Era o dia da mulher quando cheguei a Sevastopol. Aqui o pessoal dá mais
importância a isso, ainda que seja um bocado fachada, como disse a Alina, a
minha anfitriã.
- Cheguei ao escritório e tinha uma flor na minha mesa. Sem mais nada
escrito, só uma flor. Não gosto deste dia porque é daqueles dias em que o
pessoal decide “vamos ser simpáticos para as mulheres um dia por ano” e depois
já está... – queixava-se. É como o dia dos namorados... convenções...
Quando cheguei, meti-me num forgão e saí passado meio hora na paragem que a
Alina me tinha dito. Pedi o telefone a um rapaz, liguei-lhe e ela apareceu
passado cinco minutos. Morava ali mesmo ao lado. Não falava perfeitamente
inglês e às vezes não sabia o que significavam palavras simples como
“complicado” (percebo agora a ironia desta frase) mas dava para conversar bem
sem problemas. É uma rapariga magrinha de olhos verdes, que ao início parece um
bocado estranha, mas que acaba por se revelar muito porreira e sorridente.
Entrámos em casa e ela saiu outra vez para ir buscar um casal moscovita que
também ia ficar em sua casa. Assim, passados dez minutos apareceu o Serge e a
Masha. Ambos com rastas, era um casal bacano que estava a tentar escapar do
frio da capital russa. O Serge tocava numa banda que me mostrou e que era muito
fixe, e trabalhava numa empresa qualquer de entregas as domicílio, e a Masha
tinha recentemente mudado de curso, estudando agora “estudos orientais”.
Sentámo-nos os quatro na cozinha enquanto a Alina preparava uma comida
típica ucraniana. Uma sopa com várias cenas, porreirinha. Contrariamente a um
dos estereótipos acerca dos russos e ucranianos, a Alina, tal como o meu
anfitrião ucraniano anterior, não bebia nem saía à noite. Quando é o caso, às
vezes receio que vá apanhar um bocado de seca, mas muito raramente assim
acontece. Está certo que há várias maneiras de uma pessoa se divertir, e foi o
que aconteceu – apesar de nessa noite ter bebido uns vinhos com os russos.
A grande parte dos meus anfitriões não me dá visitas guiadas, o que é na
boa, não é algo com que conte. Já a Alina, não só o fez, como o fez à noite. Eu
e os russos comprámos uns vinhos, metemo-nos num forgão e saímos uns minutos
depois. Avançámos uma cerca e estávamos no meio de umas ruínas altamente mesmo
à beira-mar. Foi uma cmainhada inesperada e talvez também por isso muito fixe.
A lua estava cheia e dava-nos toda a luz que precisávamos. Passámos por uma
igreja altamente (curto muito a arquitectura das igrejas ortodoxas),
sentámo-nos um bocado a olhar para o mar, sempre a falar disto e daquilo. Curti
especialmente a Masha, uma rapariga engraçada e porreira. O Serge é um bocado
mais reservado, mas fiquei abismado quando me disse que não tinha e-mail e só
usava a internet para procurar música. Altamente. Não que seja algo altamente
por si só, mas por significar que este gajo só faz o que lhe apetece e não faz
cenas porque são moda.
No dia seguinte os russos bazaram, iam mais para sul e voltariam alguns
dias mais tarde. Almoçei qualquer coisa com a Alina e fomos para o centro.
Encotrámo-nos com o Leoz, um amigo dela com quem fiquei e fui dar uma volta.
Caminhei toda a tarde por Sevastopol. Fui lá parar só porque foi o único sítio
onde encontrei, atempadamente, um anfitrião, mas curti bastante. É uma cidade
pacata à beira-mar, com bastantes edifícios porreiras, e bastante acidentada, o
que eu curto, porque permite boas paisagens.
Quando o sol foi dormir fui para um cafézito e encontrei-me depois com a
Alina num restaurante onde fomos jantar umas cenas típicas ucranianas. A
propósito, nunca vi tanto restaurante de sushi como na Ucrânia, não percebo.
Nessa noite o que bebi foi um sumo bué de esquisito, que era feito basicamente
pondo frutos a ferver e depois retirar o líquido. Não era mau de todo. A comida
foi algo que soa como varniki e é tipo rissóis pequeninos, mas com uma massa e
recheio diferente. Jantámos calmamente e ela foi-me contando algumas cenas
acerda da Ucrânia.
Quando chegámos a casa estivémos à conversa a beber chá. Ela esteve a
contar-me algumas cenas da sua VIDA e eu a ouvir. Estava com um sono valente
mas até é fácil conversar com a rapariga, pelo que fui ficando acordado.
No dia seguinte fui a Yalta. Yalta era supostamente o sítio que eu mais
queria ver na Crimeia, mas nem curti assim tanto. Como disse, acho que tive
sorte em ter sido albergado em Sevastopol, porque foi a cidade que mais curti
das três que vi na Crimeia. Apanhei um autocarro de hora e meia e quando
cheguei pus-me a caminho. É uma cidade à beira-mar, agradável, com uma marginal
de ponta a ponta onde está o pessoal do costume, a vender pipocas, gelados, com
barracas para darmos tiros numas latas, a alugar patins em linha, entre outras
cenas. Caminhei para oeste até não ter muito mais para andar e deparar-me com
dezenas de prédios em construção, o que retira um bocado a beleza àquilo tudo.
Não encontrei um palácio que supostamente é muito bonito e vale a pena visitar,
mas não era isso que me ia fazer amar aquela vila que apreciei. Porque nunca é
uma cenazita que muda a impressão de um sítio, mas várias cenazitas que acabam
por definir o sítio em si.
Quando voltei, comprei o meu bilhete de comboio para Kiev no dia seguinte e
fui ter a casa da Alina, onde estava o Leoz também, a fazer umas cenas
quaisquer para sobremesa. Tinha passado por uma lojita onde comprei algumas
cervejas e algo para comer. Passámos um serão porreiro, à conversa e a ver um
filme. O Leoz é um gajo fixe também. Tem um sentido de humor apurado e isso é
sempre algo que um gajo aprecia.
Adormecemos lá p’ras duas e muito e o Leoz acordou para ir fazer yoga
numseionde com a Alina, que não dormiu.
No dia seguinte fui com a Alina para a estação de autocarro, onde apanharia
o autocarro para Simferopol, e daí o comboio para Kiev. O Leoz apareceu para se
despedir, e segui caminho.
quinze e
treze, segunda, doze de Março de dois mil e doze
Kiev,
Ucrânia
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