“Como
é que tu consegues?”, ouço tantas vezes. “Como é possível ir
viajando e manter uma relação tanto tempo?”, o pessoal vai
dizendo. Às vezes, em vez de perguntarem, exclamam qualquer coisa.
Eu penso um bocado e analiso. Valerá a pena explicar ou dever-me-ei
ficar pelo normal de “Ela é mesmo fixe”? Vou dentro e fora no
pensamento e explico algo que sai na altura. O pessoal na maioria das
vezes dizendo que sim com a cabeça, entendendo eu que não percebem
realmente.
Como
os posso julgar se eu próprio não o percebo assim tão bem?
Quis-me
eu ser um rapaz lógico. Não pensando eu nisso, a lógica que me
quis sempre me disse que haverá sempre um lugar melhor, um momento
melhor... haverá sempre algo melhor para o lado de lá. E eu sempre
fui andando, sempre à procura de algo melhor, algo mais bonito, algo
mais fascinante. Nunca procurei uma namorada melhor, e ainda
bem, pois tampouco a encontrei. Mas a lógica com a qual posso
conversar diz-me que não tem grande sentido as milhares de raparigas
que eu conheci não serem melhores
do que aquela que encontrei num baile de finalistas do nono ano. Não,
a lógica alia-se à lei da probabilidade, e depois àquela minha
velha amiga que é a minha própria razão, o
meu próprio sentido de ser que diz
Tu não assentarás por comodidade.(Que
alguém se livre de tal)
A
minha razão. Aquela que me impele a ir, aquela que me impele a
conhecer o mundo todo, aquela que me fode a cabeça de manhã à
noite por não saber o que quer mas que o que quer estará naquela
linha do tudo o que existe. Essa razão que eu tenho tem poucas
certezas. Das poucas que tem, algumas são parvas, algumas meramente
histórias. Outras tão fortes quanto o sentimento da beleza de ter
um ser tão colado ao meu que me deixa perder os limites da minha
própria pele.
Lógicas
e leis matemáticas e razões perdem-se na inevitabilidade da
realidade que vivo. Agora bêbedo, tantas vezes bêbedo, questiono os
meus desígnios, a minha sorte. E depois tudo o que é real chove em
mim e eu percebo que, não obstante tudo, o meu Amor não é o mesmo
que naquela noite do nono ano. Que é algo que se vai alimentando de
si mesmo, através de sorrisos, tropeções ou frases como “És um
riquezo” que vão acontecendo e atropelando-me pelo caminho. Que a
pessoa que me veio pedir para dançar nessa noite é a matéria prima
da alma que a partir daí se formou. Que o que existe aqui existiria
de qualquer maneira mas, quem sabe, e espero eu, sem a mesma graça.
E
perguntam-me como é possível, podendo eu apenas questionar-me como
seria possível desligar-me de alguém que me mantém vivo de tal
forma. Como seria possível ter tudo na mão e decidir que preferia
só um pouco de cada coisa?
Há
noites em que adormeço e estou em casa. Outras em que adormeço tão
longe. Neste tão longe de Luanda não há noite em que não ansiasse
pelo conforto daquela perna de seda em cima da minha.
Villa
Sul, Luanda, Angola
2h47,
4ª, 14-5-15
[Zé, desculpa a razia às Nocal's]
O amor é um lugar estranho, já dizia o filme e eu acho o mesmo :) E pode ser um lugar fantástico também, se não nos anular.
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