Chegámos de manhã cedo a Simferopol, a capital da Crimeia. A Crimeia é uma
república, com o seu parlamento, hino e essas cenas todas que define uma
república. Mas pertence à Ucrânia sem problemas ou atritos e tanto quanto eu
sei não há movimentos separatistas.
Já que estava em Simferopol, pensei que podia dar uma volta por lá. Mas
estava um bocado partido, e se perdesse o próximo comboio tinha de esperar
p’rai cinco horas. Uma porção do grupo com quem tinha viajado ia também para
Sevastopol. Mas não o Sergey e a Lena, os meus anfitriões de Odessa, pelo que
nos despedimos aí.
Esse pessoal ficou um bocado admirado pelo meu mínimo interesse em dar umas
voltas por Simferopol e recomendaram-me passar em vez disso por Backsisharay.
‘Tá-se bem, siga. Entrei no comboio com eles, mas eles seguiram para
Sevastopol, e eu fiquei nesta vila. No comboio, as carruagens estavam
carregadas de outros alpinistas e havia sempre alguém a vender alguma coisa.
Fossem broches artesanais, mapas ou simplesmente pessoal a tocar guitarra e
acordeão com um amplificador e muita esperança.
Saí em Backsisharay e andei meio perdido um bocado. Perguntei pelo centro e
uns gajos mandaram-me “p’ráli” mas eu senti que estava no caminho errado, pelo
que voltei para trás. Voltei a perguntar e mandaram-me no sentido oposto.
Voltei a perguntar e uma cota caminhou comigo até à estação de autocarros,
esperou comigo e depois foi à sua VIDA. Pensei que também fosse para lá e que
me tivesse levado consigo até à estação, o que já era simpático, mas não, a
cota tinha lá ido só para me levar e tinha falado com o condutor para me avisar
quando chegasse ao destino.
Saí mesmo à frente do palácio do Khan, um palácio de estilo marcadamente
muçulmano. Mas tinha ambas as minhas mochilas não me apetecia andar p’ra trás e
p’rá frente com aquele peso todo. Encontrei um restaurante mesmo em frente e
pedi à cota para lá deixar a mochila. Tentei ser o mais claro possível a
explicar que não ia pagar por aquilo, mas mais tarde a mulher queria-se afinfar.
Paciência.
A vila é porreira. É mesmo uma vila. Fui primeiro ao palácio. O parque cá
fora é de livre acesso, mas depois para se entrar no palácio o bilhete eram
cinco euros. Sorte a minha que não estava ninguém à entrada. Como havia lá um
grupo numa excursão, ia andando com eles e ninguém percebeu que eu não
pertencia ali. Isto até eu me fartar de estar a ouvir uma mulher falar em russo
ou ucraniano e seguir sozinho. Uma cota perguntou-me “não sei quê, não sei quê
excursão”. Eu respondi que sim e segui. Depois passei pela galeria de arte,
pobrezinha. As restantes horas passei a passear pela vila de estradas
rudimentares e casas antigas. É uma vila simpática e pelos vistos tinha outras
cenas interessantes para ver mas eu não sabia muito bem como lá chegar, e
quando encontrei um sítio com internet que me permitisse investigar, já estava
perto da hora do meu comboio para Sevastopol.
Na estação de comboio tive o desprazer de ver os bêbedos locais. Não é como
na Mongólia, o país onde vi mais bêbedos, mas também há muito burraxola aqui.
Um deles, p’rai de cinquenta anos, estava a vomitar, limpou os beiços na manga
da camisola e continuou a beber a sua cerveja. Outro deles veio pedir-me
dinheiro e perguntou se eu era muçulmano.
Entrei no comboio e fui para Sevastopol.
treze e
vinte e três, segunda, doze de Março de dois mil e doze
Kiev,
Ucrânia
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