Após os “olás” e essas cenas todas, estive um bocado à conversa com o Ash. Da Sofia, notícia nenhuma. Ia pensando se estaria bem, se se teria passado algo, até porque as horas ia passando e entretanto o sol tinha-se posto.
O Ash é um malaio indiano. A etnia é algo muito importante na Malásia. Há os indianos, os chieneses, e alguns malaios, se bem que não os seu distinguir muito bem. Acho estranhos estes conceitos. É pessoal que nasceu naquele país, os seus pais também, mas não são propriamente malaios – ou assim o dizem sendo que a nacionalidade é, também, relativa.
- No estrangeiro sou malaio, na Malásia sou indiano – dizia, mais tarde, o irmão do Ash, encolhendo os ombros, com ar de quem não gosta disso. Estávamos a jantar num restaurantezinho porreiro e acessível e falavam das diferenças de condições que sentiam.
- O que se passa é o seguinte... A Malásia é um país muçulmano, ‘tás a ver? E aqui, por exemplo, noutro dia fui ao banco, ‘tava a pensar abrir um bar com um amigo. Os gajos daquele banco não me davam empréstimo se eu não fosse muçulmano. Chegaram a sugerir que eu arranjasse um sócio muçulmano... – dizia o Ash – E na escola, por exemplo, para teres um A, se és muçulmano, precisas de ter, tipo 60 pontos, se és chinês, 70 pontos, e se és indiano, 80 pontos...
Acho isto ridículo, mas não quero passar isto como facto, por isso que se note que isto foi o que o meu amigo disse, e que não confirmei nada ainda. Mas de todo o modo, é inegável a separaçao de etnias.
Estava a acabar de tomar banho quando a Sofia ligou ao Ash.
- Não faço a mínima ideia como é que ela está onde está, e como é que foi lá parar! – disse, ao desligar – Mas ‘bora lá.
Como já era tarde, só imaginava a pobre tuga toda estafada de carregar os seus 40kg pela cidade inteira por horas a fio. Mas a cachopa estava fixe. Tinha pedido direcções a uns paquistaneses que foram com ela até um sítio lá perto, e foram fixes e emprestaram-lhe o telemóvel. Demos umas voltitas e encontramo-nos.
Quando chegámos a casa, comemos qualquer cena e fomos dar uma volta. Fomos buscar o irmão do Ash, jantar, e depois fomos a um bar, numa zona de muitos outros. A cidade deu logo um bom feeling. Muito andamento, muita árvore. Na verdade foi construída roubando terreno à selva. Uma selva pela outra.
Estivemos no bar às três, hora em que fecha tudo na Malásia. O Ash curte falar, o que para mim é porreiro. Tem alguma coisa a dizer sobre quase tudo, ainda que às vezes não diga muito. Falámos muito acerca de um livro chamado algo como “O Jogo”, que ensina homens a seduzir mulheres. Mas no fundo, visto de uma forma mais aprofundada, funciona também em todos os outros settings, sendo que, em amizades ou negócios, de uma forma ou de outra, passamos a VIDA a seduzir-nos uns aos outros. Tinha visto o livro num aeroporto e um couchsurfer meu tinha-o, mas nunca li.
No dia seguinte andámos por Kuala Lumpur. Tem boa onda. Mas é bués uma cidade mesmo. Um trânsito infernal. Arranha-céus atrás de arranha-céus, muito pessoal. Começamos por Chinatown, demos umas voltinhas, depois fomos seguindo um trajecto improvisado com aquela olhada esporádica no mapa. Acabámos a tour nas Petronas, que até há bem pouco tempo eram as torres gémeas mais altas do mundo, tendo sido batidas por umas em Taipei.
Estava todo partidinho, as minhas pernas queixavam-se e o meu corpo pedia uma noitinha de filmezinho e relax. Mas o Ash gosta pouco de sair, gosta... E acabou por nos convencer, sem muito esforço, a ir ao mesmo bar da noite anterior, onde estariam uns couchsurfers. Ok, siga. Foi fixe. Estavam lá uns quinze, conheci malta porreira e revi o Karlis, que tinha conhecido há um ano na Escócia, num fim-de-semana do outro mundo em Edinburgo. A noite em si foi interessante, pois tive oportunidade de praticar a minha autodisciplina – a noite toda só com uma coca-colinha,... pois porque a cerveja mais barata custava p’rai quatro euros. Ah pois é, bebé!
O Karlis, letão, anda em viagem há dois anos e meio. Conhecemo-nos em Julho do ano passado no Edinburgh Rocks (IV), um evento anual do coucusurfing na Escócia – um fim-de-semana cheio de loucura que eu aconselho a toda a gente. Passou o último ano na Índia e Nepal, sempre em couchsurfing, o que é impressionante. Agora estava pelo sudeste e, pelo que li no seu grupo do facebook, apaixonado com a limpeza de Singapura e a cidade no geral. Dizia que já tinha saudades de algo assim mais higiénico e limpinho. Ok.
No dia seguinte era o festivalzinho do couchsurfing no meio da floresta, mas perto de KL. A Sofia não estava muito a fim, mas o Ash acabou por convencê-la. Eu passei uma horita na varanda a escrever, e aparentemente ele passou todo esse tempo a convencer a miuda, que não teve outra opção senão ceder. O que foi fixe, porque ela acabou por curtir e eu, claro, curti que ela tivesse vindo.
Fomos no carro do Ash, encontramo-nos com o resto da malta e seguimos caminho. Aquilo er super perto, mas com o trânsito de Kuala Lumpur demorámos p’rai hora e meia. Mas foi porreiro. Copo na mão, música aos berros, cortiré!
Quando chegámos, estacionámos, pagámos os 50 ringit (11 ou 12 euros), e juntamo-nos à malta. Aquilo era um grupo de bungalows espalhados ao redor de uma piscina natural e um lounge. Foi uma grande noite. Sentei-me lá com o pessoal uma ou duas horas, na conversa, bebericando Famous Grouse, depois juntei-me ao pessoal que estava na piscina a jogar vólei. E a noite foi seguindo. Não há muito a dizer. Como eu gosto – falar com dezenas e dezenas de pessoas, discutir um pouco de tudo, aprender sobre outros países. Pena foi que o pessoal recolheu cedo. Eram quatro da manhã e sobrava eu e o Karlis, sentados num canto à conversa. O resto aterrou. Paciência.
O dia seguinte foi de chill-out. Acordámos, comemos qualquer coisa lá no lounge – um prato de arroz com não sei quê que estava incluído. E depois fomos para casa. Vi dois filmes (que já tinha visto) nessa noite – Sacanas Sem Lei e A Ressaca. O segundo muito apropriado.
Dia 4 de Julho seguimos para Singapura.
16h38-2ª-11-7-11
Bangkok, Tailândia
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