quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Femi



Aguardava-me grande surpresa nessa noite. A Ema tinha-me dito que o Femi Kuti, filho do Fela Kuti, ia tocar no Shrine, e perguntou-me se queria ir ver. Disse que sim, mas mais interessado em sair um bocado e beber um copo do que ver um méne de quem tinha ouvido falar só uma ou duas vezes.
                 
Saímos de casa e demorámos três quartos de hora a lá chegar. Pensava que a cena era num concerto tipo em Portugal, por isso comprei, cá fora, uma garrafita de 30cl de Bitters para beber lá dentro. Contudo, entrámos e, depois de pagarmos o bilhete de dois euros e meio, percebi o que aquilo era realmente.
                 
Uma shrine costuma ser uma pequena sepultura onde estão as cinzas de alguém. Aquela shrine não era isso, mas era, ainda assim, um sítio em homenagem ao falecido Fela. Um pavilhão enorme com um palco ao fundo, uma área frente ao mesmo para o pessoal dançar, e um monte de cadeiras e mesas entre a pista de dança e os bares, ao fundo, onde ninguém ia porque o pessoal ia servindo à mesa. Havia estes a quem as pessoas podia pedir as bebidas, havia aqueles que passeavam com petiscos na mão e ainda aqueles que vendiam pequenos saquinhos de erva. As paredes estavam decoradas com réplicas de recortes de jornais gigantes, quadros e fotografias. Sentámo-nos com uma amiga da Ema e outra rapariga que estava com ela, pedi uma cerveja, virei o meu bitters num copo e apreciei. Iá, era fixe. Alguém tocava, provavelmente para abrir o concerto do Femi. Dei um gole e a amiga da Ema perguntou se eu queria uma sanduíche. Comi a sanduíche na tranquilidade e fui apreciando o ambiente ao meu redor, fui olhando para o palco com mais atenção. “Que som, que potência”, começava a pensar. “Não, isto é bom demais para ser uma abertura...”.
                
 - Quem é que está a tocar? – perguntei.
- O Femi – respondeu. “Bem me parecia”, pensei. No palco via o homem que ia, ora cantando, ora tocando piano, ora tocando saxofone. Do seu lado direito quatro mulheres, vestidas com trajes laranja que pareciam típicos de uma tribo qualquer, dançavam como se o futuro de África dependesse disso. Do seu lado esquerdo, na ponta do palco, com pinta de quem tinha, simplesmente, decidido ir dançar da pista de dança para o palco, outro homem fazia o mesmo. A cena em África é que, mesmo que, efectivamente, alguém no palco seja um méne qualquer que decidiu ir dançar para lá, nós nunca sabemos ao certo porque dançam sempre muito bem. A acompanhar o som o Femi tinha um baterista, um baixista, trompetes, saxofones, guitarra e três ou quatro rapazes a tocar djambé. Era uma mistura explosiva, com um som que nos entrava corpo adentro, apenas um tudo-nada abaixo de um volume que nos rebentaria com a alma de uma só vez. Entre as músicas ia falando connosco no inglês que os nigerianos falam entre eles e que nem sempre é fácil de entender. Entendi, no entanto, quase tudo e deixei-me levar pela inteligência e mordacidade daquele homem que não tinha quaisquer pudores em criticar o governo e o povo comum, numa mistura de activista com humorista, interpretando sempre com excelências as pessoas com quem gozava ou os sentimentos que lhe ocorriam.
                 
Como alguém que gosta de música de várias gerações, acontece-me várias vezes pensar em tempos idos e imaginar como seria ter estado ali a ver aquelas bandas. Ver os primeiros concertos de Bruce Springsteen em bares de New Jersey, estar em Chicago e ver performances de Dizzie Gillespie num bar fumarento a beber um whiskey, em Los Angeles a ver os The Doors. Dantes as cenas eram mais puras. Agora é tudo muito etéreo. Adoro concertos, e continuarei a acompanhar estas pessoas que me inspiram e me fazem ser mais eu. Mas hoje há muito mais consciência por parte dos artistas acerca de como fazer as coisas da melhor das formas para durar o máximo de tempo possível, maximizar os lucros e fazer com que as coisas corram conforme previsto. Iá, não são todos, mas às vezes sinto que a música vai perdendo um pouco da sua alma na generalidade. Há tretas que são feitas de propósito para um gajo curtir. E um gajo curte! Há cenas que são feitas de régua e esquadro para se adaptarem exactamente a este ou àquele segmento e com estas merdas todas toda a gente ouve mais música mas cada vez menos ouvem a música. Entre num ouvido, sai pelo outro, sem passar pelo coração, porque quando foi feita também não passou por aí.
                 
Pois quando eu estava ali sentado, lançado com a sobriedade num bolso roto, a olhar para aquelas miúdas a mexer-se de maneiras que não sabia ser possíveis ao som de um gajo que era filho do Fela mas que tinha todo o seu próprio direito pela maneira como se expressava com um sorriso do tamanho do Níger, senti que, naquele momento, eu estava ali. Eu estava naquele tempo que eu curtia ter vivido mas que não vivi por ter sido há muito tempo. Senti que aquele meu presente ia ser, sem dúvida, um tempo diferente, a ser recordado. “Hei, lembras-te dos primeiros anos da Shrine?”, imaginava o pessoal a comentar, em 2034, quando esse espaço tinha sido já comprado por uma rede qualquer de discotecas e agora todo o som que tinha vinha de mp3 ou outra cena qualquer inventada na altura. Ali havia almas penduradas nas paredes que viviam um pouco mais quando o ar tremia com a vibração de toda a brutalidade que vinha do palco. Eu estava ali, naquele presente.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Entrada na Nigéria



                Que loucura de entrada na Nigéria! A entrada na Guiné foi espetacular e teve grandes momentos, alguns negativos pelo esforço físico a que fui sujeito, mas positivos por todo o resultado. A entrada na Nigéria... bem, nem sei que dizer.
                No meu último dia no Benim a minha ideia era ir cento e vinte quilómetros para Norte, até Ketou. No dia seguinte faria cem quilómetros até Abeokuta, já na Nigéria e, finalmente, no dia seguinte faria cem quilómetros para chegar a Lagos. Tudo isto porque queria evitar a fronteira da costa. “É infernal”, alguém me disse. Caso contrário poderia estar em Lagos num dia.
Pedalei com algum esforço, sentindo a falta do pedal por quinze dias e, passado sessenta e seis quilómetros, depois de passar a simpática vila de Pobé vi, à saída, uma placa a dizer “Nigéria”. Não sabia que existia ali uma fronteira. Confirmei com os guardas e sentei-me no chão, a pensar. Sabia que a fronteira de Ketou era tranquila. Mas aquela fronteira ali poderia salvar-me um dia. Axantrava para o resto do dia e, no dia seguinte, poderia estar em Lagos. Ao meu lado estavam uns putos a fazer conversa enquanto tocavam na bicicleta.
- Achas que posso meter a minha tenda fora de tua casa? – perguntei, ao mais velho.
- Hum... tens ali a polícia... podes passar a noite com eles – respondeu. Levantei-me e pedalei duzentos metros para falar com os guardas que estavam sentados numa cabana de bambu. Estes mandaram-me de volta a Pobé, dizendo para ir ter à esquadra que, certamente, eles poderiam albergar-me. Pedalei quinze minutos e cheguei à esquadra. Eram dois edifícios, um rectangular e outro redondo. Bati na porta aberta do redondo e entrei, vendo uma senhora a uma secretária e um homem a dormir numa cama. Expliquei-lhes a minha situação e ela mandou-me ir falar com alguém no outro edifício. Lá fui, falei com um guarda, e ele foi chamar outro, este mais velho. Voltei a dizer-lhe o que estava a fazer, e que não tinha muito dinheiro para um hotel e ele disse que não me podiam albergar, e que devia ir falar com o pessoal da Casa do Povo. Ainda era cedo, por isso perguntei por um cyber e estive uma hora na net à procura do trajecto do dia seguinte. Entretanto apareceram os putos com quem falara previamente.
- Viemos aqui para te levar à esquadra.
- Já lá fui. Eles disseram para ir à Casa do Povo. Isso é onde?
- É aqui a Casa do Povo – respondeu o Chris, o méne que trabalhava no cyber.
- Ah! Então, bem... – e lá expliquei de novo. O Chris levantou-se e guiou-me a uma sala contígua à sala do cyber onde estava o presidente da câmara a assinar uns papéis com dois homens. Estivemos ali meia hora. Não sei bem se não me percebiam, ou se era eu que não os percebia. Ou ambas as situações. Cheguei a dizer que poderia dormir mesmo ali, no chão da biblioteca da Casa do Povo, mas se assim fosse só poderia bazar às dez, quando abríssem.
- Ficas comigo! – disse o Chris, a dada altura – Podes esperar até às nove da noite, quando saio do  trabalho?
- Claro, claro! – respondi, com um sorriso. Fiquei na net até às nove e quando ia pagar ele disse que agora já éramos irmãos, não precisava de pagar. Queria, pelo menos, pagar-lhe o jantar, mas quando saímos fomos directos a sua casa, eu seguindo a sua mota com a Mónica.
                Quando chegámos vi o cenário mais ou menos habitual. Duas ou três casas e um pátio onde o pessoal cozinha, dá banho aos filhos, descasca cenas ou simplesmente conversa. Abriu uma sala vazia com uma secretária com um computador no meio e disse que ficaria ali. Apareceu depois com um balde de água e disse que podia tomar banho, se quisesse. De banho tomado, convidou-me para sua casa, onde jantámos com a sua recente namorada, que tinha vindo do Norte do Benim para viver com ele. Era um rapaz da minha idade, alto, bigode fino, vesgo de vez em quando e boa onda.
No dia seguinte tomámos o pequeno-almoço juntos num cafezito na rua principal, fomos reparar o meu pneu da frente a um amigo seu e parti.

Os dez quilómetros até à fronteira foram difíceis mas sem custa muito. Quando sabemos que são só dez quilómetros não custa. É pior quando sabemos que são trinta, e ainda pior quando não fazemos a mínima ideia. Cheguei à fronteira e encontrei o presidente da câmara, com que tinha falado no dia anterior. Ele apontou para o casebre onde deveria ir mostrar o meu passaporte mas, vendo a bandeira da Nigéria, perguntei se já tinha passado a fronteira do Benim. Já a tinha passado há três ou quatro quilómetros! Voltei para trás, levei o carimbo, e voltei à fronteira nigeriano, dirigindo-me ao casebre. No alpendre podia ver uma secretária, com um homem esguio sentado atrás da mesma. De cada um dos seus lados dois homens, um com pinta de actor e uma tatuagem grande no braço esquerdo, o outro mais gordo com cara de antipático que se conquista facilmente. Estava um chisco apreensivo por ouvir tanto sobre corrupção na Nigéria, mas acabou por ser na boa. Entrei em agradável paleio com eles e quase parecia que éramos amigos. Pedi-lhes para carimbarem o meu passaporte sem usarem nunhuma página virgem e o méne foi tão cuidadoso com isto que meteu o carimbo num canto que, posteriormente, quase ninguém conseguia encontrar sem eu lhes dizer onde estava. Meteu-me foi só dez dias de estadia no país.
- Não, não... eu tenho direito a duas semanas, mas é a partir do momento em que entro no país. Não é a partir do momento em que me dão o visto. Porque eu tenho um mês para entrar no país e depois duas semanas a partir daí – disse. Se eles só me dessem duas semanas estava tramado.
- Ah, sim, sim... – respondeu. Voltou a olhar para o passaporte, fez qualquer coisa e entregou-me. Por sorte, ou por não ter confiado verdadeiramente no seu “Ah, sim, sim”, voltei a espreitar antes de bazar. Não tinha feito nada!
- Repara, aqui diz que posso entrar no espaço de um mês. Se fossem duas semanas a partir da data em que me davam o visto, não faria sentido – voltei a dizer. O homem levantou-se, falou com o chefe, adulturou a data para o dezoito de Setembro, rubicou por cima e deu-me o passaporte.
Depois de tirarmos umas fotografias, fiz-me ao caminho. De início apareciam várias gasolineiras para os benineses virem buscar gasolina para contrabandearem e algumas vilas em que parecia que estava toda a gente à espera, numa delas um pneu de camião a arder para dar aquele ar pseudo-nigeriano que um gajo imagina. Começaram a aparecer os primeiros bloqueios de estrada com polícias com tacos de golfe que aguentavam na diagonal no meio da estrada para os carros pararem, mas ia-me safando. Até que me mandaram parar. Segui sempre, os ménes, do lado esquerdo, gritaram. Ainda pensei em seguir sempre, mas parei. Era um grupo de cinco polícias, todos sentados, na boa, a perguntarem-me de onde era e o que estava a fazer, sem se levantarem. Eu respondi, em pé, em cima da bicicleta, no meio da estrada, e um deles perguntou-me se eu tinha um livre-trânsito. “Aqui vamos nós”; pensei. Fingi que não ouvi e, para desviar a conversa, perguntei onde poderia comprar um cartão sim para o telemóvel. Ao mesmo tempo que perguntava um polícia segredava qualquer coisa ao ouvido do méne que tinha pedido o livre-trânsito, provavelmente algo como “Caga que este careta tem cara de pobre”.
Entretando cheguei à primeira cidade. Comprei um cartão sim para o telemóvel e perdi aqui meia hora. Não sei se é por causa de medo de terrorismo, mas é preciso um gajo registar-se. Sentei-me com um rapaz em frente a um computador e dei os meus dados todos. Até a minha fotografia tirou. Perguntei-lhes a direcção para Lagos e os gajos mandaram-me seguir em frente. Tinha uma sensação que era à direta, mas fui com o que disseram. Devia ter estranhado quando me disseram que lagos era a cinco quilómetros! Incrível a falta de noção de distância por estes lados. Incrível, mesmo! Fiz-me à estrada novamente e avisei a minha anfitrião que, afinal de contas, talvez chegasse nesse mesmo dia, se não fosse parado pela polícia muitas vezes. Não fazia a mínima ideia do que me esperava. Passei p’rai por cinquenta ou sessenta bloqueios e fui parado oito vezes nus trinta quilómetros. Era impossível saber em quantos porque, ao sair de Porto-Novo, dei pela falta do meu conta-quilómetros. Perguntei aos putos que viviam no prédio do Damien e da Myriam se o tinha encontrado e disseram que não, ficando eu com a sensação de que mentiam. Nesta viagem na Nigéria apercebi-me da falta que faz, porque é foda não saber quanto fizemos e quanto falta.
Num dos bloqueios a cena era surreal. No espaço de um quilómetro havia aí umas quinze barracas! Suponho que uns mandassem parar uns e, enquanto se ocupavam destes, as barracas mais à frente apanhavam os outros, como se estivessem à pesca. Quando tinha oportunidade referia que ia ficar em casa de uma amiga em Lagos, porque não tinha muito dinheiro para hotéis, assim os gajos ficavam com essa da falta de guito na cabeça. Neste bloqueio o guarda perguntou-se se tinha permissão para andar ali. Não tinha, nem havia tal coisa, mas disse que sim. Se ele me fizesse mostrá-la fazia-me de desentendido e mostrava-lhe o visto. Mas nem o passaporte cheguei a mostrar. Parei quase meia hora em dois bloqueios mais à frente, tirando tudo o que tinha de todas as minhas malas, sob o olhar atento de um polícia com uma garrafa de bagaço na mão. Noutros mostrei só o passaporte e disse que não, não tinha trazido nenhuns “dólares portugueses” e num ou noutro o mais importante era os guardas tirarem foto comigo para pôr no facebook.
Mas, todas estas situações deixaram-me de rastos. De cada vez que parava tinha de reagir sempre na boa, sempre simpático, e quando encontrava um daqueles que é má onda por natureza este esforço era ainda mais desgastante. Estava sempre à espera que me encostassem à parede a pedir dinheiro e, como sabia que não cederia logo à primeira, antecipava situações desagradáveis. E... iá... além disto, detesto o desplante dos ménes que pensam que um uniforme lhes dá o direito a estarem bêbedos com armas ao ombro a pedir dinheiro aos outros porque é assim que os outros fazem. Eu sabia que aquela bola de calor no peito era psicológica mas, apesar disto, não conseguia simplesmente fazer o que faço sempre, pensar “Que se foda, ‘tá-se bem” e seguir em frente. Naquele momento, aquele ardor, aquela adrenalina, era física, e não conseguia domá-la. Além disto comecei a ficar extremamente cansado, sentindo-me como um burro com um cenoura à frente. Ia percebendo que não ia chegar a Lagos, e não tinah bateria no telemóvel para avisar a Ema, em Lagos. Lá me lembrei de ver se, após meses, podia usar o telemóvel português. “Tem de haver uma solução para isto”, pensava. Acho que, quase sempre, há uma situação inteligente para resolvermos os nossos problemas. Acredito piamente nisto. A cena é que nem sempre a encontrámos. Mas todos nós já estivemos numa situação em que parecia que não havia escapatória absolutamente nenhuma e depois nos lembrámos de algo inteligente.
Pois, estava eu em XXX e lembrei-me de tentar o telemóvel português, que nãu usava há meio ano, e enviar mensagem à Valentina, em Vale de Cambra. Dei-lhe os meus dados e pedi-lhe para ir à minha conta no couchsurfing e ver a morada e número da Ema. Pedi-lhe também para ver os quilómetros que me separavam de Lagos. Ela assim o fez, respondeu, e pude contactar a minha anfitriã. Disse também que me faltavam... 50 quilómetros! Não ia dar. Momentos antes tinha parado num bloqueio de estrada para pedir água. Perguntei quantos quilómetros faltavam para Lagos e eles disseram 30. Fiz as contas e chegaria a Lagos lá p’rás seis e meia. Era arriscado. Anoiteceria pouco depois dessa hora, e não gostava de chegar a cidades depois do pôr-do-sol. Especialmente numa grande cidade nigeriana, país com uma reputação nem sempre boa. Mas quando vi que eram 50 comecei a procurar uma solução. Ainda equacionei apanhar boleia de um parente que ia para Lagos e depois voltar no dia seguinte e fazer o resto a pedal, mas já tinha feito isso antes e era sempre uma embrulhada tremenda.
Andei uns quilómetros e vi, do outro lado da estrada, um mercado com centenas de vacas e várias pessoas sentadas debaixo de uma barraquita. Atravessei a estrada, entrei no mercado debaixo do olhar atento de toda a gente, e abordei o primeiro rapaz que vi. Expliquei de onde vinha e o que estava a fazer e disse que não tinha dinheiro para um hotel, perguntando se não sabia de alguém que me pudesse albergar. Disse-me para ir falar com o chefe. Passei entre as vacas e encontrei o homem sentado com outros velhotes, de túnica castanha tipicamente muçulmana, um chapelinho branco e barba. O rapaz traduziu-lhe o que disse e o homem disse, peremptoriamente, que não me podia ajudar. Voltei à estrada, pedalei mais uns minutos, e vi uma casa à minha direita, onde uma senhora cortava erva. A mesma cena... perguntei-lhe se podia acampar fora de casa dela, ela riu-se e mandou-me falar com um homem mais abaixo. Apareceu um homem dos seus quarenta, baixito, bêbebo e que falava como se fosse um crime ser ouvido. De início pareceu-me que me tinha aceitado. Segui-o em direcção a uma casa maior, apontou para mas malas da bicicleta, para as tirar, e apontou para a bicicleta e para a casa. Peguei nela, subi as escadas, e entrei. Nisto apareceu outro parente, este completamente bêbedo, que me ofereceria uma meia hora bastante frustrante. Primeiro dizia que a decisão não era dele. Depois disse que eu podia lá dormir se pagasse. Depois dizia que não me podia ajudar. Perguntou-me seis ou sete vezes se eu sabia o que se estava a passar no país, perguntou-me cinco ou seis vezes de onde eu era, o que estava ali a fazer, e de que é que precisava. Eu já estava a ficar desesperado e só o queria mandar à merda. Não por não me deixar ficar lá, isso era o seu direito que eu, apesar de mal habituado e um pouco frustrado, percebia. Mas toda aquela repetição, toda a hesitação e o facto de às vezes me dar esperança que ia poder estender-me ali e depois a seguir perguntar-me se eu sabia o que é que se estava a passar no país.
- Sim, senhor, sei, mas acho que não devia ser por alguém, algures, estar a fazer coisas más, que nós devíamos fechar as nossas portas para o resto do mundo. Mas okay, olhe, eu estou aqui a perder o meu tempo, vou-me embora! – disse, já com a bicicleta cá fora, enquanto montava os alforges.
- Eu quero ajudar-te... – disse o gajo, com dificuldade em aguentar-se em pé – Vai à mesquita.
- Sim, okay, obrigado pela ajuda – disse, secamente, e parti. Passei pela bomba de gasolina, não podia ficar lá, passei por uma serralharia com cinco ou seis pessoas, também não me podia albergar. Estes ainda perguntaram se eu era muçulmano. Quando disse que era de um país cristão disseram-me que não havia igrejas por ali. Continuei a andar e o sol ia desaparecendo. Tinha um pacote de massa e um punhado de sal que tinha comprado à senhora que me deixara acampar no seu pátio, no Benim, mas não tinha água para cozinhar. Ou beber. Começava a contemplar simplesmente esconder-me num sítio qualquer e acampar, passando a noite sem comer ou beber, o que ia ser muito difícil, sendo que poucas vezes nesta viagem me tinha sentido tão sequioso.
Enveredei por mais um caminhito onde os eventos teriam uma reviravolta. Falei com uma senhora que estava sentada fora de sua casa e esta disse, peremporiamente “Nem pensar!”. E com este “Nem pensar!” eu concluí que, ou estava a ter muito azar, ou a Nigéria era mesmo diferente... Contornei a casa. Havia um quintal nas traseiras e outra casa do outro lado. Lá vi um senhor a fumar um cigarro sentado num muro fora da porta.
- Desculpe, senhor. Estava a caminho de Lagos, de bicicleta, mas estou muito cansado e já não vou conseguir lá chegar hoje. Não tenho dinheiro para um hotel, mas tenho uma tenda. Será que se importava que eu montasse a minha tenda aqui fora de sua casa?
- Eu não me importo. Mas não sou eu que mando. Tens de perguntar ao chefe. Ele já vem. Ele deve dizer que sim, não te preocupes – respondeu. Eu questionava-me se deveria de arriscar que anoitecesse e esperar ou arriscar perder aquela hipótese e ir embora à procura de outros pousos, mas o velhote apareceu de imediato. Disse-lhe o mesmo, e quando hesitou e me começou a falar no Boko Haram fui buscar o meu passaporte e mostrei-lho. “Está a ver, Portugal, Europa!”, disse, apontando para o nome do nosso país. O homem disse que não se importava, mas eu tinha de ir perguntar ao rei. Okay, dois em três já estavam, só faltava o homem final. Como entretanto já se tinha reunido um pequeno grupo ali à nossa volta, dois deles foram encarregues de me levar ao líder. Descemos a estrada de terra, atravessámos a via rápida, voltámos às estradas de terra, passámos algumas casas e, num alpendre, do outro lado de uma grade vi o rei, vestido da mesma forma que muitos outros, com uma túnica de seda ou cetim até aos pés, desta feita roxa. Aproximámo-nos e vi os dois rapazes que estavam comigo a baixaram-se, agarrando o tornozelo direito com ambas as mãos, uma espécie de vénia que nunca tinha visto. Segui-lhes o exemplo. Segui o mesmo paleio que tivera com o chefe, entreguei-lhe o passaporte, e ele lá disse que não tinha problemas com a minha estadia. Entregou-me o documento e quando estendo a mão para o receber ele diz, severamente, “Não, nós não fazemos isso aqui!”. Desculpei-me, troquei a mão esquerda pela direita e com esta peguei no passaporte. O tabu da mão esquerda.
Fixe. Tinha custado, mas tinha, finalmente, um sítio para dormir! Ou será que tinha?
Quando regressei o senhor estava no mesmo sítio, a fumar outro cigarro. Tinha reparado que a sua vizinha vendia água e fui comprar quatro litros. Quando voltei tirei a tenda da bicicleta e explorava as minhas possibilidades.
- Posso metê-la ali?
- Podes. Mas ali está sujo. Mete noutro sítio qualquer – respondeu. Estava a olhar para um pedacito de terreno entre as duas casas quando chegou um grupito de malta. Um deles, com uma t-shirt amarela fluorescente, chamou-me. Aproximei-me e ele disse-me que eu não podia dormir ali. “Ai cum caralho!”, pensei.
- Porquê?
- Porque não é seguro! – respondeu.
- Não, não há problema, não se preocupe. Eu falei com o chefe, com o rei, eles aceitaram, disseram que não há problema – respondi. O homem, que parecia ser um tipo de porta-voz daquele grupo, insistia. Não era seguro, tinha de ir à polícia que eles podiam albergar-me. A cena começava a esquentar um bocado, e eu ia tentando manter a calma. Estava cansado e só queria montar a minha tendinha, cozinhar a minha massa com sal e estender-me. E aqueles caralhos agora tinham resolvido que não podia dormir num sítio que nem sequer era deles! – Ouça, eu tive o cuidado e o respeito de seguir os canais apropriados... falei com quem vive nesta casa, ele disse que não havia problema. Falei com o chefe, disse que não havia problema. Falei com o rei e ele também disse que não havia problema. E agora você está a querer dar-me problemas?
- Falaste com o rei? Como é que eu sei disso? – perguntou, enervado.
- Este rapaz veio comigo e pode confirmar – respondi, calmamente.
- Mas o rei não tem o direito de dizer se tu podes dormir aqui ou não!
- Bem, não me leve a mal, mas você também não – respondi.
- Mas eu falo pela comunidade! – atirou, já a chegar a um nível má onda.
- Bem, você está a começar a ficar demasiado zangado... não vou continuar esta conversa – respondi. Ouve uma pausa com os gajos a falarem entre eles e o porta-voz volta à carga.
- Ouve... eu sei como é que vocês no teu país lidam com pretos! – aqui passei-me um bocado.
- Você não sabe um caralho como é que eu me dou com pretos! – lancei, irritado, com um dedo no ar – Não me venha p’ráqui falar de racismos!
- Ninguém falou em racismo. Se algum nigeriano aparecer à tua porta que é que tu fazes?
- Abro-lhe os braços!

A conversa deu algumas voltas. Queriam que eu fosse para a esquadra e dormir lá mas eu não queria e achavam isto suspeito. Expliquei que receava que me pedissem dinheiro e quando me perguntavam porque é que eu dizia isso eu dizia que era o que tinha acontecido nesse mesmo dia. Deu-me a ideia que dois ou três é que estavam a manipular aquela trupe que, noutras circunstâncias, limitariam-se a ver o branco estranho a montar a sua tenda. Eu próprio, noutras circunstâncias, sabendo que não estava a fazer nada de mal, marimbar-me-ia para eles todos e montava a minha tenda e estava feito. Mas aquilo estava a começar a dar estrondo e não estava a curtir. Apesar de sentir que tinha razão, sentia-me meio foleiro por vir do nada e estar a ser a causa de revolta entre aquela gente. Não pagar para dormir dá-nos estórias e bons momentos, é verdade, mas é má onda se começa a proporcionar momentos menos bons a outras pessoas. Pelo que, voltei à bicicleta, recomecei a montar as cenas, e estava pronto para partir. O pessoal foi acalmando e vinham com o mesmo de “Só te queremos ajudar”.
- Se realmente me querem ajudar, será que não há ninguém nesta gente toda que não tenha um pedaço de chão onde eu possa passar a noite? – perguntei.
- Podes ficar comigo – disse um deles, um jovem alto vestido à italiana, com uma t-shirt justa e umas calças de ganga com um cinto preto. Tudo bem. Disse-me para seguir o seu carro. Entreguei-lhe o meu saco de plástico com as águas, pedindo-lhe para as levar, e ainda ouvi alguém, preocupado, a perguntar-lhe o que era. Andámos quinze minutos e quando parámos, para minha surpresa, vi a esquadra da polícia.
- Não tinhas dito que me podias albergar? – perguntei, confuso. O sol já se tinha posto há algum tempo e a noite não fazia cerimónias.
- Aqui é melhor – respondeu. Enganou-me. Fiquei um bocado triste com aquilo.
- Sabes porque é que eu gosto de África? Ou porque é que tenho vindo a gostar, tirando o dia de hoje? Porque as pessoas não têm merdas? As pessoas querem ajudar e ajudam. As pessoas estão contentes de poderem abrir a sua casa e os seus corações! Mas aqui, vocês parece que têm medo de todos os lados. Quero acampar, têm medo que alguém apareça e faça qualquer coisa. Peço para me albegarem e têm medo que eu seja um Boko Haram! Méne! Esse medo cega-vos e deixa-vos incapazes de poder ajudar alguém que precisa... que é mais ou menos como nós somos, lá no Ocidente...

Ele tinha falado com um méne, que depois foi falar com a polícia, que depois me veio ver, tinha eu encostado a Mónica a uma parede debaixo de uma telhado de zinco. Apareceram dois polícias com um foco, um mais forte, outro mais franzino.
- Fica aí! Não te aproximes! – gritou o mais forte, quando me tentei aproximar para os cumprimentar. Entranhei, e só mais tarde é que percebi que o seu receio era que eu explodisse! – Que é que trazes contigo?
- Bem... tenho a minha bicicleta... e as minhas malas...
- Mostra-me tudo!
E passei a próxima meia hora a retirar tudo dos meus alforges para o gajo ter a certeza que não trazia nunhuma bomba. À medida que o ia fazendo fui-me apercebendo de que era a primeira vez na minha VIDA em que me sentia realmente discriminado! Pensava naqueles muçulmanos que, por usarem barba e as suas vestes tradicionais, eram escolhidos “aleatoriamente” para buscas nos aeroportos, pensava no Sofian, meu anfitrião em Agadir, a pedalar na sua bicicleta a caminho da mesquita vestido com a djellaba e a ser parado, sem mais nem menos. O que eu estava a passar naquele dia era apenas uma pequena amostra do que muitas pessoas passam todos os dias.
Quando finalmente acabei de mostrar tudo o que tinha ao polícia, ele suavizou um bocado. Com o meu passaporte na mão, disse para o seguir. “Por mim podes ficar, mas temos de ir perguntar ao chefe”, disse. Deixámos o polícia franzino com a bicicleta, passámos por uma porta e entrámos num jardim tão grande que mais parecia um parque. Tanto, tanto espaço, para a minha tendinha...
Atravessámos o jardim, com uma árvore no meio, e entrámos na esquadra. Tinha um balcão e alguns polícias sentados do outro lado, um deles atrás de uma secretária. O polícia que vinha comigo disse-me para esperar do lado de cá do balcão e foi falar com o chefe. “Formalidades”; pensei, enquanto me questionava se dormiria numa cela ou se montaria a tenda no jardim.
- O chefe diz que nós não temos autoridade para te deixar dormir aqui. Não podemos permitir – disse-me, para meu completo desagrado. Estávamos já cá fora. Eram nove da noite.
- E agora? Que é que eu faço?
- Bem... ele disse para tu ires até à próxima esquadra. Lá eles podem aceitar-te.
- E isso é onde?
- Deves demorar p’rai uma hora a chegar lá – Uma hora? Uma hora àquela hora? Estava tramado. Parecia que estava destinado a não encontrar um pouso aquela noite e andar toda a VIDA à espera de um sítio para encostar a cabeça – Ou então... podes deixar-me pagar-te um quarto de hotel – disse, para minha surpresa, apontando com o queixo para um hotel do outro lado da estrada.
- Não, isso não...
- Porquê?
- Porque não é justo para si. É que eu tenho dinheiro. Não o tenho é aqui... – respondi, enquanto se aproximava outro guarda, vestido à paisana, com uma kalashnikov pendurada no braço. O meu amigo explicou-lhe o que se passava.
- A esta hora... é muito longe... – respondeu, afastando a hipótese da outra esquadra. Trocaram algumas palavras em confidência.
- Fazemos assim... – disse-me o meu amigo – O chefe sai de serviço às onze da noite. Tu escondes-te lá fora e quando ele for embora eu vou-te buscar. Pode ser?
- Pode! – respondi, contente por ter uma solução que me parecia mais palpável. Saímos da esquadra, montei as minhas cenas na bicicleta novamente, e caminhámos cinquenta metros, passando por várias lojas fechadas, umas com grades por fora.
- Mete-te ali – disse, apontando para a entrada de uma loja mais ou menos a meio do edifício, coberta por um telhado de chapa que ia de uma ponta à outra – Depois venho-te buscar – e bazou. Encostei a bicicleta às grades do lado e sentei-me no chão, encostado ao portão de ferro da loja, a pensar na peculiaridade daquilo tudo. À minha frente via carros a passar na via rápida e, por vezes, pessoas passavam no caminho de terra, quatro ou cinco metros à minha frente, sem fazerem a mínima ideia que eu estava ali. Deixei o tempo passar suavemente enquanto ouvia James. “Getting away with it all messed up, that’s called living”. Ia ficando cada vez melhor. Méne, estava na Nigéria! Tinha passado momentos desagradáveis naquele dia, tinha chateado algumas pessoas. Mas não tinha feito nada de mal. Pensava, olhava para dentro, reflectia, e não me sentia culpado acerca de nada. Não sentia que estava a negar cenas para me sentir melhor. Pensava nos outros que se tinham chateado por eu querer acampar ali... eu não os tinha zangado, os gajos é que decidiram abraçar uma responsabilidade que não era deles, e lá o porta-voz é que decidiu começar a espingardar daquela forma. Portanto, que se lixe! E tinha passado, já! Naquele momento, estava já de volta à boa onda das pessoas. Sim, era uma pessoa que, inicialmente, me julgou por terrorista mas isso, também, já era passado. Tinha-me dado uma oportunidade e revelara-se depois quem era por detrás daquela máscara de medo. Estava bem por adorar a imprevisibilidade daquilo tudo. Era impossível ter planeado aquilo... Podia ter feito por ter ido a um banco levantar dinheiro para estar “preparado”, é certo. Mas não fui. Não fui pensando que “é assim que as boas estórias acontecem” mas por estar mal habituado à facilidade em acampar em África ou ser recebido por alguém. E isso não aconteceu... mas aconteceu outra coisa qualquer!
Pouco antes das onze o polícia apareceu, com o seu foco.
- Tudo bem?
- Tudo.
- Se calhar até podes ficar aqui, que dizes? – perguntou. Fiquei mais aliviado, porque nos últimos minutos pensava que ainda ia pôr o méne em apuros por mentir ao chefe.
- Por mim pode ser. É tranquilo?
- Sim, é tranquilo, ninguém te vai atacar.
- Fixe. Já posso cozinhar, então? – tinha-lhe pedido para cozinhar enquanto esperava mas ele tinha dito que era melhor não, para não dar bandeira.
- Quanto tempo?
- Sei lá, dez ou quinze minutos.
- Okay, pode ser. Eu venho ter contigo mais daqui a um bocado – e bazou. Tirei o meu fogão, o pacote de massa e o punhado de sal e saí da entrada da loja, afastando-me uns metros para, caso alguém me visse, não soubesse onde estavam as minhas coisas – Que é que estás a fazer? – perguntou quando regressou, vinte minutos depois?
- Massa.
- Não tens tomate, nem cebola, nem nada?
- Tenho sal! – respondi, com um sorriso, olhando para cima com o saco de plástico na mão. Enquanto a água ia aquecendo íamos conversando e ela ia-me perguntando acerca da minha viagem e da minha VIDA. Onde tinha trabalhado, o que tinha feito, cenas do género.
- Faz-me um favor. Volta para a Inglaterra! Lá é que é bom!
- Mas eu agora quero estar aqui.
- Aqui? Já viste como estás? – disse. Eu pus-me nos seus olhos. Vi um foco a apontar para um branco de barba e cabelo comprido com uns calções estranhos, uma t-shirt amarela toda negra, sentado numa pedra com um fogão à frente onde assentava um tacho com massa e sal.
- Sim, já vi. E estou bem. Muito bem, até.
- Bem? Assim?!
- É verdade. É a minha cena, meu amigo.

Quando acabei de comer comecei a arranjar as coisas. Meti os alforges num canto uns em cima dos outros e amarrei-os à grade da loja do lado. Puxei a bicicleta um pouco mais para o canto e prendi-a com o cadeado à grade. Tirei o meu saco-cama extra, estendi-o no chão, depois o saco-cama normal, e estendi-o também. Enchi a minha almofada de ar e estava pronta a minha cama. Estava a tirar as botas quando apareceu o guarda mais franzino de antes.
- Queres um refrigerante? – perguntou.
- Se tiveres, era bom.
- Eu vou comprar.
- Não, deixa, se não tens não precisas de comprar, obrigado.
- Não, eu vou, já volto.
Apareceu passado cinco minutos com uma Fanta de laranja fresca. Entregou-ma, deu-me as boas noites e bazou, deixando-me a bebê-la sentado na minha cama encostado ao portão. Boa noite.

Foi o mesmo guarda que me veio acordar, às cinco da manhã. O outro já tinha bazado. Despedi-me, agradeci as simpatias e fiz-me à estrada. Pensei que seria mais fácil chegar a Lagos. A verdade é que aqueles cinquenta quilómetros demoraram-me umas três ou quatro horas. Muitas subidas, e muito, muito trânsito. Ao ponto dos meus olhos arderem com o fumo e ao ponto de parar várias vezes! Já tinha apanhado trânsito, mas normalmente dava sempre para me ir enfiando entre os carros. Ali, naquela sucessão de cidades e vilas até chegar a Lagos, várias vezes não havia espaço nem para um gafanhoto!
Mas hei, cheguei a Lagos!