quinta-feira, 14 de maio de 2015

Amor

Como é que tu consegues?”, ouço tantas vezes. “Como é possível ir viajando e manter uma relação tanto tempo?”, o pessoal vai dizendo. Às vezes, em vez de perguntarem, exclamam qualquer coisa. Eu penso um bocado e analiso. Valerá a pena explicar ou dever-me-ei ficar pelo normal de “Ela é mesmo fixe”? Vou dentro e fora no pensamento e explico algo que sai na altura. O pessoal na maioria das vezes dizendo que sim com a cabeça, entendendo eu que não percebem realmente.

Como os posso julgar se eu próprio não o percebo assim tão bem?

Quis-me eu ser um rapaz lógico. Não pensando eu nisso, a lógica que me quis sempre me disse que haverá sempre um lugar melhor, um momento melhor... haverá sempre algo melhor para o lado de lá. E eu sempre fui andando, sempre à procura de algo melhor, algo mais bonito, algo mais fascinante. Nunca procurei uma namorada melhor, e ainda bem, pois tampouco a encontrei. Mas a lógica com a qual posso conversar diz-me que não tem grande sentido as milhares de raparigas que eu conheci não serem melhores do que aquela que encontrei num baile de finalistas do nono ano. Não, a lógica alia-se à lei da probabilidade, e depois àquela minha velha amiga que é a minha própria razão, o meu próprio sentido de ser que diz Tu não assentarás por comodidade.(Que alguém se livre de tal)

A minha razão. Aquela que me impele a ir, aquela que me impele a conhecer o mundo todo, aquela que me fode a cabeça de manhã à noite por não saber o que quer mas que o que quer estará naquela linha do tudo o que existe. Essa razão que eu tenho tem poucas certezas. Das poucas que tem, algumas são parvas, algumas meramente histórias. Outras tão fortes quanto o sentimento da beleza de ter um ser tão colado ao meu que me deixa perder os limites da minha própria pele.

Lógicas e leis matemáticas e razões perdem-se na inevitabilidade da realidade que vivo. Agora bêbedo, tantas vezes bêbedo, questiono os meus desígnios, a minha sorte. E depois tudo o que é real chove em mim e eu percebo que, não obstante tudo, o meu Amor não é o mesmo que naquela noite do nono ano. Que é algo que se vai alimentando de si mesmo, através de sorrisos, tropeções ou frases como “És um riquezo” que vão acontecendo e atropelando-me pelo caminho. Que a pessoa que me veio pedir para dançar nessa noite é a matéria prima da alma que a partir daí se formou. Que o que existe aqui existiria de qualquer maneira mas, quem sabe, e espero eu, sem a mesma graça.

E perguntam-me como é possível, podendo eu apenas questionar-me como seria possível desligar-me de alguém que me mantém vivo de tal forma. Como seria possível ter tudo na mão e decidir que preferia só um pouco de cada coisa?



Há noites em que adormeço e estou em casa. Outras em que adormeço tão longe. Neste tão longe de Luanda não há noite em que não ansiasse pelo conforto daquela perna de seda em cima da minha.

Villa Sul, Luanda, Angola
2h47, 4ª, 14-5-15


[Zé, desculpa a razia às Nocal's]

1 comentário:

  1. O amor é um lugar estranho, já dizia o filme e eu acho o mesmo :) E pode ser um lugar fantástico também, se não nos anular.

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