dar. Vai-se a companhia de viagem, e com ela partem as gargalhadas e experiências que partilhámos nestes dois meses e pico, volta a aventura solitária de quem fica com saudades de falar a sua língua.
               
Ganhos em cada lado, naturalmente. Para quê entregar-se à fatalidade de ver algo como, ou bom, ou mau? Na sua partida há a perda de uma companhia especial, de alguém que traz consigo um Ventinho porreiro para qualquer face. Mas... para quê essa fatalidade de se focar apenas naquilo que se perde? Sendo o mundo guiado por um equilíbrio que muitas vezes escolhemos ignorar, cada acção ou evento positivo tem o seu negativo, e cada negativo tem o seu positivo. Mas por vezes abrir os olhos para esta realidade custa, e as pálpebras pesam como portas cansadas.
               
Vou estar de volta ao estado de espírito com quem atravessei a parte do mundo que existe naqueles espaços entre a Turquia e a Índia. De volta àquelas horas de constante reflexão, de olhar para dentro sozinho, de deixar feedbacks transactos assentarem nisto a que chamo de “eu”. De volta ao receio de estar num lado desconhecido às tantas da noite sem ter ninguém com quem falar.
               
Assim me entrego, novamente, ao que o mundo tem para me dar. Sem nenhuma mão para agarrar, toda alma é minha, e todo o amigo ao virar da esquina.

19h09-2ª-11-7-11
Bangkok, Tailândia

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