Ia tentando dormir, mas sem grande sucesso. Mas ok, lá consegui pregar olho até que, às três da manhã, o gajo me chama. “Fixe, estou em Hoi An”, pensei. Mas não. Saí do autocarro, tirei a mochila, e o veículo bazou, ficando eu ali especado à frente de uma placa a dizer “Hoi An 10km”. Fixe, muito fixe. Três da manhã.
Um gajo de imediato ofereceu-se para me levar lá por dois euros. Isto parece ridículo para quem não conhece este blog ou esta viagem, mas disse que não – preferia caminhar, com as minhas mochilas, os dez quilómetros. Já tinha pago mais do que queria pela viagem, ia ficar por aí. Assim, enchi-me de coragem e, debaixo da lua quase cheia, passando na estradinha entre os campos de arroz e a ocasional vila, pus-me a caminho.
De vez em quando aparecia alguém que se oferecia para me levar, por um preço ainda maior do que o primeiro gajo, apesar de eu já ter caminhado alguns quilómetros. A caminhada foi interessante, pois fui vendo a VIDA a despertar naquelas vilas. Pessoal que acorda às quatro da manhã para ir para a serralharia, para ir para o campo ou para montar o estaminé de comida.
Caminhei p’rai hora e meia ou duas horas, p’rai 6km, tendo parado para descansar e analisar a minha VIDA, rindo-me com a peculiariedade da situação, até que uma senhora, numa scooter, me perguntou se eu queria boleia para Hoi An. Disse que não tinha dinheiro e preparei-me para seguir caminho quando ela disse que não o queria. ‘Bora!
A senhora deixou-me em Hoi An já o sol tinha raiado. “Ao menos se agora fizer check-in num hotel, durmo esta manhã e a noite de amanhã e é como se fosse duas noites pelo preço de uma”, pensei, recordando a estratégia, que de estratégico nada tem, de Bangkok. Fui ter a um hotel onde, dizia no guia, uma noite ficava por 7 dolares. Mas o meu guia é de 2007. Quando cheguei tinha uma tabela na parede onde dizia que era 10 dolares por quarto. Mas a senhora pediu-me 19, alegando que estavam “numa época diferente”. Fiquei um pedaço no lobby na internet até que um méne de scooter me disse que tinha um sítio por 8 dolares. Nestas cenas eles costumam estar certos. Isto é, pode-se ir à confiança porque, na minha experiência, se eles dizem isso não só não é um hostel podre mas um hostel normal, como também é ao preço que indicam. Contudo, fui com ele e o hostel estava fechado. Ainda perguntámos lá a uns vizinhos mas nada. Mas o gajo não me estava a enganar, percebi.
Depois fomos a outro onde pediam 12 dolares, mas acabou por baixar para 10. Ok, fica-se! Paguei um dolar ao méne da mota e sentei-me no lobby meia horita à espera que o quarto ficasse disponível.
Dormi umas cinco horas, tomei banho e entreguei-me à cidade, ou vila, que se tornaria das minhas localidades preferidas no mundo. Fui comer qualquer coisa, depois caminhei umas cinco horas, lentamente, com a ocasional pausa. É uma vila onde as casas têm duas cores: amarelo ou amarelado. Tem muitos turistas mas não sinto que a vila se tenha mudado assim tanto para os acomodar. Claro que tem sinais em inglês e um sem número de lojas de recordações, mas ao mesmo tempo sente-se que manteve a sua beleza e autenticidade.
Estava plenamente feliz com tudo aquilo, sem saber que ainda mais feliz ficaria, Isto porque depois de fazer a caminhadinha que o guia sugeria, continuei a caminhar, atravessei uma pontezinha e fui andando ao longo do rio, em círculo, até chegar ao ponto de partida. Pelo caminho passei por ruinhas com galinhas cá fora a lanchar, casas com putos a brincar e sempre a gritar “hello” de cada vez que me viam, pescadores, putos a brincar no rio. Tudo cem por cento vietnamita, tudo puro, belo, e feliz.
De vez em quando sentava-me à beira-rio para absorver aquilo tudo.
Quando me aproximava do ponto de partida, mas do outro lado do pequeno rio, sentei-me mais uma vez num cais improvisado, a apreciar aquele tom de por do sol. Não é preciso ser bom fotógrafo para tirar fotos geniais num sítio daquelas, numa vila daquelas.
Eis que me levanto, e uma suave melancolia se apodera de mim. Atravessei a ponte, parei no meio para tirar uma foto a mim próprio, daquelas típicas onde se vê uma parte do braço. Escolhi depois um restaurante com net e cerveja a 0,15€ onde me sentei, jantei, bebi dois copos e fui embora. Queria andar mais pelas ruas, mas não tinha bem onde ir, porque, verdade seja dita, estava sozinho. Senti-me melancólico por não ter ninguém com quem partilhar tamanha grandeza. E ao mesmo tempo não queria meter conversa com alguém de propósito só para o fazer. Assim, voltei para o meu quarto de hotel com duas camas para uma pessoa, e escrevi um bocado sobre esses belos sentimentos que nadavam no meu ser.
No dia seguinte acordei, dei uma voltinha e fui almoçar à beira-rio enquanto fazia horas para apanhar o autocarro para Huei, cujo bilhete tinha comprado no dia anterior.
Assim, à uma da tarde lá fui.
21h40-6ª-29-7-11
algures entre Huei e Hanoi
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