segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Phnom Penh


Apanhámos o autocarro para Phom Penh ao fim da manhã por três euros. Chegámos, demos umas voltitas à procura de um hotel barato, e encontrámos lá um onde podíamos, se ficassemos na mesma cama, pagar menos de dois euros cada um. Mas um gajo anda mal habituado, e eu decidi ir dar uma volta à beira rio, à procura de um sítio ainda melhor. Andei a caminhar p’rai uma hora p’ra nada. Acabámos por ficar naquele hotel com todo o ar de ser onde os locais levam as prostitutas para malhar. E, espantem-se hoje ao abandonar o quarto, arrastei a cama para ver se tinha deixado ficar alguma coisa, e avistei o invólucro de um preservativo. Que classe. Além disto todas as portas tinham um buraquinho muito estranho, tapado por um papelito. E hoje, depois do Martin bazar, eu descansava na cama, nu depois de tomar banho, ouço um barulhito e reparo que advém da queda desse papel no chão. Levantei-me, pus uma toalha à cinta, abri a porta e vi o gajo do hotel lá ao fundo, a disfarçar. Teve bom timing, o pervertido, porque apanhou-me nu.

estou num autocarro a caminho de Hoi An, no Vietname. está a passar um filme asiático a ser dublado só por um gajo, e começou agora a banda sonora – take my breath away, mas numa língua asiática qualquer. priceless

Fomos dar uma volta pela cidade à noite. Caminhámos um pedaço, passámos pelos grupos sem muita qualidade a dançar no parque na esperança de ganhar algum dinheiro, pelas centenas de putos a brincar alegremente no parque, pelos turistas. Foi uma noite tranquila. Quando voltámos ao quarto vimos um filmezito qualquer na tv e dormimos.

No dia seguinte acordámos cedo para ver Phom Penh. Queríamos ir ao S21 e isso era perto da embaixada vietnamita – porreiro. Na noite anterior tinha visto numa agência que os vistos custavam 38 dolares. Pensando que estava a ser esperto, decidi tirar o visto na embaixada, onde não haveria taxa adicionais. Pois o que acontece é que na embaixada o visto era 45 dolares. A cena é que, por alguma razão, a agência dava vistos de 15 dias, ao passo que na embaixada só davam vistos de um mês, no mínimo. Estranho, mas já que lá estava, acabei por pedi-lo na mesma. E desta forma podia bazar no Camboja no dia seguinte, algo que não seria possível se tivesse pedido o visto na agência.
               
Depois de ter conhecido um casal catalão de meia idade, muito porreiro, fui ter com o Martin ao S21. O S21 é um museu que me deixou muito impressionado. É um liceu que, durante o regime do Khmer Rouge, foi usado como prisão. Hoje em dia pode-se visitar por dois dolares, e ter uma ideia mais exacta das barbaridades por que aquele povo passou.
               
A minha ignorância neste assunto era extrema. Sabia que tinha acontecido uma cena qualquer no Camboja e tinha morrido muita gente, mas só isso. E até há um mês ou dois nem sabia quem tinha sido o Pol Pots – o lider do Khmer Rouge que morreu nos anos 90 sem qualquer julgamento.
               
Quando cheguei estava a começar um documentário sobre o regime, e encontrei lá o Martin. O documentário contava a história de várias pessoas que morreram às mãos do regime, e também dos únicos seis ou sete, de centenas (ou milhares, não sei bem) que morreram no S21. O que mais me chocou foi ver um homem que costumava trabalhar como guarda a dizer que tinha matado cinco pessoas, mas só porque o director da prisão estava presente. Via-se que o gajo era meio simples, mas de todo o modo, aquilo ficou-me na cabeça. Que se deveria fazer com estes gajos? Se eu ordeno alguém para matar outrém, só eu é que sou julgado?
               
Imagino que, em termos de logística e dinheiro seria algo que o país não aguentaria, julgar toda a gente que matou alguém durante o Khmer Rouge, mas a minha questão, que ainda não consegui resolver, é se estes gajos deveriam ser presos ou não. Nos anos 60 um estudo demonstrou o quão crueis as pessoas podem ser se assim forem ordenadas, por uma figura de autoridade. Basicamente eu tenho um instrumento com o qual posso dar choques eléctricos (de força X a Y) a uma pessoa que está noutro quarto e cujos gritos eu ouço. Primeiro experimento em mim e apercebo-me que aquilo que parece ser uma voltagem mínima pode ser muito dolorosa.  Além disto o senhor de bata branca diz que depois de determinado número pode ser fatal. Eu vou dando choques e ouvindo os gritos. Vacilo mas o gajo da bata branca diz para eu continuar. E por aí adiante, até que a pessoa do outro lado deixa de responder. Vacilo, mas o gajo diz para continuar, e continuo. Perguntaram a alguns psicólogos qual era o seu palpite acerca do número de pessoas que continuaria para lá do limite supostamente fatal, e eles imaginaram que seria menos de um por cento. Engaram-se bem, sendo que cerca de metade dos sujeitos não conseguiram parar.
               
E assim é o Homem – um ser com um potencial enorme mas que, infelizmente, muitas vezes não tem nem inteligência nem os tomates para fazer o que está certo.
               
Quanto ao gajo que matou os outros no S21...
Da maneira como eu vejo as cenas, há três razões para condenar alguém: para castigar, para fazer que com o cárcere, por exemplo, ele não possa continuar com o seu comportamento, e para dar o exemplo e daí fazer as pessoas pensarem duas vezes antes de seguirem em frente com planos maquiavélicos. A segunda e a terceira são, eventualmente, úteis e fazem algum sentido. A primeira não tem utilidade nenhuma. Assim, falando com a distância confortável de quem nunca teve ninguém próximo de si assassinado ou violentamente agredido, acho que, se se soubesse que a pessoa nunca mais ia fazer nada igual, não faria sentido o cárcere, se não fosse pelas razões número dois e número três. Com este ex-guarda da S21, resta apenas a razão um. Isto porque é uma situação tão particular, que nem vai ser tomado como exemplo para comportamentos futuros.

Mas lá está,... ao ver o gajo naquele ecrã, a falar todo contente, questionei severamente a minha lógica.

Quando deixámos o museu, fomos comer qualquer coisa. E o resto do dia, basicamente, passamo-lo a passear pela cidade, tirar umas fotos e actividades afim, até que ao lá p’rás quatro eu fui buscar o meu passaporte com o visto vietnamita.

A noite foi porreira. Era a nossa desta de despedida por isso fomos beber umas cervejas. Como já disse, sudoeste asiático – cerveja. Bebemos um par de jarros lá num sitiozinho bacano, e depois mudámos de sítio, para um sítio um bocado mais caro, mas à beira-rio, com mais cenas p’ra ver. Ficámos lá um par de horas e depois bazámos. Foi aqui que tivemos uma surpresa. Éramos para ir para o hotel, mas já não sei porquê decidimos ir beber mais uma cervejita ali num bar à frente do nosso pouso. Um jarro de cerveja era cerca de um euro e vinte. E foi muito fixe porque aquilo sim, era o Camboja! No primeiro sítio onde tínhamos estado não havia turistas, mas depois à beira-rio já se ouviam as línguas europeias em barda. Mas aquele sítio onde acabámos por ficar uma horita era a verdadeira cena. Um bando de  Cambojanos porreiros e moderadamente bêbedos, na sua VIDA de cortiré, com o ocasional momento em que metiam conversa connosco.
               
No dia seguinte despedimo-nos, e eu segui para o Vietname.

17h25-2ª-25-7-11
algures entre Da Lat e Hoi An

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