sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Battabang


No dia 15 acordámos de manhã cedo, lá p’rás seis e tal, para ir para Battabang. Não tinha planeado ir lá, mas fui com o Martin. Eu tinha-lhe dito que se ele ficasse em Siem Reap mais um dia, no dia seguinte eu ia com ele para Battabang. Mas a verdade é que Siem Reap não tem muito que ver, e então acabámos por ir juntos para Battabang, depois para Sihanoukville, e estámos neste momento no autocarro a caminho de Phnom Penh.
               
Demorámos esternidades a sair da cidade. É que primeiro apanhámos um autocarro que nos levou para outro autocarro. Depois este levou-nos para o terceiro autocarro. Este ia para Battabang, mas antes disto, depois de algum tempo de espera que arrancasse, andou às voltas pela cidade, não sei porquê, e chegou mesmo a passar em frente ao nosso hotel, de onde tínhamos apanhado outro autocarro mais cedo.
               
Quando chegámos não sabíamos de íamos ficar um dia, ver o que havia para ver, e depois ir para Sihanoukville, ou se ficávamos uma noite. Demos lá umas voltas, e parecia não haver autocarros nocturnos para Sihanoukville. Decidimos ficar. Quando saímos do autocarro foi daquelas situações onde um gajo se vê rodeado por uma dezena de pessoas, cada um a gritar o nome do seu hotel. Um destes gajos foi mais persistente e como que nos seguiu. Fixe para ele, porque acabámos por ficar no seu hotel – Royal Hotel. Ficámos no terraço, um quarto com duas camas só para nós, internet e papel higiénico, por um euro cada um!
               
Instalámo-nos, tomámos banho, e fomos ver o que havia para fazer. Eu tinha visto duas holandesas que tinham vindo connosco de Siem Reap e estavam no mesmo hotel, e estive a falar com elas cinco minutos antes de descer. Cá em baixo, estavamos indecisos entre alugar uma bicicleta ou uma tuk-tuk para andar por aí. Foi aí que me lembrei que, se partilhássemos com elas, ficava mais barato. Elas apareceram e já iam numa, a pagar 15 dólares pela tuk-tuk. Após a nossa negociação acabámos por pagar 12 dolares para os 1quatro. O pessoal aproveita-se dos turistas, mas tenta mais a sua sorte com malta loira (por parecer super-turista) e com mulheres.
               
- Não quero parecer que estou aqui a dar-vos lições, mas parece-me que vocês andam a pagar demasiado – disse-lhes. É que elas tinham chegado ao nosso hotel antes de nós, e eles tinham-lhes dito que o quarto mais barato era sete dolares, e elas ficaram. O preço desse quarto até era verídico, porque tinha quarto de banho e o nosso não, mas o que é certo é que quando nós perguntámos qual era o quarto mais barato, ele disse três dólares.
               
Foi fixe porque as gajas eram bacanas e pagámos 3 dolares cada um por um dia de tuk-tuk. Tinham ambas 23 anos. A Renee tinha tirado “Interactive Media” e não sabia bem o que ia fazer quando voltasse (estava nas últimas semanas da sua viagem de seis meses) e a Suzanne estava no quinto ano de medicina.
               
Andámos na tuk-tuk p’rai 45 minutos e parámos perto de um monte onde tinha um templo porreiro e as cavernas da morte (killing caves). Palo caminho ainda parámos numa fábrica da pepsi abandonada acerca da qual o Martin tinha ouvido falar e ficara interessado – mas depois desiludido, sendo que nem uma chaminezinha daquelas old-school tinha...
               
Almoçámos e fomos encosta acima. A paisagem era sublime. Campos verdejantes, alternados com outros alagados para o arrox, a perder de vista, e o ocasional montezito a tirar a monotonia ao cenário. E chuviscava. Nunca pensei dizer que templo chuvoso é bom tempo, mas aqui no Camboja, tem estado assim de vez em quando e é, literal e metaforicamente, uma lufada de ar fresco. Depois de termos visto um Buda gigante fomos às grutas da morte. Chama-se assim porque é onde centenas ou milhares de cambojanos foram assassinados pelo Khmer Rouge.
               
Nos anos 70 este partido político, comunista, decidiu recorrer a engenharia social. Em que consiste isto? Em matar toda a gente que não se enquadra no que querem. Querendo que toda a gente fosse igual, um país de malta a trabalhar no campo, mataram, torturaram (até à morte) ou conderam a trabalhos forçados no campo (até à morte) todos os intelectuais, artistas, pessoas bonitas e até, por vezes, malta que usasse óculos, por isso fazer alguém parecer mais intelectual. As mortes eram tão aleatórias quanto isto, e assim mataram entre 0,8 milhões a 2,5 milhões de pessoas, cerca de de um quinto a um quarto da população da altura. O Martin reparou que não se vêem muitos velhos aqui, e parece-me lógico que seja por isso. Porque se pensarmos, a maior parte desse quarto ou quinto da população devia ser pessoal na faixa dos 30s a 50s. E foi quase ha quarenta anos que tudo isto se passou, se não estou em erro.

está a passar na televisão do autocarro um daqueles vídeos de karaoke, com as letras e tudo, e a música que ouvimos corresponde. olhei agora para o ecrã e no videozinho desta balada via-se um méne a esganar uma mulher num relvado até que a matou – estranho, muito estranho

Na gruta sentia-se a atmosfera. Tinha um buda grande deitado ao comprido, dourado, e numa das pontas uma câmara iluminada com milhares de ossos, algumas largas dezenas de caveiras, uma ou outra com um buraco grande – não usavam balas geralmente, mas outras ferramentas que proporcionassem uma morte mais económica.
               
Depois fomos ao templo no pico da montanha. Estivemos uma horita sentados a conversar e a apreciar a vista, e depois entrámos. Conheci lá um budista muito porreiro e felizmente tive a oportunidade de o entrevistar. Fiz-lhe só duas das cinco questões, porque achava que ele não ia perceber as restantes. Mas foi um bom contributo para este pseudo-documentário.

Quando voltámos ao hotel, tomámos banho e combinámos encontrar-nos passado uma hora para irmos jantar. Comi sopa de arroz de miudos de galinha, muito porreiro. E no dia anterior tinha comido rã, não sei se referi, que foi algo novo e aprazível. Despedimo-nos, e eu e o Martin fomos beber uma cerveja.

Dia seguinte, Sihanoukville.

11h09-2ª-18-7-11
algures entre Sihanoukville e Phnom Penh

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