Em Lviv tinha uma pessoa que me podia albergar. Parecia ser um gajo muito
porreiro, mas disse que estava meio doente e não sei quê... Ora eu não tenho
problemas nenhuns com a doença própriamente dita, porque nunca fico doente, mas
estava a apetecer-me cortiré. Apesar de ter tido anfitriões altamente na
Ucrânia, eram todos um bocado calmos neste aspecto. E então apetecia-me um
bocado a liberdade de ficar num hostel e de fazer exactamente o que me
apetecesse, pelo que disse ao méne obrigado mas que não o queria importunar se
ele estava adoentado.
Assim, cheguei a Lviv de manhã, cheio de sono, e pus-me a caminho de um
hostel que tinha visto e que parecia bacana. Tive logo um bom feeling com
aquela cidade. Fui dar ao hostel e aquilo era mais caro do que eu tinha visto
na net. A miúda disse que havia preços diferentes para a internet. Já me tinha
acontecido a mesma cena, na Bulgária, e eu agi da mesma forma... um bocado cara
de pau, mas pedi-lhe então para usar a internet e marquei lá, pagando cinco
euros e meio em vez de nove. Dormir de manhã e à tarde encontrei-me com a
Natalia. Eu tinha postado no grupo de Lviv no couchsurfing a dizer que ia estar
na cidade e a perguntar se alguém se queria encontrar para me mostrar a cidade.
A Natalia mandou mensagem e assim encontrámo-nos.
A Natalia é uma miúda dos seus trinta anos, que já viveu em Inglaterra. É
porreira, parece um chisco nervosa, mas passa despercebido. E Lviv é um
estrondo. Gostei muito. Eu sou um desastre no que diz respeito a orientação.
Contudo, em Lviv parecia que me era intrínseco. Não sei se é por ter várias
igrejas e torres altas que me permitiam uma orientação diferente, não sei do
que é... o que é certo é que é uma cidade onde me senti em casa
instantaneamente. É bué de limpa, cheia de igrejas fixes, ruelas com cafés
altamente e originais, praças e bares espectaculares. Curti muito o ambiente e
voltarei, sem dúvida.
Lá p’rás sete e muito fomos para o hostel, onde me ia encontrar com o
Myroslav, para irmos beber uns copos. O gajo apareceu e fomos ali a um bar com
a Natalia, que bazou passado umas duas horas. O Myroslav é um gajo todo
despachado, bacano com quem dá para bater uns dedos de conversa agradável ao
redor de copos de cerveja. Curti o primeiro bar onde me levou, cheio de peças
de caça nas paredes a decorar, e curti ainda mais o segundo, uma série de
galerias subterrâneas onde comemos uma sopa de cogumelo e bebemos dois litros
de cerveja, que ele fez o obséquio de pagar quando eu fui ao quarto-de-banho.
A noite estava fixe mas o gajo ia bazar à meia-noite, que não é altura de
bazar em lado nenhum. Queria ir deixar-me ao hostel mas eu disse que não era
preciso, que me amanhava. Assim, fui indo e perguntando a pessoal que
encontrava na rua o que estava a acontecer em Lviv. Alguns disseram-me que
àquela hora só discotecas e tinha de ir de táxi e pagar para entrar. Isso na
minha língua é “vai para casa”. Assim fui indo e encontrei, por coincidência, o
mesmo gajo a quem tinha já perguntado o que se passava na noite. O gajo disse
que eu até podia ir com ele, mas que tinha de ser uma pessoa interessante e
tal... eu disse que sim, que achava que conseguia ser minimamente interessante
sem muito esforço... ele estava na dúvida e perguntou-me a minha profissão.
Quando lhe disse que era psicólogo obtive luz verde de imediato. O pessoal
assume que por ter esta profissão somos cultos e interessantes... o que pode
ser um erro. Assim fui lá com o gajo. Sentei-me à mesa com os amigos dele, pedi
uma cerveja. O pessoal desatou a oferecer-me shots de vodka. A próxima coisa
que me lembro é acordar na manhã seguinte, no meu hostel, com a miúda que lá
trabalhava a chorar no quarto-de-banho.
- Que se passa, estás bem? – perguntei, eu próprio a equacionar o quão bem eu estava e como sentia os efeitos dos
exageros dessa noite.
- Sim, estou bem... é que estive a ler um livro...
- Deve ter sido um bom livro...
treze e
trinta, terça, vinte e nove de Março de dois mil e doze
Portalegre,
Portugal
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